18/05/2024 - Edição 540

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Soldados israelenses ‘pisam, humilham e cospem’ em palestinos, denuncia ONU

Limpeza étnica promovida contra toda a população palestina mostra a crueldade da extrema direita sionista

Publicado em 28/12/2023 10:46 - Jamil Chade (UOL), Ricardo Noblat (Metrópoles) - Edição Semana On

Divulgação Foto: Majdi Fathi/NurPhoto via ZUMA Press

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Um relatório da ONU divulgado hoje (28) denuncia a violência perpetrada pelo governo de Israel na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, após 7 de outubro de 2023.

A região não é controlada pelo Hamas e, ainda assim, passou a ser alvo de ataques por parte de Israel. A ONU pede que “as mortes ilegais e a violência dos colonos contra a população palestina” sejam interrompidas.

“O relatório pede o fim imediato do uso de armas e meios militares durante as operações de aplicação da lei, o fim da detenção arbitrária e dos maus-tratos aos palestinos e o fim das restrições discriminatórias de movimento”, disse a entidade.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU verificou a morte de 300 palestinos de 7 de outubro a 27 de dezembro de 2023 —incluindo 79 crianças— na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, desde os ataques do Hamas e de outros grupos armados palestinos no sul de Israel.

Desses, as Forças de Segurança de Israel mataram pelo menos 291 palestinos, colonos mataram oito e um palestino foi morto pelas Forças de Segurança de Israel ou por colonos.

Antes de 7 de outubro, 200 palestinos já haviam sido mortos na área em 2023 —o maior número em um período de dez meses desde que a ONU começou a manter registros em 2005.

Desde 7 de outubro, quando o Hamas promoveu um ataque que deixou mais de 1.200 mortos, as autoridades israelenses impuseram restrições severas e sistemáticas ao movimento dos palestinos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.

De acordo com a ONU, elas fecharam “quase todas as entradas de vilarejos e cidades palestinas para o acesso de veículos e desconectou cidades e vilas palestinas das estradas principais, fechando portões de estradas e colocando montes de terra ou bloqueios de concreto nas estradas”.

O relatório descreveu um aumento acentuado nos ataques aéreos, bem como nas incursões de veículos blindados e escavadeiras enviadas a campos de refugiados e outras áreas densamente povoadas na Cisjordânia, resultando em mortes, ferimentos e danos extensos a objetos e infraestrutura civis. Essas incursões, que continuam a ocorrer, resultaram na morte de pelo menos 105 palestinos, entre eles 23 crianças.

Segundo a ONU, nos dias 19 e 20 de outubro, durante uma incursão de 30 horas no campo de refugiados de Nur Shams, em Tulkarem, as forças israelenses, usando armamento militar e meios de combate, mataram 14 palestinos, incluindo seis crianças, feriram pelo menos 20 outros e prenderam 10 palestinos.

Cabeças sendo pisadas

“As Forças de Segurança de Israel prenderam mais de 4.700 palestinos, incluindo cerca de 40 jornalistas, na Cisjordânia, inclusive em Jerusalém Oriental”, diz o informe.

“Alguns foram despidos, vendados e mantidos presos por longas horas com algemas e com as pernas amarradas, enquanto os soldados israelenses pisavam em suas cabeças e costas, eram cuspidos, jogados contra paredes, ameaçados, insultados, humilhados e, em alguns casos, submetidos à violência sexual e de gênero”, diz a ONU.

“As prisões são frequentemente conduzidas de forma brutal, acompanhadas de espancamento dos detidos e outros tratamentos desumanos e degradantes. Outros tratamentos desumanos e degradantes em alguns casos, possivelmente equivalentes à tortura”, alerta a ONU.

Segundo o informe, os soldados “submeteram os detidos, por exemplo, a atos de violência, inclusive chutes, tapas, socos e golpes com rifles, socos e golpes com rifles”.

“Em vários casos, as ações israelenses também levantaram preocupações quanto à violência sexual e de gênero, inclusive um detento que foi espancado nos órgãos genitais, nudez forçada de vários detentos, conforme mostrado em vídeos, insultos sexuais contra uma mulher e, inclusive duas grávidas, ameaçadas de estupro, enquanto estavam na prisão”, diz.

Em 31 de outubro, a mídia israelense informou que “dezenas de fotos e videoclipes foram publicados por soldados israelenses retratando a si mesmos abusando, degradando e humilhando palestinos presos na Cisjordânia, incluindo fotos de detidos despidos ou seminus, vendados e algemados, e gritando de dor enquanto eram abusados fisicamente e humilhados”.

Eles teriam sido “obrigados a posar com a bandeira israelense, cantar músicas em hebraico”. Um deles “é visto ajoelhado, com os olhos vendados e com as mãos amarradas atrás das costas, sendo chutado várias vezes no estômago por um soldado, que cuspiu nele e o insultou”.

Ataques de colonos

Outra constatação da ONU é que, desde o dia 7 de outubro, também houve um aumento acentuado nos ataques de colonos, com uma média de seis incidentes por dia, como tiroteios, incêndio de casas e veículos e arrancamento de árvores.

“Em muitos incidentes, os colonos estavam acompanhados pelas forças israelenses, ou eles próprios estavam vestindo uniformes oficiais e portando rifles do exército”, diz o relatório.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU documentou vários incidentes de colonos atacando palestinos que colhiam suas azeitonas, inclusive com armas de fogo, e forçando-os a deixar suas terras, roubando suas colheitas e envenenando ou vandalizando suas oliveiras, privando muitos palestinos de uma fonte vital de renda.

“O uso de meios táticos e armas militares em contextos de aplicação da lei, o uso de força desnecessária ou desproporcional e a aplicação de restrições de movimento amplas, arbitrárias e discriminatórias que afetam os palestinos são extremamente preocupantes”, disse o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk.

“A desumanização dos palestinos que caracteriza muitas das ações dos colonos é muito perturbadora e deve cessar imediatamente. As autoridades israelenses devem censurar e impedir com veemência a violência dos colonos e processar tanto seus instigadores quanto seus perpetradores”, disse o chefe de Direitos Humanos da ONU.

O Alto Comissário pediu que Israel concedesse ao Escritório de Direitos Humanos da ONU acesso ao país, acrescentando que estava pronto para fazer um relatório semelhante sobre os ataques de 7 de outubro.

“As violações documentadas neste relatório repetem o padrão e a natureza das violações relatadas no passado no contexto da ocupação israelense de longa data da Cisjordânia. Entretanto, a intensidade da violência e da repressão é algo que não se via há anos”, acrescentou.

“Peço a Israel que tome medidas imediatas, claras e eficazes para pôr fim à violência dos colonos contra a população palestina, para investigar todos os incidentes de violência por parte dos colonos e das Forças de Segurança de Israel, para garantir a proteção efetiva das comunidades palestinas contra qualquer forma de transferência forçada e para garantir a capacidade das comunidades de pastores deslocadas devido a repetidos ataques de colonos armados de retornar às suas terras”, completou.

Uma guerra que poderá durar meses ou anos

Se depender do governo de Israel que sabe que cairá tão logo as armas silenciem, sua guerra contra o Hamas não terminará tão cedo. Na véspera do Natal, em visita às suas tropas ocupadas em destruir o que resta de Gaza, e que é pouco, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que Israel irá prosseguir até alcançar a “vitória completa” sobre o Hamas:

“Não está perto do fim. Não vamos parar. A guerra continuará até o fim, até que terminemos, nada menos”.

Na terça-feira (26), em fala no Parlamento, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou tratar-se de “uma guerra longa e dura” que poderá durar “meses ou anos”. Uma guerra “em múltiplas frentes”. Segundo ele, Israel está sob ataque em sete teatros: Gaza, Líbano, Síria, Judéia e Samaria [um termo israelita para a Cisjordânia], Iraque, Iêmen e Irã.

A guerra de retaliação de Israel na Faixa de Gaza já se tornou um dos conflitos mais destrutivos do século XXI. Estimativas sugerem que mais de 20.600 pessoas foram mortas, 55.000 feridas e 85% dos habitantes do território palestino forçados a fugir de suas casas; um território de apenas 41 km de cumprimento por 12 km de largura.

Um total de 241 pessoas morreram e 382 ficaram feridas nas últimas 24 horas, informou o Ministério da Saúde de Gaza na tarde de terça-feira. O ministério não faz distinção entre vítimas civis e combatentes, mas calcula que cerca de 70% do número de vítimas seja de mulheres e crianças.O escritório de direitos humanos da ONU disse em um comunicado:

“Estamos seriamente preocupados com o contínuo bombardeio do centro de Gaza pelas forças israelenses, que ceifou a vida de mais de 100 palestinos desde a véspera de Natal”.

Gaza e a Cisjordânia sediam 68 campos de refugiados, a maioria dos quais foram criados para albergar palestinos que fugiram das suas casas após a criação de Israel em 1948. Hoje, estão superlotados. Poucos serviços funcionam, apenas 9 dos 36 hospitais. Um quarto da população de Gaza passa fome, segundo a última estimativa da ONU.

As linhas telefônicas e de internet pareciam ter sido bloqueadas na tarde de terça-feira, com o principal fornecedor de telecomunicações de Gaza, PalTel, a anunciar outra “interrupção completa do serviço”. Tais interrupções são agora frequentes, especialmente antes de operações militares israelenses de grande porte.

Em artigo no jornal israelense Haaretz, o major-general reformado Yitzhak Brik escreveu que a retórica de vitória de Israel está longe de corresponder à verdade:

“O porta-voz das Forças de Defesa de Israel e os analistas militares na televisão apresentam uma imagem falsa da guerra. O número de membros do Hamas mortos no terreno é muito mais baixo, a maior parte da guerra não está sendo travada diretamente, a maioria dos nossos mortos e feridos foram atingidos por bombas e mísseis antitanque”.

Desde já, empresários amigos do atual governo de Israel já se movimentam atrás de contratos milionários para a futura reconstrução de Gaza. Quanto mais a cidade for reduzida a pó, como está sendo, mais cara custará sua reconstrução. Nada de pessoal contra os palestinos, longe disso. Apenas negócios são negócios. O ano novo promete.


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