18/05/2024 - Edição 540

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Crianças já são quase metade dos 17 mil mortos em Gaza, diz OMS

Decola voo com brasileiros, mas dezenas ficam em zona de guerra

Publicado em 11/12/2023 11:13 - Jamil Chade (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Reprodução

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Numa reunião de emergência convocada na OMS no domingo (10), e apoiada pelo Brasil, a agência internacional aponta que quase metade de todas as mortes em Gaza é composta por crianças.

De acordo com os números apresentados pela entidade aos governos, Gaza soma 7,7 mil crianças mortas, de um total de 17 mil vítimas. Ou seja, mais de 45%. Presente na região sob ataque, a OMS usa os dados coletados pelas autoridades locais. No caso de Israel, os ataques do Hamas no dia 7 de outubro deixaram mais de 1.200 mortos.

O encontro foi convocado pelos países árabes, com o apoio do Brasil e China. Ao abrir o debate, o diretor-geral da OMS, Tedros Gebreyesus, insistiu que a situação é “catastrófica” e que já existem sinais preocupantes de uma proliferação de doenças entre os sobreviventes.

Tedros “deplorou” os atos do Hamas em 7 de outubro e diz entender “a raiva e medo” do povo de Israel.

Mas eles também destacou como a situação é intolerável do lado dos palestinos. “Praticamente a população inteira está deslocada. Ninguém está salvo, em nenhum lugar”, alertou.

Quem sobrevive atravessa uma realidade “dramática”

Segundo Tedros, há atualmente um chuveiro para cada 700 pessoas e uma latrina para 150 pessoas.

Ao mesmo tempo, 180 crianças nascem por dia em Gaza, em condições deploráveis. “O risco de epidemias é extremamente alto”, alertou a OMS, apontando como a crise deve piorar nas próximas semanas e diante do inverno que se aproxima.

Tedros ainda avisou aos governos, durante a reunião. “O sistema de saúde está de joelhos”, afirmou. Hoje, menos de um terço dos hospitais estão em operação.

O chefe da OMS ainda criticou o veto dos EUA, quando o Conselho de Segurança da ONU examinou há dois dias uma resolução que pedia um cessar-fogo em Gaza.

Durante a reunião neste domingo, uma resolução apoiada pelo Brasil e governos árabes pedirá que a OMS atue para salvar vidas em Gaza.

Tedros, porém, insistiu que a tarefa que a agência receberá é “quase impossível nas atuais circunstancias” e insistiu sobre a necessidade de um cessar-fogo.

Israel acusa OMS

Durante a reunião, o governo de Israel insistiu que não irá suspender sua operação em Gaza e garantiu que atua dentro do direito internacional, posição que é contestada pela ONU.

Meirav Shahar, a embaixadora de Israel, alertou que aquela era a única reunião da OMS realizada de forma emergencial e que outros conflitos não tiveram o mesmo tratamento. “Será que outras vítimas merecem menos ou existem regras diferentes para Israel?, disse

“Sim, existem outras regras para Israel”, denunciou.

Segundo ela, foi Israel quem “acordou no dia 7 de outubro sob ataques do Hamas”, com sequestros e estupros de milhares. Israel também destaca como 11 mil foguetes já foram disparados contra as cidades do país nos últimos 65 dias. “Essa é a realidade que muitos vão ignorar”, disse.

“Declaramos guerra contra o Hamas. A operação é contra o Hamas e reconhecemos o sofrimento em Gaza. Mas é o Hamas quem é responsável”, disse a embaixadora. “Nós respeitamos as regras da guerra”, insistiu.

Segundo ela, o Hamas usa a população palestina como mártir e alertar para a militarização de hospitais.

“O que a OMS sabia?”, perguntou. Segundo o governo de Israel, a agência “escolheu fechar os olhos” diante do comportamento do Hamas. “Se pararmos agora, o Hamas vai atacar de novo”, concluiu.

O governo americano sinalizou que vai apoiar a resolução. Mas criticou o fato de que os crimes do Hamas não terem sido mencionados.

Brasil: “comunidade internacional não pode ficar parada”

Num discurso durante a reunião, o embaixador do Brasil, Tovar da Silva Nunes, destacou como os dados apresentados revelam uma “catástrofe humanitária e o iminente colapso do sistema de saúde em Gaza”.

“Estamos seriamente preocupados com a perda de mais de 17 mil vidas e com os efeitos desproporcionais do conflito em mulheres e crianças”, disse. O Brasil, segundo ele, também lamenta os mais de 200 ataques a instalações e equipes de saúde e o impacto dos combates nas operações de hospitais e outras instalações de saúde.

“Se nada for feito, pessoas não tratadas morrerão nos próximos dias por falta de acesso a serviços e suprimentos básicos de saúde”, diz Tovar da Silva Nunes, embaixador do Brasil.

Na avaliação do governo brasileiro, a recente retomada das hostilidades piorou uma situação, que já era insustentável. “É necessária uma ação urgente para mudar a situação no local”, disse.

Em seu apelo, o embaixador pediu que todas as partes no conflito “garantam que a população civil seja protegida e tenha acesso oportuno, desimpedido, sustentável e previsível à assistência médica e aos suprimentos de saúde, bem como à ajuda humanitária”.

O governo brasileiro também alertou que todos devem cumprir as regras da guerra. “Pedimos a todas as partes que se abstenham de atacar instalações de saúde. Gostaríamos também de reiterar nosso apelo pela libertação segura e incondicional de todas as pessoas inocentes, incluindo os reféns tomados de Israel”, disse.

O embaixador ainda explicou que a adesão do Brasil à resolução, apelando para o fortalecimento do trabalho realizado pela OMS em Gaza, incluindo a avaliação da situação da saúde e a assistência técnica e material à saúde do povo palestino.

https://youtu.be/A4iq9jffAZ0

Decola voo com brasileiros de Gaza, mas dezenas ficam em zona de guerra

Repleto de crianças, decolou do Cairo, neste domingo, o voo levando o grupo de 47 brasileiros e parentes de brasileiros que estava na Faixa de Gaza e um familiar que estava no Cairo. Trata-se do segundo trajeto organizado pela FAB para resgatar pessoas da zona de conflito. Mas 55 nomes que estavam na lista solicitada pelo Brasil para as autoridades israelenses ficaram ainda em território palestino ocupado.

A previsão de chegada na base área de Brasília é às 3h20 desta segunda-feira.

Embarcaram 27 menores, 16 mulheres (duas idosas) e quatro homens adultos. Entre eles, 11 binacionais brasileiro-palestinos e 36 palestinos.

No Cairo, ainda embarcou uma 48a passageira. Trata-se de uma irmã, brasileira, filha de Marwan Abusaada, que não conseguiu cruzar a fronteira entre Gaza e o Egito. Formada em medicina, ela tem 22 anos de idade.

Segundo o governo, ela havia cruzado a fronteira dias antes com o marido canadense e se juntou aos resgatados que viajam ao Brasil. Ela é filha de uma das integrantes do grupo de repatriados em Gaza.

“Agradeço ao governo do Brasil pelos esforços. Sinceramente, o que a embaixada forneceu não é fornecido por nenhuma no mundo. Que Deus os abençoe e obrigado”, afirmou Marwan Abusaada.

“A esposa dele e duas filhas estão na lista dos evacuados de Gaza neste voo, incluindo a jovem de 22 anos. Ele e outro filho mais velho, de 24 anos, foram vetados pelas autoridades israelenses e aguardam nova chance em Rafah”, explicou o governo brasileiro, em nota.

Desde o início do conflito no Oriente Médio, 1.477 passageiros e 53 animais domésticos foram repatriados em dez voos da Força Aérea Brasileira. Com esses novos 47, serão 1.524.

O 11º voo de repatriação da Operação Voltando em Paz, porém, viaja mais vazio do que se esperava.

Na lista solicitada pelo governo, existiam 102 brasileiros e familiares próximos que desejavam sair de Gaza.

Mas 24 deles tiveram a saída negada, incluindo 7 brasileiro-palestinos. Com isso, alguns familiares dos que não foram autorizados também acabaram desistindo. Dos 78 previstos na lista autorizada, embarcaram 47.

De acordo com diplomatas brasileiros, não houve qualquer tipo de explicação por parte de Israel para rejeitar os nomes solicitados pelo governo. O Itamaraty continuará a fazer gestões para que essas pessoas possam sair de Gaza nos próximos dias, em especial aqueles que tiveram parcelas de suas famílias já autorizadas.

Mas, como essa foi a primeira vez que o Brasil teve nomes rejeitados, diplomatas admitem que não sabem exatamente qual o procedimento e se há um caminho para que as pessoas sejam reconsideradas. O que muitos temem no Itamaraty é que a situação se deteriora a cada hora e, portanto, a situação dessas pessoas que ficaram para trás é cada vez mais urgente.

Ajuda humanitária

O governo brasileiro aproveitou a viagem para usar aeronave KC-390 para transportar para o Egito 11 toneladas de alimentos não perecíveis, para que possam ser enviados para a Faixa de Gaza.

“Este é o terceiro voo que sai do Brasil com finalidade humanitária. Em 18 de outubro, um VC-2 pousou no Egito com equipamentos de filtragem de água e kits de saúde. A carga continha 40 purificadores de água com capacidade de tratar mais de 220 mil litros por dia. Com tecnologia e fabricação brasileiras, os equipamentos são capazes de remover 100% de vírus e bactérias da água”, afirmou o governo.


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