09/05/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Mais Borics e Mujicas, menos Maduros ou Kirchners

Raphael Tsavkko Garcia fala dos tropeços da esquerda para, de fato, ser esquerda e atual

Publicado em 12/04/2023 10:20 - Raphael Tsavkko Garcia

Divulgação Imagem: Paul Klonowski

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Venezuela é o modelo de certos setores do PT, pra gente ver a desgraça, Argentina idem.

Minha esquerda é a do Chile e a do Uruguay (que infelizmente perdeu as últimas eleições). Chile e Uruguay são países onde direita e esquerda se alternam sem radicalismos, sem fascismo de um lado ou aquele socialismo maluco de “contas públicas são coisa de neoliberal” do outro. Existe espaço pra diálogo, pra construção.

Boric e Mujica são exemplos a serem seguidos, não Maduros ou Kirchners da vida, que tem levado seus países à ruína (sob aplausos de uma esquerda anacrônica que insiste em seguir viva).

Mesmo com o Boric teoricamente bem mais à esquerda que a esquerda tradicionalmente eleita por lá (Concertação), pouco deve mudar porque o cara é democrático até o talo e tem consciência. São países (Chile, Uruguay) que acharam um equilíbrio invejável (Costa Rica, mais ao norte, idem).

Já a Colômbia mostra o perigo da direita radical no poder (que sequer controlava todo o território nacional). Que Petro tenha espaço pra mudanças e se inclua na esquerda Mujica/Boric e não na esquerda maluca de certos vizinhos.

Curioso é o Peru, que mesmo em meio à crises e quedas de presidentes se manteve estável.

O IMPORTANTE…

Também poderíamos ter no STF um anão, um indígena, uma mulher trans, um homem trans um “demissexual”, um ~genderfluid~, um pansexual, um…

Que tal um progressista? Pode ser que ele ou ela seja branco, negro, gay, hétero, etc…. É irrelevante. Ou melhor, relevante é a ideologia. É o que a pessoa defende.

Vamos lá, representatividade tem sua importância? Sem dúvida. Mas não é tudo. Sérgio Camargo que o diga.

Enfim… Aliás, seria interessante que a turma lacradora desse nomes, mas só jogam pra torcida. “QUEREMOS UM (coloque sua minoria)”. Legal, quem? Seria muito mais fácil indicarem um nome sólido e fazerem lobby por ele do que simplesmente espernearem que querem porque querem algo absolutamente genérico.

“ah, mas não é obrigação deles”… Ok, então não dá pra reclamar depois que não escolheram alguém genérico de uma minoria genérica – aliás, qual a correta? Quem tem mais direito? Quem ai primeiro? Porque já partimos do princípio de que é impossível contemplar todo mundo. Como fica?

Se a própria militância não sabe quem poderia ser indicado ou sequer se importa em pensar nisso….

Como escreveu a Madeleine Lacsko (https://is.gd/uvBJgO): “A escolha de mulheres e negros para posições de destaque não garante inclusão de mulheres e negros, é mais simbólica do que prática. Não faltam exemplos recentes que não nos deixam mentir.”

Digo isso sempre: Representatividade é conceito em si vazio. É preciso qualidade, é preciso qualificar. Sim, é claro que o ideal é você ter diversidade, um STF multicolorido seria lindo, a questão é COMO. A diversidade pela diversidade não leva a nada. Pelo contrário, ela é prejudicial.

Imaginem uma Janaína Paschoal no STF. Oras, uma mulher a mais! Imaginem um cenário (qualquer um, não precisa ser o STF) com Damares, com Hélio Bolsonaro, Sérgio Camargo, Fernando Holiday…. Será que essa “diversidade” seria positiva para o país – ou mesmo para a própria noção de diversidade?

Porque é curioso como militantes identitários radicais querem porque querem um membro da minoria X, Y, Z, mas na hora de lidar com Holidays da vida reclamam que ele é “capitão do mato”.

Ou seja, concordamos que diversidade precisa ser qualificada aqui?

Felizmente o Lula já freou os anseios dos identitários mais radicais (https://is.gd/RKKTzy) e não vai indicar “minoria” apenas por fazê-lo. Sejamos honestos, cargos como o de ministro do STF é estratégico. Não é cargo pra fazer militância. Políticas de Estado não podem ser pautadas ou definidas por quem grita (mais) alto no Twitter.

MANDATO COLETIVO?

Uma das invenções mais estúpidas na política nacional é o tal do mandato coletivo. Mas ainda mais ridículo é a insistência em algo que simplesmente não tem base legal. Na prática uma pessoa é eleita e as outras fingem que foram também e acabam se tornando aspones no gabinete.

Ok, tem trouxa pra tudo nesse mundo, então quem quiser eleger 5 pessoas quando na prática apenas está criando cabide de empregos que seja feliz. O problema é quando a turma da mutreta da esquerda tilelê acaba acreditando na própria fantasia e nos garante cenas patéticas como a que rolou em Salvador, onde uma “co-vereadora” (cargo inexistente) simplesmente resolveu tomar o lugar da vereadora de verdade e discursar em seu lugar.

O problema?

Não existe isso de co-vereança. Só quem pode discursar na tribuna é quem foi eleito(a). É a vereadora e não a fantasia ursinhos carinhosos de “mandato coletivo”. É uma e só uma, não 2, 5 ou 10.

Tudo poderia se limitar a um constrangimento passageiro, a um drama irrelevante de uma esquerda que se preocupa mais em aparecer do que em fazer alguma coisa de útil… Mas não. Dobraram a meta.

Uma deputada capixaba resolveu tomar as dores e…. Não podia vir nada que prestasse.

Eis que a tal co-vereadora calhou de ser mulher e negra (aparentemente não é LGBT, senão alguém poderia gritar BINGO!), então é óbvio que pra esquerdinha identitária o fato da lei não reconhecer moda de militante é misoginia e racismo.

A co-vereadora (cof, cof) foi claramente vítima e como aparentemente ela se recusou a se retirar do local onde não deveria estar, ela agiu como…. ROSA PARKS!

Sim, chegamos no ponto em que por uma infantilidade militante de “mandato coletivo” ganhamos nossa própria Rosa Parks na luta pelo reconhecimento de uma das invenções mais estúpidas da atualidade!

Enquanto Boulos se desculpa com presidente do PT de SP por conversar com “pessoas erradas”, temos o PSOL também na luta contra o racismo e misoginia de uma legislação que não é nem racista e nem misógina, mas tão somente não engloba devaneios de militantes desocupados querendo aparecer.

Essa é a esquerda que temos.

Mas só pra ficar claro: Não, o episódio não lembra em nada o que ocorreu com Rosa Parks. No máximo lembra um quadro do Zorra Total ou da Praça É Nossa, só que a piada aqui é o PSOL e a deputada Camila Valadão.

DITADURA LIGHT

Qual a dificuldade da galera que defende ditadura simplesmente admitir que prefere ditadura mas com indicadores sociais supostamente melhores do que os de certas democracias? Saiam das sombras, defendam ditaduras sem subterfúgios, oras.

“Ain, mas lá tem eleição”.

Com partido único, com candidatos pré-aprovados, com mil restrições a quem não segue a cartilha oficial… Sim, como a China. Tudo cartas marcadas e fachada mal feita de democracia. São ditaduras.

Mas é aquilo, repito, se você defende isso diga com todas as letras: “EU DEFENDO DITADURA”. Pronto. E seja feliz.

Mas depois não venha tentar pagar de democrata, defensor dos direitos humanos, etc. Porque não cola. Seja coerente.

E fascinante entre amantes de ditaduras (do lado certo da história) é que pra eles:

1) Democracias tem que ser perfeitas ou preferem ditadura

2) EUA são modelo pra alguma coisa.

3) quem critica as ditaduras deles ao mesmo tempo ama os EUA ou defende que toda democracia é perfeita.

Aliás, não existe democracia perfeita. Até porque democracia é reflexo da população, de seus anseios, etc, ou seja, não tem nem como ser perfeita. Mas pelo menos as pessoas podem se manifestar.

Em tempo, quem vem aqui na base do “EUA só tem dois partidos” eu já dou logo block porque

1) Eu em momento algum defendi os EUA como modelo de democracia e

2) Vai estudar o básico antes de falar merda. Não tenho paciência e nem sou pago pra isso.

PS: Sim, você pode e até deve reconhecer que Cuba enfrenta um bloqueio criminoso, que os EUA agiram historicamente como terroristas contra o país, etc. Isso não muda o fato de que o país é uma ditadura e que deve ser criticado por isso – da mesma forma que o modelo de democracia americano é ridiculamente falho (ou mesmo pensado para ser assim) e precisa/deve ser criticado.

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Raphael Tsavkko Garcia


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