09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Um quilo de arroz, de feijão e de cebola

72 milhões de pessoas são beneficiadas por dinheiro que, para a elite brasileira, é “esmola”

Publicado em 18/02/2023 9:42 - Victor Barone

Divulgação

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Se você não depende do salário mínimo para sobreviver porque faz parte do grupo que não tem que escolher o que deixar de fora no caixa do supermercado para que as compras caibam no que tem na carteira ou na bolsa, pode estar pensando que muito barulho está sendo feito por R$ 18. Mas isso equivale a um quilo de arroz, de feijão e de cebola. O que faz diferença no mês para cerca de 72 milhões de pessoas, entre aposentados e pensionistas, empregados com carteira assinada, trabalhadores autônomos e trabalhadoras empregadas domésticas, entre outros, que têm seu rendimento referenciado no mínimo.

O governo Lula decidiu aumentar novamente o salário mínimo, a partir do Primeiro de Maio, para R$ 1.320. O valor já era previsto no orçamento aprovado no Congresso Nacional, mas o governo temia o impacto do pagamento dos beneficiários do INSS nas contas públicas. O número está longe do que foi defendido pelas centrais sindicais durante as eleições (R$ 1.342), mas se distancia de Bolsonaro, que abandonou a política de valorização do mínimo, reajustando-o apenas pela inflação durante quatro anos. O primeiro reajuste de Lula, que vale desde Primeiro de Janeiro, havia sido de R$ 90 acima da inflação. Agora, virão mais R$ 18.

Membros da mesma elite que vocifera contra o aumento do salário mínimo acima da inflação, dizendo que a economia não aguenta, são os mesmos que defendem os juros altos do Banco Central, justificando-se que é pelo bem dos mais pobres. Seria ótimo que jornalistas e consultores que xingam quem pede juros menores em veículos de comunicação colocassem ao final de suas análises um disclaimer informando se lucram pessoalmente com esses juros.

Paulo Guedes colocou uma pá de cal na política implementada durante os anos do PT que considerava o INPC do ano anterior e a variação do PIB de dois anos antes para reajustar o mínimo. O ex-ministro da Economia dizia que isso iria estimular o desemprego em massa. Tanto que muita gente do andar de cima trata o fim dessa política como herança bendita de Bolsonaro. É de lascar.

Mas ela levou a um aumento no seu poder de compra e a melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas. O reajuste acima da inflação é uma das ações mais importantes para melhorar a qualidade de vida do andar de baixo. Salário mínimo não é programa de distribuição de renda, é uma remuneração mínima – e insuficiente – por um trabalho realizado. Não é caridade e sim uma garantia institucional de um mínimo de pudor por parte dos empregadores e do governo na relação de compra e venda de mão de obra, a base do capitalismo.

No Brasil, o debate sobre o salário mínimo vem acompanhado de muitas lamentações. Mas aquelas que ganham destaque vêm principalmente de economistas, analistas, empresários, políticos, ou seja, exatamente quem não sobrevive com o mínimo. Uma das defesas mais enfáticas feitas por muita gente cheirosa nos últimos anos foi de que as aposentadorias fossem desvinculadas do mínimo. Pois, para eles, os aposentados não deveriam receber aumentos na mesma progressão que a população economicamente ativa. Em outras palavras, quem pode vender sua força de trabalho merece comer, pagar aluguel, comprar remédios. O governo tem que se preocupar em garantir a manutenção da mão de obra para as empresas. O resto que se dane.

Outra lamentação é o custo desse aumento para o país, como se uma variação positiva não significasse aquecimento na economia de locais de baixa renda, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida de milhões.

O que deve passar pela cabeça de uma pessoa que mora no interior do país, recebe um mínimo e tem que depender de programas de renda mínima quando vê na sua TV especialistas dizendo que quem defende um aumento maior não pensa no país. E, na sequência, vê notícias de perdões de dívidas de grandes empresas. Ou quando descobre que os mais ricos são porcamente tributados, isentos em bilhões da taxação de dividendos que recebem de suas empresas, pagando proporcionalmente menos que a classe média.

Lula prometeu que, até o Primeiro de Maio, Dia dos Trabalhadores, uma nova política para valorização será apresentada, fruto da discussão com as centrais sindicais e empresários. Cobremos isso. A defesa de uma política de valorização real do mínimo não é contra a responsabilidade fiscal, tampouco insinua que os favoráveis a restringir o aumento à correção monetária fazem isso por “maldade”.

Mas abandonar a política usando como justificativa a crise econômica, como foi feito na Era Jair, foi negar coletes salva-vidas um pouquinho melhores para a turma que não tem nada e que, convenhamos, não teria acesso aos botes salva-vidas porque estava na terceira classe quando um iceberg bateu no casco do navio.

Em tempo: De acordo com a Constituição Federal, artigo 7º, inciso IV, o salário mínimo deveria ser “capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim”. De acordo com cálculo mensal feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), desde 1994, isso seria hoje R$ 6.641,58.

Por Leonardo Sakamoto

OS EVANGÉLICOS…

Pesquisa Quaest divulgada na terça-feira (14) mostrou que 29% dos evangélicos rejeitam a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Após a divulgação do levantamento, a “desaprovação” da esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou piada nas redes.

O percentual desses religiosos que aprovam a socióloga é praticamente idêntico (30%). Já entre os católicos, a pesquisa aponta que a reprovação de Janja é de apenas 15%, contra 46% que têm uma avaliação positiva da primeira-dama.

Entre os entrevistados que dizem ser adeptos de outras religiões, a aprovação da esposa do presidente petista é de 52%, enquanto entre os que declaram não ter religião alguma, Janja soma 41% de aprovação. O levantamento também destacou que 41% dizem ver a atuação da primeira-dama como positiva, 22% acreditam que ela é regular e 19% dizem que ela é negativa.

A pesquisa viralizou na web e alguns internautas debocharam dos resultados. “Primeira-dama com popularidade testada em pesquisa pública? Isso é novo”, escreveu William de Lucca. “Se ela e suas ações estivessem repercutindo bem entre os evangélicos, eu me preocuparia muuuuuuuuuuuito!!”, ressaltou outro internauta.

GENTE DE BEM

Em outubro do ano passado, o influencer mirim de extrema-direita Carlos Pilotto, de 14 anos, entrevistou a juíza bolsonarista Ludmila Lins Grilo, da Vara de Infância e Juventude da comarca de Unaí (MG). Na ocasião, ela disse que um dos grandes temores dos pais no Brasil é que suas filhas virem “feministas de cabelo azul”. A simpatizante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi afastada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nesta terça (14) por unanimidade. Ela é investigada por se recusar a voltar ao trabalho presencial mesmo sem autorização e por ter feito postagens em redes sociais com ataques ao Judiciário.

NOSSO DINHEIRO

O refúgio de Bolsonaro na Flórida, por exemplo, tornou-se um desafio à revisão da lei que concede um kit de benesses a ex-presidentes. As férias fugitivas de Bolsonaro já custaram ao contribuinte brasileiro pelo menos R$ 950 mil. Colecionando dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e de consultas ao Portal da Transparência, a Folha esmiuçou as despesas de Bolsonaro. Custou caro sua recusa em passar a faixa ao sucessor. Como a fuga ocorreu na antevéspera da posse de Lula, parte da despesa foi lançada quando o viajante ainda era presidente. A partir de 1º de janeiro, o brasileiro passou a bancar diárias dos assessores que acompanham Bolsonaro nos Estados Unidos.

PITIZENTO

O apresentador Celso Russomanno não se conteve quando uma kombi bateu em seu carrão importado na quinta-feira (16), em São Paulo. Ele desceu do carro e surtou com o motorista, enquanto as pessoas do entorno, que já o haviam reconhecido, começaram a gritar e gravaram a cena. Ele estava estacionado no acostamento e, quando foi sair com o veículo, acabou sendo atingido por uma kombi. Parte do automóvel ficou destruída. A situação virou motivo de piadas. “Acho que alguém está fodido”, disse um homem na gravação. “O cara da Kombi não está errado”, acrescentou, culpando o jornalista.

FRASES DA SEMANA

“Quando você nega a política o resultado é esse: Bolsonaro, Hitler, Mussolini. Quando você nega a política, o resultado é o surgimento do autoritarismo. Foi assim que o fascismo surgiu no mundo e foi assim que o Bolsonaro chegou ao poder.” (Lula)

“Jamais desistirei de nossa pátria. O senhor [Bolsonaro] despertou esse espírito em nós, sabe disso! Sinto orgulho da nossa bandeira, da nossa pátria amada Brasil”. (George Washington de Sousa, preso por tentar explodir uma bomba afixada em um caminhão perto do aeroporto de Brasília)

“A tal ‘mudança climática’ – antes alardeada como aquecimento global – é apenas o pano de fundo para que pessoas autoritárias como Lula se apossem de sua liberdade, obrigando você e sua família a viverem como ele quer”. (Eduardo Bolsonaro, deputado federal e negacionista de raiz)

“Eu quero estar cada vez mais próximo do governo e trabalhar junto com ele, harmonicamente”. (Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, sob pressão do governo Lula para que baixe a taxa de juros)

“Os objetivos do Banco Central são o controle da inflação, a estabilidade do sistema financeiro e a garantia do pleno emprego. Obviamente essa taxa de juros de 13,75%, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada”. (André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real)

“Precisamos montar um grupo de países que se organiza pela paz. Alguém tem que falar para o Putin e o Zelensky para pararem a guerra. Acho que o presidente Biden tem clareza que a guerra tem que parar. E eu disse para ele que temos disposição de conversar”. (Lula)

“Somos as duas maiores democracias do hemisfério, e o Brasil e os Estados Unidos se unem para rejeitar a violência política e os ataques às nossas instituições. Acredito que devemos continuar a defender juntos os valores democráticos”. (Joe Biden, ao receber Lula na Casa Branca)

Já entraram no Congresso!” (Rosa Weberpresidente do Supremo Tribunal Federal, em 8/1, dia do golpe, para Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, que responde: ‘Coloquei todas as forças de segurança nas ruas’. E acrescenta: ‘Estamos cuidando.’”

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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