18/05/2024 - Edição 540

Mundo

Israel sente-se à vontade para matar palestinos inocentes em Gaza

Crianças feridas e soterradas, um símbolo desta guerra assimétrica

Publicado em 28/10/2023 11:14 - Ricardo Noblat (Metrópoles), Jamil Chade (UOL), Tiago Pereira (RBA) - Edição Semana On

Divulgação Ahmad Hasaballah/Getty Images

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O governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, decretou a morte dos palestinos civis e inocentes que vivem na Faixa de Gaza com o aumento de bombardeios pesados na madrugada de hoje (28/10), a invasão terrestre de mais uma fatia do enclave e o corte geral das comunicações.

O que acontece ali não é uma guerra, mas um massacre. Não são dois exércitos em luta com o apoio dos seus respectivos povos, mas apenas um que ataca e mata indiscriminadamente a pretexto de punir o grupo radical Hamas, que se esconde em túneis por trás do povo que governa e que diz defender.

A Assembleia Geral da ONU pediu uma trégua humanitária que permita a entrada em Gaza de alimentos, água, remédios e combustíveis. O governo de Israel respondeu que o pedido não será atendido. São 2,3 milhões de palestinos expostos a bombas, a tiros, à fome e à sede, e à escuridão total quando chega a noite.

Os bombardeios já deixaram cerca de 45% de todas as casas da Faixa de Gaza danificadas ou destruídas, segundo um relatório da ONU. Um quinto das padarias apoiadas pela agência da ONU para os refugiados palestinos em Gaza foram bombardeadas. A ONU emitiu avisos de escassez “catastrófica” de alimentos.

As crianças de Gaza feridas embaixo de escombros e nos hospitais tornaram-se um símbolo da guerra. Elas têm sofrido violência sistemática há décadas. Pelo menos 1.434 crianças palestinas foram assassinadas, a maioria nas mãos das forças armadas israelenses, entre 2008 e 31 de agosto último, segundo a ONU.

Outros 1.679 menores sofreram algum tipo de mutilação entre 2019 e 2022. Desde 2000, 13 mil crianças palestinianas foram detidas, interrogadas, julgadas e presas. Muitas tiveram de receber tratamento médico durante sua detenção (1.598 na última década), o que sugere que sofreram alguma forma de maus-tratos.

Esses dados foram apresentados na terça-feira (24/10) à Assembleia Geral da ONU pela relatora especial da ONU para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados da Palestina, a italiana Francesca Albanese. O relatório de Albanese não foi reconhecido pelo governo de Israel, que o desmentiu.

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, afirmou que a ONU “já não tem qualquer legitimidade ou relevância”, e acusou os países que votaram a favor de uma “trégua humanitária” de defender “terroristas nazistas” ao invés de defender Israel:

“Esta resolução ridícula [da ONU] tem a audácia de pedir uma trégua. O objetivo desta resolução de trégua é que Israel deixe de se defender perante o Hamas, para que o Hamas possa incendiar-nos”.

O governo de extrema-direita de Netanyahu está na contramão de quase metade dos israelenses que querem adiar qualquer invasão de Gaza, segundo pesquisa publicada pelo jornal Maariv. Israel prometeu aniquilar o Hamas depois que foi invadido em 7 de outubro, mas não distingue entre combatentes e não combatentes.

Questionados se os militares deveriam escalar a guerra para uma ofensiva terrestre de grandes proporções, 29% dos entrevistados disseram que sim, enquanto 49% disseram que “seria melhor esperar”, e 22% se mostraram indecisos. Em 19 de outubro passado, 65% apoiaram a ofensiva de imediato.

OMS diz que necrotérios estão lotados; governo fala com brasileiros em Gaza

O governo brasileiro conseguiu, neste sábado, informações sobre parte dos 34 brasileiros e seus familiares que estão impossibilitados de sair da Faixa de Gaza. Eles estariam “seguros”, segundo a comunicação recebida pelo Itamaraty.

A embaixada do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, indicou que tentará comprar alimentos e água para o grupo. A estimativa é de que os suprimentos não chegam a cinco ou seis dias. O governo, porém, indicou que continua tentando contato com o grupo de brasileiros que está em Khan Younes, formado por nove crianças, cinco mulheres e dois homens.

Na noite de sexta-feira, um ataque israelense destruiu toda a rede de telefonia e internet de Gaza, deixando o local isolado. Entidades humanitárias reconheceram nesta manhã que perderam o contato com dezenas de seus funcionários.

No caso brasileiro, há apenas um contato com um dos brasileiros que vem informando a embaixada sobre a situação, por uma rede paralela. O restante do grupo estaria sem telefone.

No total, as diplomacias de EUA e Europa estimam que 7 mil estrangeiros aguardam um acordo entre Israel e Egito para que possam sair. Apenas entre americanos seriam cerca de 600 pessoas.

A noite foi considerada por fontes na ONU como a mais intensa até agora nos 22 dias de ataques. A entidade ainda fez um alerta sobre o impacto do corte de comunicações, alertando que hospitais não podem funcionar desta maneira.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou também que está sem contato com sua equipe. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da entidade, afirmou que o “apagão também está impossibilitando que as ambulâncias cheguem aos feridos”. “A evacuação de pacientes não é possível em tais circunstâncias, nem encontrar abrigo seguro”, disse.

“A OMS não tem conseguido se comunicar com sua equipe em Gaza, assim como outras agências. Além disso, a OMS está tentando reunir informações sobre o impacto geral sobre os civis e a assistência médica”, afirmou a agência.

A OMS apelou “à humanidade de todos aqueles que têm o poder de fazê-lo para que acabem com os combates agora, de acordo com a resolução da ONU adotada ontem, pedindo uma trégua humanitária, bem como a libertação imediata e incondicional de todos os civis mantidos em cativeiro”.

Na sexta-feira, a Assembleia Geral da ONU aprovou por ampla maioria uma resolução pedindo uma trégua em Gaza. Israel sinalizou que não iria cumprir.

“Durante uma noite de intenso bombardeio e incursões terrestres em Gaza, com relatos de que as hostilidades ainda continuam, os profissionais de saúde, pacientes e civis foram submetidos a um blecaute total de comunicação e eletricidade”, alertou a OMS.

A entidade reiterou seus apelos por um cessar-fogo humanitário imediato e lembrou a todas as partes envolvidas no conflito que devem tomar todas as precauções para proteger os civis e a infraestrutura civil.

“Isso inclui profissionais de saúde, pacientes, instalações de saúde e ambulâncias, além de civis que estejam se abrigando nessas instalações. Medidas ativas devem ser tomadas para garantir que eles não sejam prejudicados e que seja fornecida uma passagem segura para a movimentação de suprimentos médicos, combustível, água e alimentos desesperadamente necessários para Gaza e através dela”, disse a agência.

Alerta sobre hospitais e necrotérios lotados

De acordo com a OMS, os relatos de bombardeios perto dos hospitais Indonésia e Al Shifa são “gravemente preocupantes”.

“A OMS reitera que é impossível evacuar pacientes sem colocar suas vidas em risco. Os hospitais de Gaza já estão operando em sua capacidade máxima devido aos ferimentos sofridos em semanas de bombardeios incessantes e não conseguem absorver um aumento dramático no número de pacientes, enquanto abrigam milhares de civis”, disse.

Segundo a agência, os profissionais de saúde que permaneceram ao lado de seus pacientes enfrentam a diminuição dos suprimentos, sem lugar para colocar novos pacientes e sem meios para aliviar a dor deles. “Há mais feridos a cada hora. Mas as ambulâncias não conseguem chegar até eles devido ao blecaute nas comunicações. Os necrotérios estão lotados. Mais da metade dos mortos são mulheres e crianças”, disse.

Na sexta-feira, quando os ataques foram iniciados, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo desesperado. “Estamos na hora da verdade. A história está nos julgando”, completou.

Lula: ato do Hamas foi ‘terrorista’, mas reação de Israel é ‘insanidade’

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na sexta-feira (27) a reação desproporcional de Israel aos ataques do Hamas no início do mês. Já são 20 dias de constantes bombardeios à Faixa de Gaza pelas tropas israelenses, que recentemente vem ampliando também as operações por terra. Em café da manhã com jornalistas, Lula afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, quer “acabar” com a Faixa de Gaza. Disse que a posição do Brasil em relação à guerra é “a mais clara possível”. E classificou como “loucura” o direito de veto dos cinco países – Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra – que ocupam assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

“Dissemos que o ato do Hamas foi terrorista. Dissemos em alto e bom som que não é possível fazer um ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma que fizeram, sem medir as consequências”, disse. “Agora temos a insanidade também do primeiro-ministro de Israel, querendo acabar com a Faixa de Gaza, se esquecendo de que lá não tem só soldado do Hamas. Tem mulheres, crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra.”

Por outro lado, Lula reafirmou a posição histórica do Brasil de apenas classificar como terroristas os grupos que a ONU assim definir. “E o Hamas não é reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU como uma organização terrorista. Porque ele disputou eleições da Faixa de Gaza e ganhou”.

Ao mesmo tempo, o presidente criticou o veto dos Estados Unidos à resolução do Brasil que pedia cessar-fogo e a abertura de um corredor humanitário na Faixa de Gaza. “A posição foi vetada por causa dessa loucura que é o direito de veto concedido aos cinco titulares do Conselho de Segurança da ONU. Sou totalmente contra, isso não é democrático”, afirmou Lula. “Alguém tem que falar em paz”.


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Uma resposta para “Israel sente-se à vontade para matar palestinos inocentes em Gaza”

  1. Gabriel Marques Barreto disse:

    Olha sinceramente eu acho bem absurdo tudo que acontece aí. Expor crianças a esse nível de crueldade eh ridículo podre e totalmente voltado ao diabo. Acredito que existirá muita justiça em Deus. Se apeguem nele! Ele vê tudo que está acontecendo. Guerra não devia existir.

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