08/05/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Liberdade de expressão

Entre o na negação woke e o liberou geral dos gringos

Publicado em 05/02/2024 11:32 - Raphael Tsavkko Garcia

Divulgação Shutterstock

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Esse texto publicado na Quillette é fascinante não exatamente pelo conteúdo, mas por mostrar a extensão do que os EUA consideram “liberdade de expressão” e ajuda a entender porque o movimento identitário woke surgiu como uma resposta radical diametralmente oposta defendendo abertamente censura.

Nos EUA, se você não incitar violência, você pode falar o que quiser. Isso permite, por exemplo, que ser nazista e defender o nazismo não seja crime, mas algo protegido. Está ok dizer que Hitler fez bem em matar milhões de judeus, mas você não pode defender, hoje, a morte de judeus. Pode dizer que não prestam, desumanizar, etc, mas não pregar violência.

Pode parecer uma delimitação tênue, mas faz toda a diferença. A KKK é legal nos EUA. É legal dizer o que quiser de minorias ou maiorias, desde que você não cruze a linha da incitação.

Pra um brasileiro esse é um conceito muito estranho – nazismo é ilegal no Brasil, racismo é crime. Não é preciso chegar ao ponto de incitar violência – ainda que seja também crime -, a liberdade de expressão tem limitações muito maiores – ainda que nem sempre claras.

Os woke acabam sendo o absoluto oposto. Se opõe à liberdade de expressão. Não apenas ao que é excessivo – como seria o nazismo ou a KKK -, mas a qualquer coisa que vá minimamente além daquilo que acreditam e defendem.

Nos EUA faz sentido que existam tais grupos – de um ou outro lado -, porque se inserem em um debate muito específico sobre ou em torno da liberdade de expressão. Mas pra qualquer pessoa de fora é muito estranho pensar em como conseguem dissociar uma ideologia cujo fundamento é a eliminação de minorias e a incitação à violência/eliminação da minoria. Algo como “está apenas no campo da filosofia, então é preciso ter a incitação agora, nesse momento”.

Isso é algo que faz sentido na academia, onde você tem que ter espaço para dialogar e argumentar mesmo ideias detestáveis – ainda que isso seja diferente, claro, de defender tais ideias.

Enfim, voltando aos woke versus extremistas do outro lado, temos grupos extremistas, cada qual com suas características próprias.

O interessante é pensar como isso se manifesta no Brasil e em outros países onde a realidade é completamente diferente. Onde a liberdade de expressão não é absoluta e irrestrita como nos EUA, mas mesmo assim temos grupos extremistas woke/identitários buscando ainda mais censura, mas com o diferencial fundamental de estarem atuando já em sociedades onde a liberdade de expressão já é mais restrita que nos EUA.

O cerne do texto que copio aqui é defender que moderação não é tão fundamental e que a defesa desse insturmento seria algo próximo a pânico moral. Talvez isso faça sentido nos EUA (e não estou dizendo que faz, mas é algo a se pensar, é um lugar onde o DEBATE faz sentido), mas nem de longe se aplica a outros países onde, como já repeti ad nauseam, a liberdade de expressão é bem menos ampla.

Enfim, apenas food for thought. Considero que moderação de conteúdo é importante, mas hoje ela é péssima – faltam regras claras, muitas das regras que existem são ruins, falta oversight externo, diálogo com a sociedade, participação do governo e de organizações da sociedade civil….

Sem falar nas regras que são impostas pelas redes que sequer fazem sentido, mas são impostas pelas big tech e todos são forçados a aceitar, como o puritanismo anti-sexo – ao ponto de sites como o Reddit serem forçados a esconder e dificultar o acesso ao conteúdo +18 em seu app disponibilizado na Apple store, dificultando e limitando acesso a um conteúdo legal apenas porque o dono da Apple decidiu que ninguém deve ter acesso, ou o Facebook censurando conteúdo “sensual” no Instagram porque aparentemente as pessoas não tem capacidade de escolher o conteúdo que querem acessar e precisam de um pai controlando.

E existe um problema de algoritmo que me parece muito mais urgente e preocupante. A viralização, a oferta de conteúdo semelhante, a forma como conteúdo se espalha, as escolhas feitas pelo algoritmo do conteúdo a ser oferecido e espalhado, etc influenciam muito mais (negativamente) do que a qualidade da moderação – que será sempre falha, não importa se feita por IA ou humanos.

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Equipe Semana On

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