09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Tá na hora de Jair vazar…

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 16/12/2022 1:32 - Victor Barone

Divulgação Reprodução

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Caminhões de mudança foram flagrados entrando no Palácio do Alvorada, em Brasília, na tarde de quinta-feira (15). A movimentação na residência oficial da presidência da República acontece a 15 dias da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está marcada para 1 de janeiro de 2023.

A chegada dos caminhões de mudança podem significar a saída da família do presidente Jair Bolsonaro (PL) do Alvorada, frustrando os bolsonaristas que, ainda acampados, insistem nas teses golpistas, imaginando uma improvável resistência do atual mandatário.

Além de Jair Bolsonaro, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a filha mais nova do casal, Laura Bolsonaro, vivem no local.

ENFIA A FAIXA NO *

O presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu que não entregará a faixa presidencial ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na posse que ocorrerá dia 01 de janeiro de 2023. De acordo com a coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, ele já teria comunicado a decisão aos seus aliados. Dessa forma, Bolsonaro quebrará o protocolo tradicional, em que o mandatário sainte passa a faixa para o entrante, em um gesto meramente simbólico.

Nos últimos dias, chegou a ser cogitada a possibilidade de Bolsonaro levar a faixa embora, em vez de deixá-la no Palácio. A preocupação cresceu dentro da organização da cerimônia de posse de Lula. A equipe de organização da posse quer se assegurar, na próxima semana, de que a faixa esteja intacta e em segurança.

Desde a redemocratização do país em 1985, somente um presidente negou-se a transferir a faixa ao seu sucessor, escafedendo-se pela porta dos fundos do Palácio do Planalto – João Baptista de Oliveira Figueiredo, o último do ciclo dos generais da ditadura militar de 64 que suprimiu a democracia por 21 anos.

A democracia foi suprimida sob a esfarrapada desculpa de que o comunismo a ameaçava. O presidente eleito Tancredo Neves baixou ao hospital na véspera de ser empossado. Figueiredo recusou-se a passar a faixa ao vice, José Sarney, porque não gostava dele. Na verdade, foi embora por uma porta lateral.

Filhote da ditadura, afastado do Exército por ter planejado atentados terroristas a quartéis, Bolsonaro quer repetir o gesto de Figueiredo que não fez nenhuma diferença para Sarney. O general recolheu-se ao seu sítio em Petrópolis, reformado de graça por empreiteiras que prestaram serviços ao governo.

Por Ricardo Noblat

MUDINHO

A palavra que se ouviu durante a ação dos terroristas no centro de Brasília não foi a do ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Anderson Torres, que jantava tranquilamente no restaurante Francisco, mas a do seu sucessor escolhido por Lula, o senador Flávio Dino (PSB-MA). A palavra que secundou a de Dino também não foi a do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), mas a do seu Secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo Souza Ferreira. À coluna Grande Angular, do Metrópoles, Ibaneis limitou-se a dizer por telefone: “Vamos reforçar o policiamento e prender os vândalos”.

Bolsonarista de carteirinha, Anderson Torres foi Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal nos primeiros dois anos do governo Ibaneis. Deverá voltar ao cargo a partir de 1º de janeiro. De lá, poderá continuar servindo a Bolsonaro, que irá morar numa mansão do Lago Sul alugada por seu partido, o PL.

Por Ricardo Noblat

PARA TUDO

André Mendonça, o ministro terrivelmente evangélico nomeado por Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal (STF), completará um ano no cargo como o juiz que mais suspendeu julgamentos em 2022 mediante pedidos de vista de processos.

Ele pediu vista de 49 processos julgados em plenário pelos 11 ministros da Corte de forma virtual ou presencial. Gilmar Mendes pediu de 29, Ricardo Lewandowski de 16, Kássio Nunes de 12, e Alexandre de Moraes de 11. Rosa Weber não pediu de nenhum.

Na Segunda Turma do STF, composta por Mendonça e mais quatro ministros, ele também foi o que mais pediu vista: 62 vezes, contra 23 de Gilmar. Nenhum dos ministros da Primeira Turma fez tantos pedidos de vista.

Por Ricardo Noblat

BUGADOS

Recém-demitido da CNN juntamente com outros 125 profissionais da emissora, o historiador Leandro Karnal provocou uma espécie de bug coletivo entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que o seguem no Instagram com uma publicação irônica sobre os atos terroristas desencadeados pelos golpistas que tomaram as ruas de Brasília na última segunda-feira (12).

RICO E FASCISTA

O Twitter de Elon Musk suspendeu pelo menos seis perfis de jornalistas que fazem a cobertura sobre tecnologia. Na lista estão nomes de profissionais como Donie O’Sullivan, da rede de TV CNN, Ryan Mac, do jornal “The New York Times”, e Drew Harwell, do “The Washington Post”, entre outros. A rede social ainda não explicou o que motivou a suspensão das contas. Segundo informou o NYT, em comum, os jornalistas suspensos faziam a cobertura sobre tecnologia ou haviam produzido textos críticos em relação a Musk, bilionário que comprou a rede social por US$ 44 bilhões em outubro. “Elon diz que é um defensor da liberdade de expressão e impede que os jornalistas exerçam a liberdade de expressão. Acho que isso questiona o compromisso deles”, protestou Harwell à CNN.

TIC TAC…

O blogueiro bolsonarista, Allan dos Santos, fundador do site bolsonarista Terça Livre, foi condenado pela 6ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) a indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, por ofender a honra da repórter. O desembargador Costa Netto, relator do caso, destacou que as expressões de cunho sexual usadas por Santos para desqualificar Patrícia não estão protegidas pelo direito à liberdade de expressão, como decidiu o juiz Daniel Serpentino, da 12ª Vara Civil de São Paulo, ao negar o pedido de indenização em primeira instância, em agosto de 2021. Foi determinada uma indenização de R$ 35 mil pelos danos causados a Patrícia. A decisão foi unânime. O voto do relator foi seguido pelas desembargadoras Ana Maria Baldy e Maria do Carmo Honório. A defesa de Santos ainda pode recorrer contra a decisão.

BELLA CIAO

O ministro das Comunicações do governo de Jair Bolsonaro (PL), Fábio Faria, foi recebido em um restaurante de Brasília ao som de “Bella Ciao”. De acordo com a âncora da GloboNews Natuza Nery, assim que o reconheceu, a cantora que se apresentava no estabelecimento começou a cantar o canção antifascista. Bella Ciao (traduzida popularmente em português como Querida, Adeus) é uma canção popular italiana anônima, provavelmente do século XIX, que foi resgatada durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou uma música de resistência e combate ao fascismo. Ainda segundo Natuza, todos os presentes no local começaram a cantar juntos, em “homenagem” ao ministro. A jornalista perguntou à fonte que contou a história a ela: “mas será que ele entendeu?”. “Acho que ele não entendeu o significado da música”, respondeu.

FRASES DA SEMANA

“O presidente nos disse que acha que vai ser preso pelo STF. Está com medo e nós também. Vejo isso acontecendo. Estamos ameaçados pelo STF. Agora, estou com medo de me posicionar na tribuna e das consequências disso”. (Carlos Portinho, PL-RJ, líder do governo Bolsonaro no Senado)

“Despeço-me do Senado, não da vida pública. Não sei aonde a vida vai me levar, mas farei política enquanto viver. Continuarei a lutar pelo fim desta situação em que somos um país com tanta desigualdade social”. (Simone Tebet, com um pé dentro do governo Lula e o outro fora)

“Perdi 3 eleições. Nas 3, voltei para casa, chorei e me preparei para ganhar a próxima. Um dia, ganhei. Todas as vezes que perdi, respeitei quem ganhou. E telefonei ao vitorioso, cumprimentando-o pela vitória. Até hoje, o presidente que sai não reconheceu a derrota.” (Lula)

“Se a pessoa diz que tem uma arma, é preciso provar que a arma existe, e onde está. E haverá, com efeitos futuros, vedação a compra de fuzis e metralhadoras. Isso é absolutamente descabido.” (Flávio Dino, ministro da Justiça e da Segurança Pública de Lula)

“Estou destruído psicologicamente. Essa com certeza foi a derrota que mais me doeu, que me fez ficar paralisado durante 10 minutos e logo após caí no choro sem parar. Vai doer por muito tempo, infelizmente.” (Neymar, depois que o Brasil foi eliminado da Copa do Catar)

“Se a gente tiver um golpe neste país eu não sei como vai ser”. (José Múcio Monteiro Filho, futuro ministro da Defesa, que considera os próximos dias os mais difíceis até que Lula tome posse)

“Atentar contra a democracia é crime e deve ser tratado dessa forma. Tem que ter paciência, o Executivo, resiliência. Isso é coisa de menino mimado, que perde o jogo, pega a bola e leva embora”. (Geraldo Alckmin, vice-presidente da República eleito)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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