18/05/2024 - Edição 540

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Brasileiro tenta matar Cristina Kirchner: terrorismo de extrema-direita transborda na América do Sul

Lula, Ciro e Tebet se solidarizam com a vice-presidente argentina: Bolsonaro não comenta

Publicado em 02/09/2022 9:13 - DW, UOL, Jamil Chade (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Reprodução

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A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi vítima de um atendado na noite de ontem (1º), nos arredores de sua casa, quando acontecia uma vigília em seu apoio. A polícia identificou o terrorista como sendo Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos, que vive na Argentina desde 1993.

Emissoras de televisão captaram as imagens de quando a ex-presidente (2007-2015) deixava seu carro, no bairro da Recoleta, e estava rodeada por uma multidão de apoiadores. Em certo momento, ela abaixa a cabeça quando alguém lhe aponta uma arma. Apesar de o gatilho ser puxado, o disparo falha.

De acordo com o jornal La Nación, Montiel seguia diversos perfis ligados a grupos radicais e de ódio. As redes sociais do brasileiro foram deletadas durante a madrugada. O Clarín afirma ainda que o brasileiro tem várias tatuagens em seu corpo, algumas que fazem alusão a mitologias vikings e germânicas, incluindo uma no ombro que representa um “Schwarze Sonne” (Sol negro, em alemão), símbolo ligado à filosofia ocultista do nazismo e utilizado pela organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS).

Brasileiro portava uma pistola carregada

De acordo com informações da Polícia Federal da Argentina à imprensa, Montiel portava uma pistola Bersa 380, calibre 32 e de fabricação argentina, carregada com cinco balas. De acordo com as imagens, o brasileiro – que usava uma touca preta e uma máscara facial – chamou a atenção dos apoiadores da ex-presidente e foi agarrado no meio da multidão.

Ao ser flagrado, Montiel tentou fugir, mas foi agarrado pela camisa perto do prédio onde a ex-presidente mora. Ele foi preso e levado para uma delegacia na cidade de Buenos Aires.

Sabag tem antecedentes criminais. Em março de 2021, ele foi detido ao portar uma faca de 35 centímetros no bairro La Paternal, em Buenos Aires, onde vive.De acordo com o jornal Clarín, o brasileiro afirmou na época que usava o objeto para se defender, mas acabou sendo autuado pelo porte de arma. O jornal afirma que Montiel atuava como motorista de aplicativo.

Segundo relataram fontes oficiais do Ministério da Segurança à agência de notícias Efe, membros da Polícia Federal Argentina, responsável pela segurança da vice-presidente, foram alertados por manifestantes que estavam no local que “um homem estaria armado entre eles”.

Prisão do autor do atentado contra Kirchner

No momento em que o homem responsável pela tentativa de assassinato foi flagrado, ele tentou fugir, mas foi agarrado pela camiseta, no meio da multidão reunida próximo ao prédio onde a ex-presidente mora no bairro da Recoleta.

O homem foi preso e levado para uma delegacia na cidade de Buenos Aires, onde no fim da noite de quinta-feira continuava detido. A expectativa é que ele preste declaração nesta sexta-feira.

De acordo com fontes policiais, ele já teria sido preso pela Polícia da Cidade em março de 2021 quando portava uma faca.

Montiel teria chegado à Argentina ainda criança, em 1996. De acordo com informações da polícia, a partir das redes sociais de Montiel, ele possui tatuagens com símbolos nazistas. Nas suas redes sociais, ele se identificava como Fernando ‘Salim’ Montiel e era seguidor de grupos como ‘comunismo satânico’, entre outros ‘ligados ao radicalismo e ao ódio’, como definiu o portal do jornal La Nación, de Buenos Aires.

Lula, Ciro e Tebet se solidarizam com a vice-presidente argentina: Bolsonaro não comenta

Candidatos à Presidência no Brasil se solidarizam desde ontem com a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchne. O presidente Jair Bolsonaro (PL) não se pronunciou. Aliado histórico de Kirchner, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escreveu que a vice-presidente argentina foi vítima de um “fascista criminoso”. “Que o autor sofra todas as consequências legais. Esta violência e ódio político que vêm sendo estimulados por alguns é uma ameaça à democracia na nossa região. Os democratas do mundo não tolerarão qualquer violência nas divergências políticas”.

Ciro Gomes (PDT) disse que, por pouco, o atentado frustrado não causou uma “chuva de sangue”. “O atentado frustrado a Cristina Kirchner por pouco não transforma em chuva de sangue a nuvem de ódio que se espalha pelo nosso continente. Nossa solidariedade a esta mulher guerreira que com certeza não se intimidará.”

“Violência política no Brasil, violência política na Argentina. É preciso dar um basta a tudo isso. As lideranças devem recriminar essas atitudes. Ainda bem que a arma falhou. Que tristeza! Reafirmo minha posição pela paz na política, pela paz nas eleições”, escreveu nas redes sociais a candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet.

A representante do União Brasil na disputa, Soraya Thronicke, lamentou a tentativa de assassinato e voltou a falar em reforço de segurança, discussão que levantou durante o primeiro debate presidencial na Band.

“Quando falo em reforçar a segurança, não é exagero. Não podemos subestimar do que o ódio é capaz. Na campanha de 2018 usei colete a prova de balas, e termino esta 5ª lamentando o atentado contra Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina. Que Deus olhe por nós”, disse.

Leo Pericles, do União Popular, também prestou solidariedade à Cristina Kirchner. “Para deter essa escalada fascista, que não respeita leis e democracia, temos que seguir a reação do povo Argentino. Dia 07/09 temos que ocupar as ruas em todo Brasil!”.

Políticos latino-americanos manifestam solidariedade

Após o incidente, autoridades e ex-líderes de diversos países expressaram sua solidariedade à Cristina. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou no Twitter que “repudia veementemente esta ação que busca desestabilizar a paz do povo irmão argentino”.

Na mesma rede social, o líder cubano Miguel Díaz-Canel escreveu: “De Cuba, consternado com a tentativa de assassinato de Cristina Kirchner. Transmitimos toda nossa solidariedade à vice-presidente, ao governo e ao povo argentino.”

O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que a tentativa de assassinato merece todo o repúdio e a condenação de todo o continente. “Minha solidariedade a ela, ao governo e povo argentino. O caminho será sempre do debate de ideias e diálogo, nunca de armas ou violência”, acrescentou.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o ataque e afirmou que “a direita criminosa e servil ao imperialismo não passará. O povo livre e digno da Argentina irá derrotá-lo”.

ONU pede investigação sobre atentado contra Kirchner por brasileiro

O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos quer que o incidente que envolveu a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, seja alvo de uma investigação aprofundada e alertou para os riscos de violência política na região.

“Estamos cientes e em choque diante dos relatos que vimos”, afirmou a porta-voz do alto comissariado, Ravina Shamdasani, em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira em Genebra. “É crucial que uma investigação seja realizada sobre o que aconteceu e como aconteceu”, insistiu. Segundo ela, o escritório da ONU vai “acompanhar de perto” os acontecimentos.

A porta-voz da ONU ainda insistiu em condenar as ameaças contra líderes políticos ou violência. “Qualquer ato de violência política precisa ser condenado. E é importante que diferenças sejam tratadas por meio do diálogo, e certamente não dessa forma”, completou.

Antes de deixar seu cargo, na semana passada, a então alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachellet, também lançou um alerta sobre os riscos da violência política no Brasil e, de uma forma geral, em democracias.

Presidente decreta feriado nacional

Depois da meia-noite, o presidente Alberto Fernández falou em rede nacional, onde expressou seu “forte repúdio” ao incidente e surpreendeu ao decretar feriado nacional nesta sexta-feira. Ele classificou o evento como “o mais grave que aconteceu desde que recuperamos nossa democracia”. Segundo fontes próximas, ele teria telefonado para Cristina logo após o incidente.

No Twitter, o ex-presidente argentino e opositor Mauricio Macri repudiou o ataque sofrido por Cristina. “Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança”, escreveu.

Deputados e senadores da base governista se manifestaram no Congresso Nacional contra o ataque. “Não a mataram porque Deus é grande”, afirmou o senador governista José Mayans. O deputado governista Sergio Palacio pediu a investigação do caso.

Manifestações pró e contra Cristina Kirchner

No último dia 22 de agosto, o promotor Diego Luciani pediu 12 anos de prisão para Cristina, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado quando era presidente da Argentina.

Desde então, grupos a favor e contra a ex-presidente têm se manifestado nas proximidades da residência de Cristina no bairro Recoleta.

A tensão aumentou após a colocação de uma cerca ao redor da casa de Cristina e das acusações do partido governista em relação à repressão contra os manifestantes pelas forças do governo da cidade de Buenos Aires – opositor do Executivo argentino.

Além de problemas na Justiça, a vice-presidente enfrenta uma crise em seu governo ao travar uma disputa por espaço com o presidente Alberto Fernández. Em agosto, o governo argentino criou um “superministério” da Economia para tirar o país da crise financeira.


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