09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Mais conhecido por vídeo escatológico, André Fernandes é o puro suco do bolsonarismo

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 31/03/2023 3:02 - Victor Barone

Divulgação Reprodução

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Se fosse possível levar à balança o conteúdo da audiência de Flávio Dino na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, não haveria nas quatro horas de debate um mísero miligrama de interesse público. Mas a presença do ministro da Justiça no Legislativo teve algo de positivo. Serviu para iluminar o pus no fim do túnel em que o bolsonarismo insiste em enfiar a política brasileira.

O objetivo da milícia legislativa de Bolsonaro era constranger o ministro, fabricando vídeos para exibir no picadeiro das redes sociais. Dino virou o jogo. Com informação, humor refinado e ironia cáustica, transformou uma sessão em que seria massacrado numa exposição grotesca da mediocridade do bolsonarismo viral.

Por Josias de Souza

Dino ironizou o deputado André Fernandes (PL-CE) que afirmou que supostamente teria encontrado processos contra Dino após consulta no site JusBrasil. A intervenção causou gargalhadas, dado o absurdo. “Vou contar para meus alunos como anedota”, espetou o ministro.

Mais conhecido pelo vídeo em que ensina como raspar o ânus – veja abaixo – André Fernandes é o puro suco do bolsonarismo. Aliás, a audiência resumiu a falta de conteúdo e seriedade do bolsonarismo.

Acusado de cercear com uma notícia-crime no Supremo a opinião de deputados que enxergaram um pacto com criminosos na sua visita ao Complexo da Maré, Dino disse que liberdade de expressão não é camisa de força para maluquices.

No lance mais patético da sessão, o deputado Nikolas Ferreira, incomodado com o sorriso do ministro, cobrou “respeito” com o Congresso. “Aqui não tem palhaço nem circo”, disse o bolsonarista que, no Dia Internacional da Mulher, fez da tribuna da Câmara picadeiro para um discurso transfóbico. Ouviram-se gritos de “moleque”, “palhaço” e “chupetinha”. Parece jardim de infância, disse Orlando Silva. Engano. Parecia um boteco. A diferença é que no bar os bêbados pagam a própria conta. Na Câmara, a conta do horror é paga pelo contribuinte.

Nem a “conja” escapo do vexame…

MENOR DO QUE NUNCA

No aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, uma centena de pessoas aguardavam a chegada do ex-presidente. Havia, é verdade, uma série de restrições parte das autoridades do Distrito Federal que poderiam ser usadas como desculpas. No entanto, na sua chegada à sede do PL, na região central da capital federal, a situação foi ainda pior. Um número reduzido de simpatizantes, que daria pra contar nos dedos, estavam na calçada em frente ao prédio. Bolsonaro frustrou a todos e entrou pela garagem, sem falar com os apoiadores.

Como se diz na internet quando um evento dá errado, a recepção de Bolsonaro flopou.

A volta do ex-presidente vem acompanhada da sombra do escândalo das joias sauditas contrabandeadas por Jair Bolsonaro, que tentou, de maneira ilegal, ficar com os presentes da ditadura da Arábia Saudita que foram dados ao governo e não à pessoa de jair e, dessa maneira, pertencem à República. Além disso, a imagem de Bolsonaro retorna chamuscada pela ascensão de sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no PL. Especula-se que a legenda aposte em Michelle como a candidata do partido ao Palácio do Planalto em 2026.

Após enfrentar o fiasco na frustrada recepção em seu retorno ao Brasil, quando cerca de 100 apoiadores o aguardavam no saguão do aeroporto internacional de Brasília, e um discurso pífio, se esquivando em se colocar como líder da oposição, Jair Bolsonaro (PL) começou o “mimimi” – termo muito usado por ele para se referir a opositores quando estava na Presidência – e reclamou de uma suposta perda de privilégio imposta pelo governo Lula. Em reunião com quadros do PL na sede do partido ainda na manhã desta quinta-feira (30), esparramado sobre uma mesa, Bolsonaro acusou o governo Lula de tirar dois carros blindados que ele teria direito antes das férias nos EUA.

CERCO FECHANDO

A Polícia Federal (PF) intimou o ex-presidente Jair Bolsonaro a prestar depoimento no inquérito que investiga joias recebidas de presente por ele da Arábia Saudita e que entraram ilegalmente no Brasil. O antigo ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, também foi intimado. Os depoimentos foram marcados para 5 de abril, às 14h30, em Brasília. A defesa do ex-mandatário afirmou em nota que a oitiva será “uma oportunidade para ele prestar todas as informações necessárias”. “É um ato processual corriqueiro, ocasião em que ele esclarecerá que agiu sempre de acordo com a legislação que regula a oferta de presentes de governos estrangeiros”, diz o comunicado dos advogados. Tá…

DURAN NELES

Em um depoimento de mais de 50 minutos, todo gravado, o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran fez em pelo menos três oportunidades acusações diretas de extorsão contra o senador Sérgio Moro (União-PR) e o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) quando, eram, respectivamente, juiz e procurador da Operação Lava Jato. O depoimento foi concedido ao juiz federal Eduardo Fernando Appio, na tarde de segunda-feira (27). O processo em questão investiga esquema de pagamento de propina a políticos por parte da empreiteira, uma das principais estruturas de corrupção descobertas pela Operação Lava Jato.

RASPA TOBA

O deputado federal bolsonarista André Fernandes (PL-CE) vai ter que pagar o microfone de uma das tribunas, após ter tido um ataque histérico e quebrado o objeto na última terça-feira (21), com um tapa durante pronunciamento. A direção da Câmara decidiu cobrar do deputado, que é o autor do pedido de abertura de uma CPI para apurar os fatos ocorridos no 8 de janeiro, quando instalações da Câmara foram também destruídas.

COELHO

O escritor Paulo Coelho usou as redes sociais para criticar o governo Lula. Durante a campanha eleitoral de 2022 Coelho, que mora na Suíça, declarou voto no presidente Lula e criticava duramente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

MAMATEIRAS

A União gasta por ano 3 bilhões de reais com o pagamento de pensões a 60 mil filhas solteiras de ex-servidores públicos, informa o jornal O Estado de S. Paulo. São filhas de diplomatas, auditores e desembargadores. Lei para isso foi criada em 1958. Em 1990, o governo deixou de reconhecer novas beneficiárias, mas a pensão continuou sendo paga a quem recebia. Ocorre que 2,3 mil desse contingente já se casaram ou mantém relações estáveis; e 1,7 mil ingressaram no serviço público, descobriu a Controladoria Geral da União ao cruzar dados. Essas mulheres deixaram, portanto, de atender aos requisitos da lei. E não se lembraram de avisar ao Estado. Avisar para quê? Para que suspendessem a pensão?

Um relatório do Tribunal de Contas da União, de meados de 2020, mostrou que até àquela data 620 mil pessoas receberam sem ter direito o Auxílio Emergencial para o combate à Covid-19. À mesma época, pesquisa do Instituto Locomotiva conferiu que 3,89 milhões de famílias integrantes da parcela mais rica da população brasileira pediram e receberam o benefício de 600 reais. Uma vergonha. Ou falta dela.

Por Ricardo Noblat

FASCISTAS

Sérgio Moro publicou nas redes sociais uma foto de um encontro que teve com líderes da extrema-direita latino americana, como os ex-presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e do Chile, Sebastian Piñera, derrotados por progressistas nas últimas eleições presidenciais.

EXTREMA DIREITA NERVOSA

Desde o último dia 24, quando a greve dos metroviários de São Paulo foi encerrada, a presidenta do sindicato, Camila Lisboa, passou a receber ameaças de morte. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo também recebeu um e-mail ameaçando um ataque à sua sede. Além disso, a entidade afirma que imagens de dirigentes atuando durante a paralisação e de seus perfis em redes sociais estão sendo veiculadas em grupos bolsonaristas, “com xingamentos e mensagens de ódio contra a greve”.

FRASES DA SEMANA

“Este é um ataque sem precedentes em nosso país. É também um ataque aos tempos antigos de eleições livres e justas. Os Estados Unidos são agora uma nação de Terceiro Mundo, e em triste declínio”. (Donald Trump, o primeiro ex-presidente americano indiciado por crimes. São 34)

“[Bolsonaro] vai ter que chegar e dar explicações sobre as joias, sobre várias questões que estão sendo descobertas do governo dele, sobre obras paralisadas no país.” (Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais)

“No Brasil a gente descobre outra questão, que se mostra na participação de Sérgio Moro na contratação da empresa americana [Alvarez & Marsal], que depois o contrata. Descobre o quê? Que os combatentes da corrupção gostam muito de dinheiro”. (Gilmar Mendes, ministro do STF)

“O presidente do Banco Central quer fazer política fiscal, obrigar o governo a manter uma política fiscal, sendo que o governo está dando sinais de que pretende reduzir o déficit. Ele quer governar o Brasil, mas não tem mandato para isso”. (José Dirceu, ex-ministro de Lula)

“Décadas apoiando Lula, noto que seu novo mandato está patético. Cair na trampa de ex-juiz desqualificado, incapacidade de resolver problemas do BC, etc. Não devia ter me empenhado na campanha. Perdi leitores, não estou vendo meu voto ter valido a pena”. (Paulo Coelho, escritor)

“Essas afirmações de ligação do PT com o PCC não passam de canalhice. Não há indício, prova, nada; só canalhice mesmo. Lembro que não há imunidade parlamentar para proteger canalhice.” (Flávio Dino, ministro da Justiça, sobre a tentativa de Sérgio Moro de ligar o PT ao PCC)

“Esse homem (Sérgio Moro), moralmente desqualificado, recebe toda essa atenção porque foi vítima de uma ameaça. Estou muito mais preocupado com milhões de outras pessoas permanentemente ameaçadas e que não serão noticiadas.” (Pedro Cardoso, ator)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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2 respostas para “Mais conhecido por vídeo escatológico, André Fernandes é o puro suco do bolsonarismo”

  1. Weliton Gomes da cunha disse:

    Lixo de materia, deve ter sido elaborada por um estagiário

  2. Victor Barone disse:

    Não se trata de uma “matéria”… Ma de pequenas notas resumindo a semana política de acordo com a avaliação do editor.
    Boa leitura.

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