09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Não vai deixar saudades

Incapaz de sentir empatia por qualquer um que não seja ele próprio, Bolsonaro só pensa em seu futuro...

Publicado em 11/11/2022 3:53 - Victor Barone

Divulgação

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Depois de quatro anos de insensibilidade diante da fome, da morte, da arte, enfim, de tudo o que nos faz humanos, qualquer demonstração de humanidade nos faz arrepiar. Quando ela vem de um futuro presidente da República, nos sentimos um pouco menos atolados no terraplanismo que inundou o Brasil. O choro do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enquanto falava da fome no Brasil em seu discurso no gabinete de transição de governo, no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília, foi genuíno, revigorante, esperançoso. Tão diferente do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que parece incapaz de perceber o outro ao seu redor e cujas lágrimas vertem apenas para si próprio e os seus. Bolsonaro é incapaz de sentir empatia por qualquer um que não seja ele mesmo e sua prole. “O objetivo de Jair Bolsonaro é Jair Bolsonaro. No caso de Lula, você tem um choro real com relação a 33 milhões de pessoas que estão passando dificuldades e ele sempre falou disso durante toda a campanha”, lembrou o jornalista Leonardo Sakamoto. A partir do dia 1º de janeiro, quando o petista assumir o governo, o Brasil passará a ser um país com mais empatia.

MILITARES DELIRANTES

O resultado das eleições presidenciais deixou buliçoso o pedaço bolsonarista das Forças Armadas. Nas últimas 48 horas, vieram à luz três notas oficiais de militares. Todas inadequadas. Na mais recente, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica encostam as forças que representam nos delírios golpistas de Bolsonaro. Sustentam, com outras palavras, que são justificáveis os atos antidemocráticos que clamam na frente dos quarteis por uma intervenção qualquer dos militares para reverter a vitória de Lula. Tanto rebuliço não serve senão para evidenciar a necessidade urgente de devolver a chefia do Ministério da Defesa a um civil.

Ao confundir cargo com propriedade e bagunça com atividade, Bolsonaro levou as “minhas Forças Armadas” a confundirem general com generalidades. Habituados a ordenar o transporte de urnas, os comandantes militares acharam que poderiam também fiscalizar a mercadoria. Deu em humilhação. Abespinhados com o teor do relatório sobre a inspeção em que os militares não encontraram fraudes nas urnas, os bolsonaristas que tomaram chuva pedindo golpe militar promoveram uma intervenção civil nos perfis do Ministério da Defesa nas redes sociais.

Assustado com a invasão digital, Paulo Sérgio Nogueira, o general que ainda comanda a escrivaninha de Ministro da Defesa, explicou numa segunda nota que os militares não acharam inconsistência nas urnas, mas também não excluíram a hipótese de ter ocorrido fraude no processo eleitoral. Foi como se o general gritasse para os golpistas: “Não esmoreçam!”

Os repórteres correram para perguntar ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes, se o conflito entre a farda e a Justiça Eleitoral não teria mais fim. E ele: “Já acabou faz tempo”. Ou seja: no momento, os “generais” de Bolsonaro guerreiam apenas contra suas generalidades e contra a intervenção civil que os bolsonaristas realizam nas redes sociais militares.

Passa da hora de reacomodar um civil no Ministério da Defesa. Em respeito à historiografia, convém registrar que foi Michel Temer, não Bolsonaro, quem inaugurou a perversão de confiar a chefia da Defesa a um militar. A coisa foi desvirtuada em 2018, quando Temer nomeou para o posto como o general Joaquim Silva e Luna. Ouvido na época, Fernando Henrique Cardoso, que havia criado a pasta da Defesa 19 anos antes, declarou que colocar um civil acima dos comandantes das três forças militares era importante porque simbolizava o poder que deveria prevalecer numa democracia. É hora de expurgar a política dos quarteis, recolocando as Forças Armadas sob o poder civil.

Por Josias de Souza

SUMIDO

Recluso no Palácio da Alvorada desde a eleição de Lula em 30 de outubro e após quase uma semana de silêncio, Bolsonaro voltou a trabalhar? Não, postou uma foto em suas redes sociais. Uma foto de julho, quando sua candidatura à reeleição foi lançada durante a convenção do PL no Rio de Janeiro. Ele acreditou até o último momento que venceria Lula – decepcionou-se. Calou-se desde então e só apareceu duas vezes no Palácio do Planalto. A primeira no dia seguinte à derrota, e por poucas horas. A segunda na última quinta-feira, dia 3, por meia hora, se tanto. Fez falta? A impressão é que não. O país respira melhor. Bolsonaro nunca foi de pegar no pesado. Não será agora que vai pegar. O Brasil só tem a ganhar se ele se mantiver inativo até o fim.

Por Ricardo Noblat

VERGONHA ALHEIA

Um repórter da rede TMC (Téle Monte-Carlo), uma emissora franco-monegasca de língua francesa, foi ao Rio de Janeiro acompanhar uma manifestação golpista de seguidores do presidente derrotado nas urnas Jair Bolsonaro (PL) e ouviu de um radical entrevistado que “Macron era de esquerda”, além de outros delírios sobre a situação política brasileira. Ao voltar para o âncora que estava no estúdio, o profissional foi perguntado pelo apresentador se realmente tinha ouvido certo, que “Macron era de esquerda”. O repórter, incrédulo, diz que, na verdade, o bolsonarista “está convencido de que o presidente francês é comunista”, momento em que todos caem na gargalhada.

IMAGINE SE FOSSE O MST…

Viaturas da Polícia Rodoviária Federal foram atingidas por manifestantes golpistas em Novo Progresso, no sudoeste do Pará, na manhã Do dia 7. Os policiais tentavam desbloquear trecho da BR-163 quando foram atacados. Houve disparo de tiros, um policial rodoviário foi ferido e uma criança teve de ser atendida por intoxicação devido ao uso de gás. Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado no segundo turno, fizeram disparos, arremessaram pedras, cadeiras e rojões contra as viaturas, que saíram às pressas, em meio a gritos e palavrões dos manifestantes. Eles pedem intervenção militar e não aceitam a eleição do presidente Lula. Bolsonaro recebeu 83% dos votos válidos no município paraense de 26 mil habitantes.

E SE FOSSE O PT…

Policiais rodoviários federais foram agredidos por manifestantes bolsonaristas que pediam “Intervenção Militar”, na segunda-feira (7), em frente a uma loja da Havan, no km 139 da BR-470 em Rio de Sul, Santa Catarina. De acordo com a PRF, os manifestantes bloquearam totalmente a rodovia por volta das 10 horas. Vídeos gravados por clientes da loja mostram o momento em que os policiais foram agredidos pelos manifestantes golpistas. Cadeiras, barras de ferro e até mesmo uma churrasqueira portátil são atirados contra os agentes da PRF que acabaram recuando. A tropa de choque da Polícia Militar precisou ser chamada para dispersar a confusão e desbloquear a rodovia.

A SAÚDE MORAL DO GENERAL…

Durante encontro com Bolsonaro, no fim de semana passado, o general Augusto Heleno recebeu do Gabinete de Segurança Institucional a informação de que não era procedente o boato difundido nas redes bolsonaristas de que Lula estaria internado num hospital. Ao deixar o Palácio do Alvorada, o general parou para comunicar a novidade aos cerca de 30 devotos do bolsonarismo que faziam plantão no cercadinho: “Esse negócio do Lula estar doente… Não está, infelizmente”. O incômodo de Heleno com saúde de Lula é doentio. Revela que o general sofre de bolsonarite aguda. Essa moléstia tem sintomas muito parecidos com os da estupidez.  A única diferença entre a estupidez e a bolsonarite é que a estupidez tem cura.

NÃO ESQUEÇAM DE MIM!

Em desabafo testemunhado por um par de auxiliares, Jair Bolsonaro queixou-se da decisão de Luiz Inácio Lula da Silva de comparecer à conferência climática da ONU, a COP27, no Egito. Chamou o sucessor de “usurpador”. Acusou-o de vestir a faixa presidencial antes da hora. “Ainda sou o presidente, porra!”, declarou, como se desejasse convencer a si mesmo de que nada mudou.

O BABACA DO CAMINHÃO

Protagonista de uma enxurrada de memes após andar agarrado no para-brisas de um caminhão por quilômetros na tentativa de evitar que um caminhoneiro furasse o bloqueio montado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) na altura do km 130 da BR-232, em Caruaru, no agreste Pernambucano, o comerciante Junior Cesar Peixoto deixou o Facebook e fechou seu perfil no Instagram.

PADRE DE FESTA JUNINA

As birras de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) após a derrota nas urnas para Lula (PT) no dia 30 de outubro ganhou mais um vídeo surreal. Administrador da Paróquia Imaculado Coração de Maria, em Nerópolis (GO), o padre Danilo Joaquim Costa Neto teve um chilique durante o sermão e abandonou a missa após mandar os fiéis que “fizeram o L”, em relação aos eleitores de Lula, deixar a Igreja. No vídeo, divulgado pelo site Mais Goiás, o pároco discute com uma suposta apoiadora de Lula. Defensor de Bolsonaro, ele arranca a batina em meio ao bate-boca e abandona a missa.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO PLANALTO

Um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro (PL) no Nordeste em 2018, que rompeu com o clã após troca de insultos com Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Julian Lemos (União-PB), afirmou em entrevista ao podcast Arretado que o presidente bate na primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O jornalista Ricardo Noblat, do site Metrópoles, foi às redes sociais e afirmou que a primeira-dama também foi vítima de um “safanão” de Carlos Bolsonaro (PL-RJ), fruto do primeiro casamento do presidente, com Rogéria Nantes. “Michelle não perdoa o safanão que levou de Carlos Bolsonaro depois da derrota do pai dele. Deixou-lhe marcas na alma. E Bolsonaro, seu marido, ficou do lado do filho”, tuitou Noblat.

DOIDAÇA

A atriz Cássia Kiss afirmou, em meio a manifestantes que não aceitam o resultado das eleições, que não vai deixar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) governar. Em um discurso confuso e perturbado, a atriz da Globo afirmou coisas desconexas, usou países vizinhos como a Venezuela e a Argentina como exemplo e disse que Jair Bolsonaro deu para o país de presente a “verdade”.

BENJAMIM ARROLA

Afoito por disseminar mensagens contra a democracia, o ex-campeão do UFC, Vitor Belfort, caiu em uma pegadinha ao compartilhar em suas redes sociais uma fake news sobre o resultado das eleições presidenciais. Apoiador de Jair Bolsonaro, Belfort publicou uma notícia falsa de que um suposto general das Forças Armadas, chamado de Benjamin Arrola, teria dado 24 hora ao Tribunal Superior Eleitoral para dar explicações sobre o que ocorreu, sem explicar o que estaria errado. Depois de passar vexame nas redes sociais, Belfort ainda tentou lacrar com um vídeo publicado no Instagram (assista abaixo).

GENTE DE BEM

A dona de um restaurante localizado no município de Conde, no litoral da Paraíba, identificada como Ana Luiza Mendonça, usou o Instagram para comemorar a morte da cantora baiana Gal Costa, um dos maiores ícones da música brasileira. “Já vai tarde, petista”, escreveu a empresária.

FRASES DA SEMANA

“A questão de violência contra mulheres. Alimentação é outro compromisso importante. Garantir a alimentação. E a questão do racismo. Que é uma coisa que a gente não consegue mais admitir na sociedade”. (Janja, mulher de Lula, sobre as prioridades do novo governo)

“Ninguém vai acreditar em discurso golpista de quem perdeu as eleições. Eu perdi três. Cada vez que perdia, ia para casa lamentar. Cabe ao presidente reconhecer a derrota, fazer uma reflexão e se preparar para daqui a uns anos. É assim o jogo democrático.” (Lula)

“Concluímos que não houve qualquer fato que aponte suspeita de irregularidades no processo de votação. Evidenciou-se, ao contrário, a postura transparente da Justiça Eleitoral na preservação da lisura e da segurança no processo”. (Relatório da Ordem dos Advogados do Brasil)

“Desde que foi derrotado por Lula, Bolsonaro nunca mais trabalhou. São 7 dias sem sequer comparecer ao local de trabalho. Todo mundo já sabia que ele gosta da vadiagem com dinheiro do povo. Mas não seria o caso de uma justa causa?” (Renan Calheiros, senador do MDB)

“A luta pelos direitos da mulher é uma luta contínua. Devemos continuar a lutar, porque as mulheres são um dom. Deus não criou o homem e depois lhe deu um cachorrinho para se divertir. Não. Criou os dois, iguais, homem e mulher.” (Papa Francisco)

“O Bolsonaro será o líder da oposição, que será feita sem tréguas. Exatamente como fizeram conosco. Eles não terão sossego.” (Paulo Guedes, ministro da Economia)

“Dispensamos o perdão de Edir Macedo. Ele é quem precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso”. (Gleisi Hoffmann, presidente do PT)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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