18/05/2024 - Edição 540

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Empoderado por Biden e seus aliados europeus, Israel barra entrada de funcionários da ONU em Gaza

Com 6,5 mil mortos em Gaza, israelenses rejeitam cessar-fogo humanitário e mantém ataques indiscriminados a civis

Publicado em 25/10/2023 12:50 - Jamil Chade (UOL), RBA, UOL – Edição Semana On

Divulgação Saleh Najm and Anas Sharif/Commons Wikimedia

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Numa decisão que deixou funcionários e diplomatas da ONU indignados, o governo de Israel anunciou que não concederá vistos para os funcionários humanitários da entidade. A medida seria uma resposta à crescente crise entre as Nações Unidas e o governo de Benjamin Netanyahu.

O anúncio ocorre ainda no momento em que o Brasil, como presidente do Conselho de Segurança, convoca para esta quarta-feira a votação de uma resolução americana sobre a situação em Israel e na Faixa de Gaza. Nas últimas horas, por insistência do Itamaraty, o governo de Joe Biden modificou a proposta para incluir um chamado específico para a criação de uma pausa humanitária. Mas o texto continua excluindo a possibilidade de um cessar-fogo, uma exigência de árabes e russos.

Moscou, por sua vez, prometeu apresentar uma nova resolução. Mas sem fazer referência ao direito de defesa de Israel, o texto deve ser vetado pelos EUA. A guerra, assim, tem colocado a ONU e Israel em um confronto declarado e paralisado os trabalhos, enquanto os estoques de alimentos, combustível e água se esgotam em Gaza.

O que aconteceu?

Ontem, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia afirmado em um discurso no Conselho de Segurança que os ataques do Hamas deveriam ser entendidos dentro de um contexto mais amplo e que eles “não ocorreram no vácuo”. A declaração ainda destacou que os palestinos vivem 56 anos de uma “ocupação sufocante”.

Essa não foi a primeira vez que Guterres fez a declaração. Mas o governo de Israel usou a ocasião para dizer que tal comportamento era inaceitável, “imoral” e que pedia a renúncia do chefe da ONU.

Agora, numa entrevista a uma rádio, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, anunciou que seu governo recusou dar visto para o chefe de operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, e que outros representantes serão barrados de entrar no país. O gesto seria uma resposta ao discurso de Guterres, que também denunciou Israel por violações do direito humanitário internacional.

“Diante de sua declaração, vamos recusar vistos para os representantes da ONU”, disse Erdan. “Já recusamos para Martin Griffiths. O tempo chegou para dar uma lição a eles”, insistiu.

O jornalista Jamil Chade (UOL), há duas semanas, revelou que a crise já havia eclodido nos bastidores, numa carta enviada pelo governo de Israel criticando o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk. Os israelenses insistem que o austríaco deveria se concentrar em condenar o Hamas, sem qualquer comentário sobre as operações das forças israelenses na Faixa de Gaza.

Chade também obteve informações de que, nos últimos dias, a diplomacia de Netanyahu tem enviado cartas aos diferentes órgãos da ONU, cobrando uma posição de crítica ao Hamas. As cartas, segundo pessoas que tiveram acesso a eles, soaram como ameaças à instituição.

Relatores da ONU, por sua vez, já declararam a operação de Israel em Gaza como um “crime contra a humanidade” e que existe o “risco de genocídio”.

A crise diplomática se soma à paralisia vivida pela ONU diante da guerra. Com sucessivos vetos e impasses, o Conselho de Segurança tem sido incapaz de dar uma resposta à violência.

Brasil sai em apoio ao chefe da ONU diante de escalada de tensão com Israel

O governo brasileiro demonstrou, nesta quarta-feira, seu apoio ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, diante dos ataques que ele vem sofrendo por parte do governo de Israel.

Nas redes sociais, o Itamaraty afirmou:

Pouco antes da abertura da sessão de hoje do Conselho de Segurança da ONU, o ministro Mauro Vieira expressou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o reconhecimento do governo brasileiro pelo trabalho liderado por ele ao longo da atual crise em Israel e Gaza.

Na terça-feira, Israel pediu a renúncia do chefe da ONU, sob a alegação de que ele teria desrespeitado as vítimas do Hamas. Tel Aviv ainda anunciou que não dará visto a nenhum funcionário da ONU e descreveu a fala do português como “imoral”.

A atitude de Israel foi respondida por uma dezena de países. Governos europeus e de outras partes do mundo emitiram declarações de solidariedade ao secretário-geral.

O próprio Guterres optou por se pronunciar nesta quarta-feira, diante da repercussão do caso na opinião pública de Israel. “Estou chocado com as interpretações erradas feitas sobre minha declaração ao Conselho de Segurança, como se eu estivesse justificando os atos de terror do Hamas”, disse.

“Isso é falso. Foi exatamente o contrário”, garantiu o secretário. Ele lembrou que, em seu discurso, afirmou que condenou “inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro do Hamas em Israel”.

“Nada pode justificar a morte deliberada, os ferimentos e o rapto de civis – ou o lançamento de mísseis contra alvos civis”, disse.

“Na verdade, falei das queixas do povo palestiniano e, ao fazê-lo, também afirmei claramente, e passo a citar: as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas.”, esclareceu.

“Penso que era necessário esclarecer as coisas, nomeadamente por respeito às vítimas e às suas famílias”, completou.

Hospitais e abrigos estão em colapso em Gaza

Além da escassez de combustível, o mau funcionamento dos geradores dificulta as operações dos hospitais. Sua manutenção e reparo são cada vez mais difíceis devido à falta de peças de reposição necessárias.

O ministério da saúde em Gaza solicitou o envio de equipes médicas internacionais, especialmente aquelas com experiência em cuidados cirúrgicos e de trauma. Há necessidade de aumentar a capacidade dos hospitais e aliviar os profissionais de saúde que têm trabalhado incansavelmente nos últimos 17 dias. As 14 equipes estrangeiras de prontidão são impedidas de chegar a Gaza devido ao cerco imposto por Israel.

A situação prejudica também os pacientes com insuficiência renalAté 7 de outubro, a autoridade de saúde operava serviços de diálise renal em seis centros, realizando cerca de 13.000 sessões por mês. Agora, sem combustível e suprimentos médicos essenciais, as sessões de diálise caíram de quatro para 2,5 horas para mais de 1.000 pacientes, incluindo pelo menos 30 crianças.

A estimativa é de que haja 1,4 milhão de deslocados em Gaza, dos quais 590 mil abrigados em 150 abrigos de emergência designados pela agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA). Há preocupação crescente com a superlotação, já que o número médio de deslocados internos por abrigo atingiu mais de 2,5 vezes a capacidade.

Bairros inteiros foram destruídos por Israel

O número de deslocados chegou a 4,4 mil em muitos abrigos, embora tenham sido projetados para receber de 1,5 mil a 2 mil pessoas. Em muitos desses locais, até 70 pessoas são acomodadas em uma sala de aula. Para garantir um ambiente mais seguro, à noite, mulheres e crianças permanecem nas salas de aula, enquanto homens e meninos adolescentes ficam ao ar livre, no pátio da escola. A superlotação e a escassez de suprimentos básicos provocaram tensões entre os deslocados internos, além de relatos de violência de gênero.

Segundo autoridades palestinas, 16 mil unidades habitacionais foram destruídas e outras 11 mil estão condenadas. Há também 142,5 mil que sofreram danos leves a moderados. Esses dados correspondem a pelo menos 43% de todas habitações na Faixa de Gaza, onde bairros inteiros foram destruídos.

Chefes do Hezbollah, Hamas e Jihad se reúnem; Israel ataca Exército sírio

Na madrugada desta quarta-feira (25), as Forças de Defesa israelense atingiram bases militares da Síria. O chefe do Hezbollah se encontrou com líderes de Hamas e da Jihad Islâmica. Tropas do Estado de Israel entram em confronto com palestinos armados na Cisjordânia.

O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, se reuniu em Beirute, no Líbano, com o vice-líder do Hamas, Saleh al-Arouri, e com o chefe da Jihad Islâmica, Ziad Al-Nakhala. A informação foi divulgada pelo canal libanês Al-Manar.

O encontro das facções serviu para avaliar o que se deve fazer para “alcançar uma verdadeira vitória para a resistência” em Gaza, destacou a emissora controlada pelo Hezbollah se referindo a uma aliança dos grupos.

Israel ataca Exército da Síria

“Infraestrutura militar” e locais de lançamento de morteiros do Exército da Síria foram atingidos hoje por caças, depois de foguetes terem sido disparados contra comunidades israelense nas colinas de Golã, diz o comunicado das Forças de Defesa de Israel.

A ação teria matado oito soldados sírios e ferido sete, disse o canal de notícias Al Jazeera.

Pelo menos três pessoas morreram e várias ficaram feridas em ataque aéreo de Israel em Jenin, no norte da Cisjordânia, segundo a agência de notícias Wafa da Autoridade Palestiniana.

Em resposta, a FDI alegou que o ataque teve como alvo palestinos armados que atiravam contra soldados israelenses e atiravam explosivos contra aviões militares. A informação foi divulgada pelo Times of Israel.

O governo de Israel disse também ter realizado dezenas de ataques aéreos na Faixa de Gaza contra túneis do Hamas, centros de comando, locais de armazenamento de armas e locais de lançamento de morteiros e mísseis antitanque.

O grupo extremista Hamas declarou que “mais de 80 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas” nos ataques aéreos israelenses noturnos na Faixa de Gaza.

Bombardeios noturnos em Gaza

O Hamas diz que 80 pessoas morreram e centenas ficaram feridas em ataques de Israel contra a Faixa de Gaza na madrugada de hoje. O grupo chamou o ataque israelense de “massacre”.

Israel confirma que efetuou “bombardeios em larga escala na Faixa de Gaza com base em informações dos serviços de inteligência”.

Na Cisjordânia, um ataque israelense também matou três pessoas e deixou feridos. “Um avião disparou ao menos dois mísseis na direção de um grupo de pessoas perto do campo de refugiados de Jenin”, informou a agência palestina de notícias Wafa.

O Exército israelense informou em um comunicado que efetuava “atividades antiterroristas” na área, mas não relatou vítimas.


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