09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Uma oposição jurássica

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 26/05/2023 3:00 - Victor Barone

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Em menos de 24 horas, o governo foi do céu ao inferno. Num dia, a Câmara aprovou a nova regra fiscal do ministro Fernando Haddad com uma votação consagradora. No dia seguinte, os parlamentares invadiram o organograma do governo para impor à gestão Lula uma estrutura de dar inveja a Bolsonaro. No Meio Ambiente, por exemplo, desvirtuou-se o ambiente inteiro. Os dois extremos —o celestial e o infernal— têm algo em comum. Ambos trazem as digitais de Arthur Lira.

Dono da pauta, Lira providenciou para que as pauladas viessem depois do afago para demarcar a diferença entre o Legislativo atual e o Congresso dos dois primeiros mandatos de Lula, mais permeável e concessivo. Antes, Lula cultivava os aliados e transacionava com adversários. Hoje, lida com inimigos. Para toureá-los, faz concessões que desnorteiam aliados e debilitam o governo.

Cavalgando uma oposição de perfil inédito, mais atrasada do que conservadora, Lira injeta 2026 no 2023 de Lula. Antecipa a sucessão em três anos e meio. O imperador da Câmara diz aos aliados que a próxima disputa presidencial será vencida por um candidato de direita. Costuma citar o governador paulista Tarcísio de Freitas.

Lira prevê que um político menos tosco do que Bolsonaro arrastará os 58 milhões de eleitores que optaram por ele no ano passado, adicionando a esse cesto os votos de centro-direita que foram para Lula porque não se identificaram com o radicalismo do capitão. Nessa equação, Bolsonaro vale mais como um cabo eleitoral inelegível do que como candidato.

O governo Lula precisa dar errado para que a bola de cristal de Lira acerte. Por isso, a boa vontade com o varejo das propostas de aroma liberal, como a regra fiscal e a reforma tributária, não se confunde com o apoio à agenda de Lula no atacado. De resto, o imperador se equipa para fazer manter o governo no cabresto, fazendo o seu sucessor no comando da Câmara.

Lira articula desde logo a eleição de Elmar Nascimento, atual líder da bancada do União Brasil, para chefiar a Casa nos dois últimos anos do terceiro mandato de Lula. Elmar obteve sob Bolsonaro o controle da Codevasf, uma estatal por onde as verbas federais escoam pelo ladrão.

Ironicamente, Lula manteve no comando da estatal o apadrinhado do candidato de Lira à sua própria sucessão. Consolidou-se na Codevasf um ninho suprapartidário de desvios que sobreviveu à alternância no Poder. Lula demora a perceber. Mas está financiando com verbas do Tesouro a pavimentação do seu próprio caminho para o inferno.

Por Josias de Souza

É triste, muito triste, mas diante disso, o governo Lula trocou a aprovação do Marco Temporal e a remodelagem ministerial pelos avanços no meio ambiente e na questão indígena. O Brasil é um país condenado ao atraso.

A ideia de que Lula é apoiado por uma frente ampla é linda para embalar teses acadêmicas. Mas é falsa. Por falta de alternativa, a tal frente formou-se apenas para elegê-lo. Pode se manter unida se o eleito a cortejasse. Mas Lula tinha outas prioridades. Na área externa, a guerra na Ucrânia. No front interno, a reestatização da Eletrobras. Cavalgando uma oposição 100% feita de ressentidos, Lira compõe a frente ampla do atraso. Lula ainda vai ter saudades de um tempo que não viveu. Uma época em que a oposição a Getúlio Vargas e João Goulart era chamada de Banda de Música. Hoje, dá as cartas no Congresso a banda do atraso.

DEDO NO OLHO E GRITARIA

RACISTA

O Psol entrará com uma representação contra o senador Magno Malta (PL-ES) no Conselho de Ética do Senado e também com uma notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O motivo é uma fala de Malta durante reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa a respeito dos ataques racistas sofridos pelo jogador do Real Madrid, Vinicius Júnior, no último domingo. O episódio de racismo ocorreu durante uma partida pelo campeonato espanhol.

VERGONHA ALHEIA

O senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES) não cansa de passar vergonha nas redes sociais e no parlamento, onde foi humilhado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, durante audiência no Senado e virou motivo de chacota na internet.

O mais novo delírio do senador Marcos do Val é que existe um complô para excluí-lo da CPMI dos Atos Golpistas. De acordo com o parlamentar, isso ocorre porque ele possui “provas” que podem derrubar o governo federal.

BANANINHA

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) levou uma sonora vaia na manhã de domingo (21), na Neo Química Arena, no bairro de Itaquera, em São Paulo, durante cerimônia de entrega de títulos de propriedade no estádio do Corinthians. Ao seu lado estavam também o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB).

CANA NELE

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou o início imediato de pena do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) em regime fechado.

LIXO DE GENTE

Jair Renan, um dos filhos de Jair Bolsonaro, o 04, usou suas redes para fazer um ataque debochado e gordofóbico contra o ministro da Justiça, Flávio Dino. No vídeo, de 45 segundos, Jair Renan compara o ministro ao personagem “Majin Boo”, da série de animação Dragon Ball. Se trata de uma figura obesa e, por essa razão, é comparado pelo filho do ex-presidente ao ministro.

Dino faminto…

CONDENADO

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado em segunda instância na Justiça de São Paulo a pagar indenização no valor de R$ 50 mil por dano moral coletivo à categoria dos jornalistas. A 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça confirmou a sentença proferida pela 24ª Vara Cível de São Paulo em junho de 2022, mas reduziu pela metade o valor da compensação, que havia sido estabelecido em R$ 100 mil na primeira instância. O valor da indenização será revertido para o Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos.

MAIS UM EM CANA

Por oito votos a dois, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou na quinta-feira (25/05) o ex-senador e ex-presidente Fernando Collor por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um processo da Operação Lava Jato. Os ministros Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques votaram pela absolvição. Todos os demais foram favoráveis à condenação. Segundo a Corte, como antigo dirigente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Collor foi responsável por indicações políticas para a BR Distribuidora, empresa subsidiária da Petrobras, e recebeu R$ 20 milhões em vantagens indevidas por meio de contratos da empresa. Os crimes teriam ocorrido entre 2010 e 2014.

FRASES DA SEMANA

“Uma comissão do Congresso quer mexer na estrutura de governo. Agora começou o jogo. O que a gente não pode é se assustar com a política. Quando se assusta e começa a culpar a classe política, o resultado é pior. É na política que se tem as soluções dos problemas do país”. (Lula)

“Não basta a credibilidade de Lula, ou da ministra do Meio Ambiente. O mundo vai olhar para o arcabouço legal e ver que a estrutura do governo não é a que ganhou as eleições, é a do governo que perdeu. Isso fechará nossas portas”. (Marina Silva, ministra do Meio Ambiente)

“As emissoras ficam com o assunto [do Vinícius Jr.] reverberando, revitimizando, porque o assunto dá ibope para eles ganharem mais patrocinador. […] Cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco? Ele está exposto, quanta hipocrisia.” (Magno Malta, senador, PL-ES)

“O silêncio das autoridades, dos patrocinadores, de parte da imprensa, dos outros clubes, das organizações de futebol na Europa e da Liga Espanhola é um silêncio conivente com o racismo”. (Silvio de Almeida, ministro dos Direitos Humanos, sobre 0 racismo contra Vinícius Júnior)

“Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas”. (Vinicius Junior, outra vez alvo de ataques racistas)

“Não faz sentido ir para a porta de quartel se manifestar, muito menos para pedir a interrupção do processo democrático. Foi tolerância excessiva com aqueles que não toleravam a democracia. Não deveriam ter ficado um dia”. (Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal)

“Esse 8 de janeiro, isso tem de passar um dia. Nada pior do que viver sob suspeição, né? Interessa a todo mundo que isso seja esclarecido. Evidentemente, há uma preocupação de não haver politização, não se emocionalizar isso”. (José Múcio Monteiro, ministro da Defesa)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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