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Fronteira de Gaza com Egito é fechada e brasileiros ficam retidos: ‘Não é possível definir data para saída’, diz chanceler

Governo de Israel recusou acordo de cessar-fogo que libertaria reféns

Publicado em 10/11/2023 4:03 - Lucas Borges Teixeira e Josias de Souza (UOL), Ricardo Noblat (Metrópoles) – Edição Semana On

Divulgação Frame/Hassan Rabee

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O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou hoje (10) que não é possível estabelecer a data exata da saída de brasileiros da Faixa de Gaza. O grupo com 34 cidadãos já foi autorizado a sair, mas a fronteira está fechada.

Os brasileiros foram incluídos na lista de pessoas que poderão deixar Gaza pelo governo de Israel nesta madrugada, mas a fronteira com o Egito voltou a ser fechada. O motivo é um novo impasse em relação à passagem de ambulâncias. Israel quer garantias de que elas não estejam transportando membros do Hamas.

“A situação em Gaza não me permite dizer se será hoje, amanhã ou quando. […] A passagem é complexa. Há um entendimento entre as partes que primeiro passam ambulâncias com feridos, só depois passam os nacionais. Foi o que aconteceu ontem e hoje”, afirmou Mauro Vieira.

Do lado egípcio da fronteira, uma equipe de diplomatas brasileiros aguarda que as pessoas cruzem a passagem. Eles serão imediatamente embarcados num avião da Presidência que, há semanas, está no Egito esperando para transportar os brasileiros de volta ao país.

O avião do governo brasileiro deve fazer paradas em Roma, Las Palmas (Espanha) e Recife antes de chegar a Brasília. A previsão era que isso acontecesse entre domingo e segunda-feira.

Impasse para saída

Nas últimas semanas, Vieira conversou quatro vezes por telefone com os chanceleres de Israel e Egito para tentar resolver o impasse. O ministro lembrou que havia uma promessa por parte do governo israelense de que eles deixassem a região na última quarta (8), “o que não se confirmou, porque não houve, durante três dias seguidos, abertura para saída de indivíduos de diversas naturalidades”.

“Não puderam passar [hoje] porque o posto de controle não foi aberto. Esperamos que esses nomes sejam autorizados a passar o mais rápido possível. Continuamos trabalhando constantemente com as autoridades dos países envolvidos. O presidente Lula tem sido muito ativo”, afirmou o chanceler.

Segundo Vieira, a lista com os 34 nomes já está com as autoridades dos três países há cerca de 20 dias. Vieira não explicou, no entanto, por que alguns nomes foram liberados e outros, não.

“Passaram alguns nacionais de terceiros países, os brasileiros… a lista já está há duas ou três semanas com os dois lados e Israel, sim, tem uma palavra definitiva em relação a quem sai. Há militares de Israel em Gaza e a abertura é feita, do lado de Gaza, com autorização e participação de Israel”, disse o chanceler.

Parte irá para abrigo no interior de SP

Metade do grupo que chega ao Brasil não tem onde ficar no país. Segundo o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, eles devem ser levados para um abrigo no interior de São Paulo, onde receberão assistência por tempo indeterminado.

Assim que chegarem, repatriados serão atendidos por equipes multidisciplinares. Segundo Botelho, haverá médicos, enfermeiros, assistentes sociais, equipes da Polícia Federal para ajudar com a regularização de documentos, e de agências da ONU (Organização das Nações Unidas), com intérpretes.

O grupo ficará dois dias em alojamento da FAB (Força Aérea Brasileira) em Brasília. Parte deles tem família no país e já tem onde ficar; outra parte será levada para um abrigo no interior de São Paulo. Em entrevista à GloboNews, o secretário não disse em qual cidade, mas afirmou que é um local que tem experiência na recepção de estrangeiros e refugiados.

Saída de brasileiros da Faixa de Gaza vai liberar a língua de Lula

A autorização tardia para a saída dos brasileiros da Faixa de Gaza libertará também a língua de Lula. O grupo do Brasil tenta fugir da zona de guerra. O presidente se aproxima dela. Lula disse em privado que se sentiria “liberado” para tratar como deseja do conflito entre Israel e Hamas depois da repatriação.

Lula avalia que irá contrariar Israel, pois deseja dar continuidade ao esforço por um cessar-fogo, iniciado no mês passado, quando o Brasil exerceu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. Deseja articular fora das Nações Unidas uma estratégia para o pós-guerra.

São pretensiosos os objetivos de Lula. Ele avalia que pode contribuir para que a comunidade internacional não aceite passivamente a uma eventual ocupação de Gaza por Israel na fase posterior à contraofensiva militar. Defende o envolvimento da Autoridade Nacional Palestina na equação.

Lula cogita injetar a guerra na agenda de sua próxima incursão internacional. No início do próximo mês, participará em Doha da COP-28. Em 1º de dezembro, à margem da conferência climática, assumirá a presidência rotativa do G20. Tinha três prioridades: clima, redução da desigualdade e reforma de organismos como o Conselho de Segurança da ONU. Incluiu a guerra na lista.

Antes de retornar ao Brasil Lula fará escalas. Uma delas será em Berlim. Conversará com o chanceler alemão Olaf Scholz. Em setembro, quando esse encontro foi marcado, ardia no noticiário a guerra provocada pela Rússia na Ucrânia. Nesse conflito, Lula perdeu o nexo e o bonde ao igualar o agressor ao agredido. Agora, se esforça para frequentar o debate sobre uma segunda guerra com um discurso mais calibrado.

Governo de Israel recusou acordo de cessar-fogo que libertaria reféns

Nos primeiros dias de guerra, após o 7 de outubro quando seu país foi alvo de ataques do Hamas, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, recusou um acordo de cessar-fogo por cinco dias que permitiria a libertação de reféns mantidos na Faixa de Gaza, informa o jornal britânico “The Guardian”.

Pouco mais de 240 cidadãos de Israel e de outros países foram sequestrados pelo Hamas, que espontaneamente só libertou três deles até agora. Negociações antes da invasão terrestre de Israel a Gaza envolveram um número muito maior de reféns, com o Hamas a propor a libertação de dezenas deles. Deram em nada.

Netanyahu continuou a adotar uma linha dura em propostas que envolvessem pausas humanitárias e cessar-fogo de variadas durações. Desde então, parentes e amigos dos reféns têm promovido atos de protesto em frente à residência do primeiro-ministro e à sede em Tel Aviv das Forças de Defesa de Israel.

Finalmente, sob pressão dos Estados Unidos, o governo de Israel concordou em fazer pausas diárias de quatro horas na guerra em áreas selecionadas do Norte da Faixa de Gaza para facilitar a saída de palestinos para o Sul do enclave. A saída para o Sul dará melhores condições de combate ao exército de Israel.

Não significará, contudo, que no Sul os palestinos estarão seguros. Mais de 600 mil palestinos já se transferiram para o Sul, mas ali são alvos de bombardeios de Israel, passam fome e adoecem devido à falta de remédios. A situação é um pouco melhor do que no Norte, mas de intensa crueldade, segundo a ONU.


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