09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

THAU QUERIDO…

Inferno astral de Bolsonaro está apenas começando

Publicado em 30/06/2023 2:11 - Victor Barone

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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O voto do ministro Alexandre de Moraes nesta sexta, no TSE, durante o julgamento que sacramentou a inelegibilidade de Jair Bolsonaro por oito anos (até 2030), mostra que o inferno astral do ex-presidente está apenas começando. Moraes lembrou o que já havia dito em 2021 – quando a Corte salvou a chapa do então presidente, mas avisou que não toleraria ataques nas eleições de 2022 – que aqueles que atentassem contra a democracia no Brasil seriam julgados inelegíveis “e presos”.

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disse que a conclusão do caso confirma a “fé na democracia”.  O ministro ainda citou “repulsa ao degradante populismo renascido das chamas dos discursos de ódio, antidemocráticos, que propagam infame desinformação produzida, por verdadeiros milicianos digitais”.

Para o presidente do TSE, Bolsonaro quis “influenciar e convencer o eleitor de que estaria sendo vítima de uma grande conspiração do Poder Judiciário”.

Moraes também apontou que houve clara intenção eleitoreira do então presidente da República no encontro com representantes internacionais.

“Monólogo eleitoreiro, a pauta da reunião definida pelo presidente, uma pauta dele, pessoal, eleitoral, num período faltando dois meses e meio para o primeiro turno das eleições. Qual foi essa pauta? Instigar seu eleitorado e eleitores indecisos contra a Justiça Eleitoral, contra as urnas eletrônicas”, disse Moraes sobre a reunião de Bolsonaro com embaixadores em 2022.

Alexandre de Moraes afirmou que o então presidente fez discursos mentirosos sobre supostas fraudes nas eleições, que não podem ser confundidos com liberdade de expressão. “Isso não é exercício da liberdade de expressão. Isso é conduta vedada, e ao fazer isso utilizando do cargo do presidente da República, do dinheiro público, da estrutura do Alvorada, é abuso de poder.”

Moraes também entendeu que a minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres é um documento grave, mas que o foco do julgamento é a reunião com os embaixadores.

O ministro também citou os ataques feitos por Bolsonaro aos membros do Poder Judiciário, a exemplo do próprio ministro. “O presidente acordou nervoso um dia, quis desopilar fígado. Vamos atacar. E aí, quem vamos atacar. Vamos atacar o TSE. O Supremo ficou na outra semana o ataque, o ministro Alexandre foi nas três anteriores.”

“A Justiça é cega, mas não é tola”, afirmou Moraes. “Não podemos aqui confundir a neutralidade da Justiça, o que tradicionalmente se configura com a fala a Justiça é cega, com a tolice. A Justiça Eleitoral não é tola. É muito importante salientar que o julgamento criasse um precedente para impedir a disseminação do ódio, a disseminação da desinformação, da conspiração, do ataque à Justiça Eleitoral.”

Como foram os votos no julgamento

O primeiro voto foi do relator da ação, o ministro Benedito Gonçalves, que foi favorável à inelegibilidade de Bolsonaro. Ele afirmou que o político foi “integral e pessoalmente” responsável pela concepção intelectual e realização da reunião.

Ontem, três ministros votaram —Raul Araújo divergiu do relator. Nas últimas semanas, o ministro vinha sendo pressionado por aliados de Bolsonaro para pedir vista (mais tempo para análise), o que poderia adiar o processo por 30 ou até 60 dias.

Alguns dos ministros, como Cármen Lúcia, chegaram a interromper Raul para contestar as citações dele à minuta golpista. No início do voto, ele se manifestou contra a inclusão do documento encontrado na casa do ex-ministro Anderson Torres. Os integrantes da Corte afirmaram que o “foco” do julgamento foi a reunião convocada por Bolsonaro com embaixadores.

Terceiro a votar, Floriano de Azevedo Marques Neto seguiu o relator e apontou intenções eleitoreiras de Bolsonaro ao convocar a reunião. O ministro disse que ter um entendimento contrário a isso seria dar uma “pirueta”.

André Ramos Tavares também foi favorável à inelegibilidade. Para o ministro do TSE, não houve um “mero diálogo institucional”, mas uma fala coordenada para manipular com mentiras os eleitores.

Na sessão de hoje, a ministra Cármen Lúcia proferiu um voto rápido e sucinto pela condenação de Bolsonaro. A magistrada citou os ataques do ex-presidente a membros do Judiciário e reiterou que Jair sequer respeitou o cargo que ele mesmo ocupava.

Nunes Marques defendeu o sistema de votação brasileiro, classificado por ele como “seguro, avançado e confiável”, mas negou que haver gravidade suficiente para condenar Bolsonaro.

Por fim, Alexandre de Moraes leu seu voto pela condenação, completando o placar em 5 a 2 contra o ex-presidente.

Jair Bolsonaro é o terceiro ex-presidente do Brasil a se tornar inelegível após a redemocratização. É ainda o primeiro condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que formou maioria entre os ministros com essa decisão.

A ação contra Bolsonaro foi movida pelo PDT e julgada pelo TSE. Os juízes entenderam que Bolsonaro cometeu abuso de poder político e fez uso indevido dos meios de comunicação.

O ex-presidente fica inelegível por oito anos e, se não houver recursos favoráveis, só voltará a poder disputar uma eleição em 2030.

Confira os memes publicados nas redes sociais.

CAGÃO

O influenciador Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark, prestou depoimento à Polícia Federal (PF) na quinta-feira (29) e, diante dos investigadores, mudou totalmente de postura. Estridente, valente e convicto nas redes sociais, ele afirmou aos policiais que “não tem certeza” de que houve fraude nas eleições – recuando com relação às declarações que faz em seu programa online “Monark Talks”.

O depoimento do influenciador e podcaster foi tomado após ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de um desdobramento do inquérito que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. Contumaz divulgador de notícias falsas, Monark, que já chegou a defender a legalidade de um partido nazista nos dias atuais, recentemente xingou Moraes de “anticristo do caralho” em seu programa após o ministro determinar o bloquei de seus perfis nas redes sociais por divulgação de notícias falsas sobre o processo eleitoral e ataques às instituições.

CONVERSA DE BÊBADO

Mônica Bergamo publica na Folha uma ótima entrevista com Bolsonaro. Nela, o capitão exibiu uma conversa de bêbado. Às vésperas de ter os direitos políticos castrados por oito anos, repetiu que é imbrochável. Após fuzilar o próprio pé, numa sequência de erros que levaram à derrota de 2022, assegura que dispõe de uma bala de prata capaz de definir os rumos de 2026. “Mas não vou revelar!”

Zonzo, Bolsonaro exibIU uma retórica de botequim. Sua retórica de bêbado continua repleta de falta de compostura e de asneiras. Entre uma expressão chula (“porra”) e outra (“merda”), referiu-se ao golpismo que levará à sua inelegibilidade como uma grande conspiração. Não atacou as urnas na reunião com os embaixadores estrangeiros. O bolsonarismo radical é feito de “senhorinhas com Bíblia debaixo do braço” e “senhorzinhos com a bandeira do Brasil nas costas”. O 8 de janeiro foi coisa de infiltrados. Nessa versão, o encontro com embaixadores foi um evento diplomático e o golpismo que veio antes e depois foi um complô das imagens de TV mancomunadas com militares relaxados, financiadores distraídos e centenas de patriotas que depredaram os Três Poderes na frente das crianças.

Indagado sobre o que fará depois do veredicto do TSE, Bolsonaro disse: “Não vou me desesperar”. Em seguida, numa evidências de está fora de si, declarou que, “num julgamento justo, serei absolvido por unanimidade”. Ou seja: Bolsonaro perde as urnas, mas não perde a pose.

Bolsonaro demora a aprender que a política não é feita apenas de poses. Por trás da pose é preciso que exista uma noção qualquer de respeito à inteligência alheia. No curto prazo, a pose de vítima pode render dividendos. O poder de influência de Bolsonaro tende a decrescer na proporção direta do interesse do eleitor conservador de encontrar uma opção sóbria na direita nacional.

Por Josias de Souza

DÁ UM DINHEIRINHO AÍ

A campanha lançada por aliados de Jair Bolsonaro que pede doações via Pix para cobrir as multas determinadas pela Justiça ao ex-presidente motivou críticas duras por parte de Abraham Weintraub, que foi ministro da Educação no governo passado. “Vamos lá, tchutchucas do centrão! O cafetão precisa do seu Pix! Liberem todo esse patriotismo de vocês…”, escreveu ele no Twitter, na noite de ontem. A postagem tem como ilustração a foto de mulheres em local que seria um ponto de prostituição.

Em outro tuíte, Weintraub pergunta: “Venderá alguma das várias mansões da família Bolsonaro? Ou as jóias, as barras de ouro rose, um relógio? Trará os dólares dos Estados Unidos? Pegará mais dinheiro com o Valdemar? Não! Ele quer PIX!”.

A campanha de doações foi divulgada por influenciadores e parlamentares bolsonaristas, que consideram que o ex-presidente é alvo de “assédio judicial” e por isso necessita de ajuda para quitar “diversas multas em processos absurdos”. Os políticos mais ativos na campanha são os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO), André Fernandes (PL-CE) e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG). Com a remuneração como presidente de honra do PL, aposentadoria do Exército e da Câmara dos Deputados, Bolsonaro ganha mensalmente cerca de R$ 75 mil.

NINHO DE FASCISTAS

De maneira inacreditável, o perfil oficial da Polícia Rodoviária Federal de Sergipe divulgou uma campanha de arrecadação de fundos via Pix para o ex-presidente Jair Bolsonaro. A publicação diz o seguinte: “Acreditamos que ele ainda tem sua cidadania brasileira e merece todo o nosso apoio como pátria!”, escreveu a corporação.

CRONOLOGIA

Um vídeo que está bombando nas redes, mostra de maneira cronológica o que aconteceu com o país desde a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De uma hora para outra, os preços dispararam e parte da população se viu obrigada a disputar pedaços de ossos e restos de lixo para poder comer. Imagens mostram também a disparada dos preços da gasolina, a queda do PIB, a alta do dólar e o descrédito do país no exterior. Pouco tempo depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a economia dá claros sinais de mudanças. Os preços começaram a cair e o povo pôde voltar a consumir. O dólar também dá sinais de queda, o PIB voltou a crescer e, pela primeira vez em quatro anos, a agência de classificação de risco, a Standard & Poor’s, melhorou a perspectiva econômica que ela tem do Brasil.

RACISTA

O deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) disse que africanos e brasileiros são “burros” e comparou a inteligência deles a de um macaco. O parlamentar ainda chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “bandido” e disse que o Senado é “comprado”. As declarações foram feitas durante o podcast Três Irmãos.

https://youtu.be/OVynP6mlK-o

A deputada Duda Salabert (PDT-MG) anunciou em suas redes sociais que fará uma representação contra Gayer.

FRASES DA SEMANA

“Um cara pode ser terraplanista, fazer parte de clube da borda infinita, mas não pode pregar isso como um professor em escola pública.” (Floriano de Azevedo Marques, ministro do Tribunal Superior Eleitoral, ao votar pela condenação de Bolsonaro)

“A vida prossegue. A política tem horror a vácuo. Ela substitui as peças com muita rapidez e organiza uma fuga para frente”. (Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, sobre o Brasil depois da punição a Bolsonaro)

“Em razão da relevância e da performance discursiva para a vida política, é impossível fechar os olhos para efeitos antidemocráticos de discursos violentos e de mentiras que ponham em xeque a credibilidade da Justiça”. (Benedito Gonçalves, ministro do Tribunal Superior Eleitoral)

“Eu não vou me desesperar. O que que eu posso fazer?  Eu sou imbrochável até que se prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte.” (Bolsonaro, em entrevista à Folha de S. Paulo)

“Na volta ao Brasil fiquei surpreso: não tinha ninguém da ‘esquerda democrática’ para me prender no aeroporto por meu grande crime: prender seus corruptos de estimação”. (Deltan Dallagnol, ex-deputado federal cassado)

“Estou pensando em ser candidato a vereador no Rio de Janeiro. Qual é o problema? Não há demérito nenhum. Até vou me sentir jovem. Geralmente a vereança é para a garotada, para o mais jovem, é o 1º degrau da política.”. (Bolsonaro, que tão cedo será candidato a qualquer coisa)

“Não se trata de o governo brigar com o Banco Central. Quem briga hoje com o Banco Central é a sociedade brasileira. As pessoas que precisam de crédito para tocar a economia e tocar a sua atividade estão brigando com a taxa de juros. É irracional o que acontece no Brasil.” (Lula)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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