04/05/2024 - Edição 540

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Alvo da extrema direita, Papa Francisco diz que cuidar de pobres não o torna comunista

Estranho mundo, onde “cristãos” se revoltam com os valores amorosos do próprio Cristo

Publicado em 14/03/2024 10:25 - Jamil Chade - UOL

Divulgação

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O papa Francisco afirma que o combate à pobreza e a atenção aos mais marginalizados não o tornam marxista nem comunista. A declaração faz parte de sua autobiografia, que será publicada no dia 19 de março, em inglês e italiano. Trechos do livro “Life: My Story Through History” foram obtidos e publicados hoje pelo jornal italiano Corriere della Sera.

Francisco foi eleito para dirigir a Igreja Católica depois que Bento 16 foi o primeiro pontífice a renunciar em 600 anos. Naquele momento, o alemão justificou que sua saúde impedia que conduzisse seus trabalhos. Ele, porém, viveu mais dez anos como papa emérito.

Atacado pela extrema direita e pelas alas mais conservadoras do catolicismo, Francisco fez questão de colocar o combate à pobreza como uma de suas missões. Desde que assumiu, promoveu mudanças nos comportamentos dos bispos e padres que trabalham no Vaticano, pediu que todas as igrejas recebam refugiados e, em diversas falas e textos, criticou o papel que a sociedade confere ao dinheiro, ao sistema financeiro e aos lucros.

“Falar dos pobres não significa ser automaticamente comunista”, escreveu o argentino Jorge Bergoglio. Ele conta como uma de suas primeiras professoras, Ester, era uma comunista que entregava a ele material do Partido Comunista. Ela acabaria sendo torturada e morta pela ditadura argentina. “Foi um genocídio geracional”, lamentou.

“Os pobres são a bandeira do Evangelho e estão no coração de Jesus. Isso não é comunismo. Isso é cristianismo em estado puro”, diz o Papa Francisco.

Renúncia descartada

O argentino afirmou que, apesar de seus problemas de saúde nos últimos meses, sente que tem condições para seguir no posto máximo da Igreja. Ele, portanto, não tem qualquer intenção de encurtar seu mandato.

“Essa é uma hipótese distante, porque não tenho motivos suficientemente sérios para me fazer pensar em desistir”, disse Francisco, que hoje tem 87 anos.

“Graças ao Senhor, gozo de boa saúde e, se Deus quiser, ainda há muitos projetos a serem realizados”, disse ele. Para o papa, a renúncia seria considerada apenas em caso de um “sério impedimento físico”.

Desde o ano passado, repetidas bronquites, resfriados e problemas de locomoção reduziram suas falas em público.

Não esqueça dos pobres, disse cardeal brasileiro

O papa ainda conta detalhes sobre sua eleição. Ele teria notado o interesse dos demais cardeais para elegê-lo numa conversa na qual um dos membros da Igreja questiona se era verdade que ele tinha apenas um pulmão.

Na primeira rodada de votações no Conclave, ele quase foi eleito. Após a revelação sobre o resultado inicial, o papa relata que o arcebispo brasileiro Claudio Hummes se aproximou e disse: “Não tenha medo”.

Quando já era claro que ele seria o novo papa, foi uma vez mais abordado por Hummes, que pediu: “Não esqueça dos pobres”.

O nome Francisco foi uma sugestão do brasileiro para que Jorge Bergoglio adotasse em seu pontificado.

Contra o aborto

No livro, Francisco voltou a condenar o aborto e defendeu sua decisão de autorizar padres a abençoar casais do mesmo sexo. “Deus ama a todos, especialmente os pecadores”, escreveu. Segundo ele, nada disso implica uma transformação na doutrina católica.

Em sua autobiografia, o papa ainda fala de Diego Maradona, Lionel Messi e sua paixão pelo futebol.


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