18/05/2024 - Edição 540

Especial

Discurso Histórico

“Não existem dois brasis”: Democracia, civilização, mulheres e nordestinos são citados por Lula

Publicado em 31/10/2022 9:42 - Henrique Rodrigues (Fórum), Milena Teixeira (Congresso em Foco), Leonardo Sakamoto (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Vencedor da eleição mais acirrada desde a redemocratização do país, Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta noite seu primeiro pronunciamento após se eleger pela terceira vez presidente da República. Ele foi eleito pela primeira vez em 2002 e reeleito em 2006. Lula derrotou o atual presidente Jair Bolsonaro por uma diferença de cerca de 2 milhões de votos. O petista discursou no Hotel Intercontinental, em São Paulo. É o mesmo local de onde ele discursou após se eleger há 20 anos.

Lula fez um discurso pacificador, dirigido não só aos seus apoiadores mas também aos eleitores de Jair Bolsonaro. “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram na campanha. Mas de um imenso movimento democrático que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias para que a democracia saísse vencedora”, discursou. “Não existem dois Brasis. Somos um único povo, uma grande nação”, destacou.

Em tom de conciliação, o presidente eleito defendeu a Constituição e afirmou ainda que o Brasil vai passar a usar o diálogo para reestabelecer relações com os Poderes. “É preciso retomar o diálogo com o Legislativo e o Judiciário, sem tentativa de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os Três Poderes. A normalidade democrática está consagrada na Constituição, é ela que estabelece os direitos e obrigações de cada Poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós”, declarou.

Lula também prometeu a acabar com a fome no país, que possui atualmente mais 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar: “Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças não tenham o que comer ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário. Este será novamente o compromisso número 1 do meu governo”, afirmou.

O petista disse que seu segundo plano é retomar programas de inclusão social e moradia, como o Minha Casa, Minha Vida, para “tirar famílias inteiras das ruas”.

O presidente afirmou ainda que a “roda vai voltar a girar no Brasil” com a geração de novos empregos e valorização do salário.

Durante o discurso, o Lula também falou que vai retomar o compromisso com o meio ambiente e que vai combater o desmatamento e qualquer atividade ilegal na Amazônia: “O Brasil e o mundo precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeiras extraídas por aqueles só pensam no lucro”.

“Não existem dois Brasis”, diz Lula em seu 1º discurso após eleito

Na Avenida Paulista, em São Paulo, Lula falou para uma multidão colossal. O petista fez o que mais sabe, falar de forma emocionante, inflamada e conciliadora, diante de uma plateia alucinada de felicidade.

Nos aproximadamente 30 minutos em que discursou, depois de agradecer dezenas de figuras políticas que o apoiaram nessa corrida eleitoral, Lula classificou a disputa deste ano não como uma “eleição comum”, mas sim como uma luta “pela democracia” e pela “liberdade de todos os brasileiros contra o autoritarismo”. O vencedor do pleito nacional fez também uma menção toda especial às mulheres, que segundo ele “devem ser o que quiserem, estar onde quiserem e fazer o que quiserem”.

Lula expressou sua preocupação com a volta de uma “integração do Brasil com o mundo”, porque o país “não pode seguir sendo um pária internacional”, posto a que foi lançado por Jair Bolsonaro (PL). Os nordestinos receberam um recado particular e honroso, a quem o futuro presidente chamou de “povo porreta”, que desde “Dilma e também em suas outras eleições” teve papel importante.

Ele lembrou o problema da fome e disse “que os brasileiros vão poder comer, fazer suas refeições”, prometendo acabar com o indicador horrendo que disparou durante a gestão do atual mandatário de extrema direita, depois de ter sido diminuído em seus governos. O racismo foi abordado pelo estadista, ao dizer que “ninguém é melhor do que ninguém”, assim como os indígenas, a quem garantiu que “criará um Ministério dos Povos Originários”.

Outro tema abordado foi a cultura. Lula disse que “o brasileiro é um povo alegre, que gosta de música, que gosta de samba, de festa” e lembrou que Bolsonaro declarou uma verdadeira guerra aos artistas e à arte do país. O presidente eleito citou igualmente a educação, dizendo que terá sim “Prouni e Pronatec” e que investirá no setor.

Por fim, Luiz Inácio Lula da Silva rogou por uma pacificação do Brasil, disse que tentaram “o enterrar vivo”, em alusão à toda perseguição política que sofreu durante a Lava Jato, quando ficou encarcerado por 580 dias, e disse que “Deus sempre foi muito bom com ele”.

Lula indica fim do ‘sequestro’ do verde-amarelo por Bolsonaro

Ao final de seu discurso da vitória, na noite de domingo (30), Lula fez questão de posar com uma bandeira do Brasil. E, durante todo o evento, a imagem de outra bandeira tremulava em um telão na parte de trás do palco. Para aliados do presidente eleito, o ato é simbólico, pois representa a retomada das cores nacionais que haviam sido sequestradas pelo bolsonarismo.

O atual presidente e seus aliados tornaram-se herdeiros da estética dos movimentos pelo impeachment de Dilma Rousseff, que já haviam sequestrado as cores nacionais entre 2015 e 2016. Com isso, o verde e amarelo, que não deveriam pertencer a um partido ou ideologia, acabaram servindo à extrema direita.

E isso foi difundido a tal ponto que a colocação de bandeiras do Brasil na janela de prédios indicava que ali morava um apoiador de Bolsonaro. Não foram poucos os eleitores de Lula ou mesmo cidadãos que não apoiavam nenhum dos dois candidatos que se sentiam incomodados com esse monopólio.

O processo de “libertação” das cores começou com o evento de apresentação da pré-candidatura de Lula e Alckmin à Presidência e Vice-Presidência da República, no dia 7 de maio, que abraçou fortemente o verde e amarelo.

O petista fez seu discurso em frente a uma grande bandeira do Brasil enquanto, no telão, exibiam-se as cores nacionais. A logomarca com o lema “Vamos Juntos pelo Brasil” também utilizou uma bandeira estilizada. O padrão foi adotado ao longo da campanha. A ideia era demonstrar que não se tratava de uma candidatura, mas de um movimento cívico pela democracia.

“Bolsonaro não é o dono do verde-amarelo, mas o povo brasileiro. A campanha não esconde o vermelho, mas está libertando o verde e o amarelo, sequestrado desde o impeachment de Dilma e depois com Bolsonaro”, afirmou um membro da campanha à coluna à época.

Lula terá a responsabilidade de governar para todos, ao contrário do que fez seu antecessor, que dialogou apenas com os seus. O presidente eleito sabe disso e falou para aqueles que nele não votaram já em seu primeiro discurso, dizendo que será o governante do Brasil, buscando efetivar os direitos de todos e não apenas dos que concordam com ele.

E isso começa por garantir que a bandeira não pertença a alguns, mas, democratizada, volte a ser de todos.

O que vem em boa hora, porque a partir do mês que vem tem Copa do Mundo.

Líderes internacionais parabenizam Lula pela vitória

Vários líderes internacionais parabenizaram o petista Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória no segundo turno das eleições. Depois de um governo Jair Bolsonaro marcado pelo isolamento do Brasil nas relações internacionais, chefes de governo e de Estado europeus e latino-americanos, bem como o presidente dos Estados Unidos, disseram esperar que, com o governo Lula, as relações bilaterais sejam fortalecidas.

Em um resultado acirrado, o ex-presidente venceu com 50,9% dos votos, contra 49,1% de Bolsonaro, o primeiro presidente a não ser reeleito desde a redemocratização.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, parabenizou o petista em um comunicado oficial. “Envio meus parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória em uma eleição livre, justa e digna de confiança. Espero que possamos trabalhar juntos e manter a cooperação entre nossos dois países nos próximos meses e nos anos que virão”, afirma o documento divulgado pela Casa Branca.

O presidente da França, Emmanuel Macron, foi um dos primeiros líderes a reagir ao resultado. “Parabéns, caro, Lula, por sua eleição que dá início a um novo capítulo da história do Brasil. Juntos, vamos unir nossas forças para enfrentar os muitos desafios comuns e renovar o vínculo de amizade entre nossos dois países”, tuitou em português Macron, que se tornou um desafeto de Bolsonaro ao longo de seu mandato.

O chefe de governo da Espanha, Pedro Sánchez, também celebrou a vitória. “Parabéns, Lula, por sua vitória nestas eleições em que o Brasil decidiu apostar no progresso e na esperança”, escreveu o líder socialista no Twitter. “Vamos trabalhar juntos por justiça social, igualdade e contra as mudanças climáticas. Seu sucesso vai ser o do povo brasileiro.”

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, também exaltou a cooperação entre os dois países. “Já tive a oportunidade de felicitar calorosamente @LulaOficial pela sua eleição como presidente da República do Brasil. Encaro com grande entusiasmo o nosso trabalho conjunto nos próximos anos, em prol de Portugal e do Brasil, mas também em torno das grandes causas globais”, escreveu.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse esperar trabalhar com Lula para promover as relações entre o bloco e o Brasil. “Parabéns, Lula, por sua eleição! Estou ansioso para trabalhar juntos e avançar as relações UE-Brasil com seu governo e com as novas autoridades do Congresso e do Estado”, disse o comissário europeu.

“A União Europeia elogia em particular o Tribunal Eleitoral pela forma eficaz e transparente como conduziu o seu mandato constitucional ao longo de todas as fases do processo eleitoral, demonstrando mais uma vez a solidez das instituições brasileiras e da sua democracia”, acrescentou Borrell em comunicado.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também disse estar “ansioso para trabalhar” com o próximo presidente brasileiro “para fortalecer a parceria entre nossos países, entregar resultados para canadenses e brasileiros e avançar em prioridades compartilhadas – como proteger o meio ambiente”. “Parabéns, Lula!”, completou o canadense.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, falou do início de “um novo tempo” com a vitória de Lula. “Parabéns, Lula! Tua vitória abre um novo tempo para a história da América Latina. Um tempo de esperança e futuro começa hoje. Aqui você tem um parceiro para trabalhar e sonhar alto com a boa vida de nossos povos”, escreveu o argentino. “Depois de tantas injustiças que você viveu, o povo do Brasil o elegeu, e a democracia triunfou.”

A vice-presidente Cristina Kirchner também parabenizou Lula pela vitória. “Hoje mais do que nunca, amor e muita felicidade. Obrigada, povo do Brasil. Obrigada, camarada Lula, por devolver alegria e esperança à nossa América do Sul”, escreveu Fernández no Twitter.

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, falou em “grande vitória” e disse que o resultado marca o retorno da “justiça social” ao Brasil. “Estimado irmão Lula, eu o parabenizo em nome do governo e do povo cubanos, que festejamos sua grande vitória em favor da união, da paz e da integração latino-americana e caribenha. Conte sempre com Cuba”, escreveu Díaz-Canel no Twitter.

Em mensagem sucinta no Twitter, o presidente do Chile, Gabriel Boric, compartilhou um tuíte de Lula e escreveu: “Lula. Alegria!”.

O presidente do Peru, Pedro Castillo Terrones, compartilhou o mesmo tuíte do petista. “O Peru parabeniza o presidente eleito do Brasil, o camarada Lula, trabalhador, sindicalista, lutador. Sua vitória é essencial para fortalecer a unidade da América Latina e a justiça social da grande pátria”, escreveu o peruano.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou que a vitória de Lula “fortalece a democracia e a integração latino-americana”. “Temos certeza que você conduzirá o povo brasileiro pelo caminho da paz, do progresso e da justiça social”, escreveu no Twitter.

O ex-presidente boliviano e presidente do partido governista Movimento pelo Socialismo (MAS), Evo Morales, se juntou à felicitação, referindo-se a Lula como um “irmão de alma” que agora assume a Presidência pela terceira vez. “Temos certeza que voltará a trabalhar pelos mais pobres e restabelecerá a dignidade e a soberania de seu país em suas relações exteriores. A Grande Pátria te abraça, irmão!”, afirmou Morales.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, publicou uma foto ao lado de Lula no Palácio Nacional do México, diante de uma pintura de Benito Juárez, e escreveu: “Lula venceu, povo abençoado do Brasil. Haverá igualdade e humanismo.”

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, disse esperar que ambos trabalhem para alcançar “um Mercosul mais aberto”. “Saudamos o presidente eleito do Brasil. Esperamos trabalhar por um Mercosul moderno e aberto ao mundo. Da mesma forma, esperamos continuar e melhorar as ótimas relações bilaterais”, escreveu o uruguaio no Twitter.


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