04/05/2024 - Edição 540

Mundo

Hospitais de Gaza registram causa de falecimento de crianças como ‘morte por fome’

Até os EUA vão largando Netanyahu, mas Tarcísio e Caiado o paparicam

Publicado em 21/03/2024 2:07 - UOL, Jamil Chade e Leonardo Sakamoto (UOL), Agência Brasil – Edição Semana On

Divulgação Imagem: Instagram

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A situação é cada vez mais catastrófica na Faixa de Gaza, um território “inabitável”, para a imprensa francesa, que traz nesta quinta-feira (21) dados relacionados à fome e à destruição no território palestino. Os jornais destacam que 1,1 milhão de pessoas não tem mais o que comer no enclave.

O jornal Le Parisien analisa a situação da escassez de ajuda humanitária no enclave, que resulta em “uma população esfomeada” em Gaza. A reportagem do diário acompanhou o exaustivo trabalho da ONG Socorro Islâmico da França durante esses primeiros dias de Ramadã, o mês sagrado muçulmano, na maior operação de ajuda alimentar de sua história. O objetivo é enviar um carregamento de comida para saciar a fome de cerca de 100 mil pessoas no enclave palestino.

No entanto, o diário ressalta que o desafio vai muito além: “mais de um milhão de pessoas enfrentam uma situação catastrófica de fome” na Faixa de Gaza, diz Le Parisien, citando dados da ONU. Nos hospitais do enclave, a causa do falecimento de crianças vem sendo registrada como “morte por fome”.

“É muito pior do que vocês podem imaginar”, diz o palestino Riyad, um dos cerca de 50 membros da Socorro Islâmico da França que participa da operação da ONG em Rafah, no sul da Faixa de Gaza “em meio aos bombardeios israelenses”.

Devastação de infraestruturas e plantações

O jornal La Croix estampa sua capa com uma foto de escombros da cidade de Deir Al-Balah, no centro do enclave, após um bombardeio, no último 7 de março. Para o diário, a Faixa de Gaza é um território “arrasado” pela incessante ofensiva israelense após os ataques do grupo Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023.

A reportagem traz o mapa da destruição no enclave, onde quase 55% dos prédios foram destruídos. A área que mais sofreu com os ataques israelenses é a capital Gaza, onde quase 74% das construções vieram abaixo com os bombardeios, indica La Croix.

As chocantes imagens da devastação não parecem sensibilizar a alta cúpula do governo israelense. O jornal destaca as declarações da ministra israelense da Igualdade Social, Maya Golan, que, em 21 de fevereiro, diante do Parlamento do país, se disse “orgulhosa de ver Gaza em ruínas”.

“Como ela, soldados israelenses expressam frequentemente o sentimento de dever cumprido publicando nas redes sociais fotos deles em frente a prédios reduzidos a pó”, afirma La Croix.

A matéria também traz dados sobre essa destruição sem precedentes no território: 23 milhões de toneladas de escombros, 96% das infraestruturas agrícolas devastadas, bem como 84% das estruturas de saúde e 62% das estradas. “Danos injustificáveis que comprometem o futuro da população”, avalia o diário.

EUA propõem na ONU cessar-fogo em Gaza, condicionado à libertação de reféns

O governo americano submeteu ao Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução que, pela primeira vez, defende um “cessar-fogo imediato” em Gaza. O texto também exige a liberação dos reféns mantidos em Gaza e a suspensão do financiamento externo ao Hamas.

Nesta quinta-feira (21), o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, anunciou que seu governo estava fazendo a proposta e que um voto poderia ocorrer nos próximos dias. A Casa Branca vetou, em outubro de 2023, uma resolução proposta pelo Brasil e que pedia uma pausa humanitária.

O governo de Joe Biden, porém, vem sendo pressionado, inclusive por sua base nos EUA e diante das eleições deste ano. Do lado do Hamas, o grupo palestino também tem sido alvo de pressão por parte de governos árabes, que temem que o conflito possa se espalhar.

O novo texto continua sendo alvo de negociações e polêmicas. Mas, em seu trecho principal, o documento:

Determina a necessidade imperativa de um cessar-fogo imediato e sustentado para proteger os civis de todos os lados, permitir a entrega de assistência humanitária essencial e aliviar o sofrimento humanitário e, para esse fim, apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais em andamento para garantir esse cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes.

Para fontes diplomáticas, o documento é um avanço na posição americana. Mas pode ainda enfrentar resistência por condicionar o cessar-fogo e ainda exigir o fim do financiamento ao Hamas.

O projeto ainda defende que se use o eventual cessar-fogo para “intensificar os esforços diplomáticos e outros esforços com o objetivo de criar as condições para uma cessação sustentável das hostilidades e uma paz duradoura”.

O texto pede que “todas as partes do conflito cumpram suas obrigações de acordo com o direito internacional, inclusive o direito internacional humanitário, inclusive no que diz respeito à condução das hostilidades e à proteção de civis e objetos civis, ao acesso humanitário e à proteção da ajuda humanitária e do pessoal médico, seus bens e infraestrutura”.

A proposta “enfatiza a necessidade urgente de expandir o fluxo de assistência humanitária aos civis em toda a Faixa de Gaza e reitera sua exigência de remoção de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em escala”.

Mas o projeto americano também coloca pressão sobre os governos que apoiam o Hamas e mesmo grupos no Iêmen.

O rascunho da resolução ainda afirma que o Conselho de Segurança:

– Reitera sua exigência de que o Hamas e outros grupos armados concedam imediatamente acesso humanitário a todos os reféns restantes;

– Exige que todas as partes cumpram suas obrigações sob o direito internacional em relação a todas as pessoas detidas, incluindo as obrigações aplicáveis sob o direito humanitário internacional e o direito internacional dos direitos humanos, e respeitem a dignidade e os direitos humanos de todos os indivíduos detidos:

– Insta os Estados Membros a intensificarem seus esforços para suprimir o financiamento do terrorismo, inclusive restringindo o financiamento do Hamas por meio de autoridades aplicáveis em nível nacional, de acordo com o direito internacional

– Enfatiza também que hospitais, outras instalações médicas, pessoal médico, unidades e transporte devem ser respeitados e protegidos por todas as partes, de acordo com o direito internacional humanitário:

– Rejeita ações que reduzam o território de Gaza, inclusive por meio do estabelecimento oficial ou não oficial das chamadas zonas-tampão, bem como a demolição generalizada e sistemática da infraestrutura civil:

– Condena os apelos de ministros do governo para o reassentamento de Gaza e rejeita qualquer tentativa de mudança demográfica ou territorial em Gaza;

– Reafirma sua condenação nos termos mais fortes dos ataques realizados pelos houthis contra navios no Mar Vermelho e sua exigência de que cessem imediatamente.

Até os EUA vão largando Netanyahu, mas Tarcísio e Caiado o paparicam

O governo Joe Biden vai se distanciando da gestão de Benjamin Netanyahu por motivos eleitorais (parte de sua base democrata não está satisfeita com o genocídio em curso), enquanto os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado, vão até Israel e tiram uma foto sorridentes com o criminoso de guerra.

Até agora, quase 32 mil palestinos foram mortos e mais de 74 mil ficaram feridos devido aos ataques e ao cerco do governo Netanyahu contra Gaza como resposta aos atos terroristas do Hamas, que deixaram 1.139 mortos em Israel e fizeram mais de 200 pessoas reféns.

O primeiro-ministro, que no início teve suporte total de nações ocidentais, com Estados Unidos à frente, foi perdendo apoio à medida que ficavam mais evidentes os crimes de guerra cometidos pelas Forças de Defesa de Israel contra a população civil, sob a justificativa de destruir terroristas.

No exemplo mais recente, cujas imagens ganharam o mundo, mais de 110 pessoas famintas foram mortas e centenas ficaram feridas após militares israelenses dispararem, em 29 de fevereiro, contra uma multidão que se reunia em torno de caminhões que levavam ajuda humanitária a Gaza.

O Exército de Israel retrucou, dizendo que teriam matado um grupo menor, cerca de uma dezena, sendo que a maioria das vítimas foi pisoteada ou atropelada ao tentar pegar mantimentos. A disputa de narrativas de guerra esconde o fato desesperador: dezenas de palestinos famintos estão morrendo ao tentar alcançar comida para eles e seus filhos.

Perdendo votos de progressistas e árabes, horrorizados com o morticínio em Gaza, o governo Joe Biden tem, lentamente, mudado o discurso, dizendo que Netanyahu “prejudica mais do que ajuda Israel”, liberando o líder da maioria democrata no Senado dos EUA, Chuck Schumer, judeu, a pedir novas eleições em Israel e mandando ajuda (quer dizer, migalha) humanitária.

Ao mesmo tempo em que Netanyahu vai se tornando tóxico para uns, ele parece ficar atraente para outros. Na disputa pelo espólio político ultraconservador de Jair Bolsonaro, Tarcísio e Caiado viajaram para Israel e encontraram-se com políticos locais, demonstrando sua solidariedade.

Uma parte do bolsonarismo, principalmente os cristãos conservadores, defendem Israel com unhas e dentes. O que foi, inclusive, usado largamente contra o presidente Lula devido à sua declaração comparando o que está ocorrendo em Gaza com a ação de Adolf Hitler. Os governadores sabem que a visita, além de fustigar Lula, que passou a ser considerada persona non grata por Israel, também os fazem ganhar pontos com os seguidores de Jair.

Israel é uma democracia, mas Netanyahu não é civilizado, que dirá democrata. Ele vem aplicando uma estratégia de terra arrasada a fim de gerar um fato político que o mantenha no poder quando a guerra terminar. Casos de corrução, interferência na Suprema Corte e incompetência em prever os ataques do Hamas mesmo com um dos melhores serviços de inteligência do mundo pesam contra ele. O problema é que o resultado disso vem sendo um genocídio.

A próxima etapa é Rafah, no extremo sul do território, para onde o próprio governo Netanyahu mandou os palestinos se deslocarem porque estariam salvos.

Discute-se, com toda a razão, que um presidente não deve tirar fotos sorridentes com ditadores, como Nicolás Maduro. Mas governadores também não deveriam tirar fotos sorridentes como um criminoso de guerra, como Benjamin Netanyahu.

Imagens de satélite mostram 35% de construções em Gaza destruídas

Imagens de satélite analisadas pelo Centro de Satélites das Nações Unidas (Unosat) mostram que 35% das construções da Faixa de Gaza foram destruídas ou danificadas na ofensiva de Israel no enclave palestino.

O ataque israelense, lançado em resposta aos ataques de militantes do Hamas no Sul de Israel em 7 de outubro, matou cerca de 32 mil palestinos, de acordo com as autoridades de saúde do território administrado pelo Hamas. Cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas no ataque do Hamas a Israel.

Em sua avaliação, o Centro de Satélites das Nações Unidas usou imagens de satélite de alta resolução coletadas em 29 de fevereiro e as comparou com imagens tiradas antes e depois do início do último conflito.

A análise constatou que 35% de todas as construções na Faixa de Gaza – 88.868 estruturas – foram danificadas ou destruídas.

Entre elas, foram identificadas 31.198 estruturas como destruídas, 16.908 como severamente danificadas e 40.762 como moderadamente danificadas.

Isso representa um aumento de quase 20 mil estruturas danificadas em comparação com a avaliação anterior feita com base em imagens tiradas em janeiro, que mostrou que 30% de todas as construções haviam sido danificadas ou destruídas, disse a Unosat.


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