18/05/2024 - Edição 540

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Personalidades brasileiras se unem para defender Julian Assange

Pai de Assange segue em campanha no Brasil pela liberdade do ativista

Publicado em 29/08/2023 11:03 - Jamil Chade (UOL), Ana Cristina Campos (Abr), Matheus Trunk (Ponte) – Edição Semana On

Divulgação Paulo Pinto - Abr

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Personalidades de diversas áreas do mundo político e dos direitos humanos anunciam o estabelecimento da criação do Comitê pela Liberdade de Julian Assange, que atuará no plano jurídico e na abertura de novos canais diplomáticos de diálogo para pressionar para que o jornalista australiano não seja extraditado aos EUA.

O anúncio ocorre depois de um encontro entre a advogada Stella Assange, mulher de Assange, com um grupo que conta com os ex-ministros Paulo Sérgio Pinheiro, Paulo Vannuchi e Luiz Carlos Bresser-Pereira, além do advogado criminalista e ex-secretário de Justiça e Segurança Pública de São Paulo, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, e de José Luiz Del Roio, ex-senador da Itália e ex-membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, em Estrasburgo, França.

O objetivo do encontro entre Stella e os brasileiros foi o de discutir estratégias que possam impedir o pior desfecho: a remoção forçada de Assange para uma prisão de segurança máxima americana, para cumprir pena que pode chegar a 175 anos, com base em 18 acusações que foram feitas a ele por um tribunal no estado da Virgínia. Assange está preso em Londres desde 2019 e prevalece na Justiça britânica a tese de acatar e executar o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos.

“Temos pela frente a nossa última linha de defesa”, admite Stella, advogada formada pela Universidade de Oxford e que há anos integra o núcleo de defesa jurídica do hoje marido, com quem tem dois filhos.

“Precisamos aumentar a pressão sobre os países, para que se manifestem em relação a este caso que é um escândalo repleto de ilegalidades”, disse.

No Brasil, Stella destaca que o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido importante para recolocar o tema na agenda política internacional.

Durante o encontro, ela lembrou ainda como o marido foi enquadrado na Lei de Espionagem dos Estados Unidos, sendo um jornalista no exercício da profissão, e que, por ser estrangeiro, não contará com a proteção da 1. Emenda da Constituição americana, que protege a liberdade de expressão. “Armaram uma armadilha perfeita para ele”, disse.

O encontro também contou com o jornalista Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks desde 2010. “Qualquer pessoa interessada no devido processo legal deve se interessar pelo destino de Julian Assange”, disse. “Trata-se de um caso de flagrante violação de direitos humanos e de princípios”.

Precedente grave

Para Hrafnssson, o caso abre um “grave precedente” pelo enquadramento de um jornalista em legislação de espionagem. “As revelações do WikiLeaks, feitas em parceria com grandes veículos da imprensa, expuseram abusos cometidos contra milhares civis em guerras, além de outras violações registradas em telegramas diplomáticos. A rigor, o que foi feito talvez tenha sido a maior empreitada jornalística da década”, disse.

O criminalista Mariz de Oliveira destacou que se constrói contra Assange nos Estados Unidos um processo que lembra um tribunal de exceção.

Para Paulo Sérgio Pinheiro, “a hora é de fazer pressão, com a máxima urgência”.

O comitê no Brasil deverá atuar no plano jurídico e no contato com lideranças políticas, especialmente europeias, para que rompam o silêncio em torno do caso. Para Stella e Kristinn, o apoio já declarado do presidente Lula a Julian Assange e a presença internacional do Brasil hoje são fatores decisivos para se tentar reverter a situação.

Julian Assange, fundador do WikiLeaks, foi preso na Inglaterra em 2019 após sete anos asilado na Embaixada do Equador. Ele está em um presídio de segurança máxima. O ativista é acusado pela Justiça norte-americana de 18 crimes, incluindo espionagem, devido à publicação, em 2010, de mais de 700 mil documentos secretos relacionados às guerras no Iraque e no Afeganistão. Caso seja considerado culpado, ele pode pegar até 175 anos de prisão.

Pai de Assange segue em campanha no Brasil pela liberdade do ativista

O pai de Assange, John Shipton, segue a campanha pela liberdade do filho no Brasil. Ele está no país para divulgar o documentário Ithaka – A Luta de Assange (veja abaixo).

Ontem (28) ele deu entrevista no Cine Petra Belas Artes, às 14h, e à noite, às 19h30, houve uma sessão debate com exibição do documentário. No dia 31 de agosto, ele estará em Recife.

Na última sexta-feira (25), ele esteve no Rio de Janeiro para um ato-entrevista na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e também já passou por Brasília.

Na ABI, Shipton disse que o principal desafio para que o filho seja solto é convencer os Estados Unidos a respeitar a Primeira Emenda da própria Constituição, que trata da liberdade de expressão e de imprensa. Ele também reconheceu a importância do apoio dos jornalistas para que o público compreenda melhor o caso. “Sem esse apoio, todos nós ficamos perdidos em ignorância”, disse Shipton.

Shipton agradeceu ao governo brasileiro o apoio a Assange. Em maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em Londres, que a manutenção da prisão do jornalista é “uma vergonha”.

O sacrifício da liberdade

Existe todo um enredo internacional contra um único sujeito. Ele permaneceu anos trancado numa embaixada procurando não ser preso. Mas acabou pagando o preço por sua audácia. Ele afrontou o maior império do mundo. O Pentágono requer Personalidades de diversas áreas do mundo político e dos direitos humanos anunciam o estabelecimento da criação do Comitê pela Liberdade de Julian Assange, que atuará no plano jurídico e na abertura de novos canais diplomáticos de diálogo para pressionar para que o jornalista australiano não seja extraditado aos EUA.

O anúncio ocorre depois de um encontro entre a advogada Stella Assange, mulher de Assange, com um grupo que conta com os ex-ministros Paulo Sérgio Pinheiro, Paulo Vannuchi e Luiz Carlos Bresser-Pereira, além do advogado criminalista e ex-secretário de Justiça e Segurança Pública de São Paulo, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, e de José Luiz Del Roio, ex-senador da Itália e ex-membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, em Estrasburgo, França.

O objetivo do encontro entre Stella e os brasileiros foi o de discutir estratégias que possam impedir o pior desfecho: a remoção forçada de Assange para uma prisão de segurança máxima americana, para cumprir pena que pode chegar a 175 anos, com base em 18 acusações que foram feitas a ele por um tribunal no estado da Virgínia. Assange está preso em Londres desde 2019 e prevalece na Justiça britânica a tese de acatar e executar o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos.

desesperadamente a sua extradição. Autoridades dos Estados Unidos o tratam como um “criminoso costumaz”, acusado de espionagem e crimes contra a pátria. Ele poderá ser condenado a 175 anos numa masmorra de segurança máxima. Seu nome: Julian Assange. Seu crime: falar a verdade. Esse é o tema do curioso documentário Ithaka- A Luta de Assange, do diretor inglês Ben Lawrence, que estreia comercialmente no Brasil na próxima quinta-feira, dia 31 de agosto.

Em 2006, o ativista e jornalista australiano Julian Assange fundou o portal WikiLeaks que divulgou cerca de dez milhões de documentos de espionagem que incriminam os Estados Unidos. Ele teve acesso a registros que comprovam crimes de guerra cometidos pela maior potência do globo na Guerra do Afeganistão e violações de direitos humanos na prisão de Guantánamo, Cuba. Assange também comandou o vazamento de imagens do cruel ataque aéreo realizado pelo Exército Americano a Bagdá, capital do Iraque, em 12 de julho de 2007. Nessa ocasião, dois helicópteros americanos mataram doze civis num ataque impiedoso. Entre as vítimas, estavam dois repórteres da agência internacional Reuters. O WikiLeaks conseguiu imagens exclusivas de todo atentado.

Com tanto pioneirismo, Julian ficou conhecido internacionalmente. O WikiLeaks conquistou 36 prêmios internacionais de jornalismo e seu dono uma referência na militância dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, tornou-se um dos homens mais procurados do mundo pelos Estados Unidos. Em 2012, o jornalista pediu asilo na embaixada do Equador em Londres. Ficou morando ali durante sete anos até que acabou preso pela polícia londrina. Desde então, Assange está detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, localizada em Thamesmead, sul de Londres. É ali que o ativista permanece trancafiado num confinamento solitário em condições absolutamente atrozes.

O longa-metragem parte do ponto de vista do pai de Assange, John Shipton, e da esposa do ativista, a advogada Stella Moris. Eles contam a trajetória do jornalista e sua luta pela liberdade no filme. O início, seu pioneirismo, seu envolvimento com Stella e sua distância dos dois filhos conduzem a narrativa do documentário. Ithaka funciona como uma boa introdução para conhecer melhor todo o itinerário pessoal e profissional de Julian Assange.

A ideia original do documentário foi do produtor Gabriel Shipton, meio-irmão de Julian. Ele procurou o cineasta Ben Lawrence, que acabou entrando de cabeça no projeto. O realizador explicou que o jornalista está pagando um alto preço por suas ideias. “Nesse tempo em que acompanho de perto sua história, percebi um aumento acentuado no apoio a ele e seu trabalho”, destaca Lawrence. “Eu realmente não acho que haja qualquer pessoa de renome que acredite que sua acusação deva continuar”, prossegue o cineasta. “Milhões de pessoas em todo o mundo estão pedindo ativamente por sua libertação.”

Ithaka- A Luta de Assange não economiza o mínimo detalhe do espectador comum. O documentário aborda questões bastante íntimas do ativista. Existe um medo dos próprios parentes que ele cometa alguma autoflagelação. Sua família sofre de um histórico de suicídio e Assange sofreu um diagnóstico de autismo quando criança. Seus dias em Belmarsh não são nada otimistas. O filme explica que o presídio foi projetado de uma maneira que os presos não vejam a luz solar. Outro assunto recorrente no documentário é o medo por parte dos familiares de Assange de que ele se torne uma espécie de mártir da liberdade.

O realizador Ben Lawrence confirmou que não existiu assunto proibido para a produção. Mas o pai de Julian, John Shipton, não respondeu algumas perguntas. “O importante é que essas perguntas foram feitas. Em alguns aspectos, as perguntas que John não respondeu e os sentimentos por trás delas seriam diminuídas por palavras”. Em tempos de fake news, o documentário mostra o quanto os Estados Unidos fazem qualquer negócio para permanecer como a potência hegemônica. Mesmo que para isso tenham que cometer as maiores atrocidades. Julian Assange e seus familiares que o digam.

Ithaka- A Luta de Assange
Direção: Ben Lawrence
Austrália/Inglaterra, 2022
Duração: 106 minutos
Nos cinemas


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