09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Deus me livre desta gente de bens…

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 21/01/2023 10:29 - Victor Barone

Divulgação

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A parcela 1% mais rica do mundo acumulou quase dois terços de toda a nova riqueza global nos últimos dois anos, acumulando US$ 26 trilhões dos US$ 42 trilhões criados nesse período, segundo relatório recente da Oxfam International, confederação de 19 organizações e mais de 3000 parceiros que atua em mais de 90 países.

Mais de 200 milionários de 13 países apelaram, em carta, aos líderes globais presentes no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, a “enfrentar a riqueza extrema” e “tributar os ultras ricos” para aliviar a tensão do custo de vida das famílias que ganham pouco.

Nenhum milionário brasileiro assinou a petição, que diz a certa altura:

“Taxe os ultras ricos e faça isso agora. É economia simples e de bom senso. É um investimento em nosso bem comum e em um futuro melhor que todos merecemos e, como milionários, queremos fazer esse investimento”.

“Uma reunião da ‘elite global’ em Davos para discutir ‘Cooperação em um mundo fragmentado’ é inútil se você não está desafiando a raiz da divisão. Defender a democracia e construir a cooperação requer ação para construir economias mais justas agora”.

Lula está alinhado com a proposta dos ultras ricos. Ontem, voltou a repetir:

“A gente tem que dar garantia para sociedade de que não vai gastar mais do que se ganha. Ao mesmo tempo, temos de mudar o discurso. O dinheiro para melhorar a vida das pessoas não pode ser tido como gasto. Gasto é o dinheiro jogado fora”.

Disse que seu governo não quer ter uma sociedade de miseráveis, mas de classe média, para que as pessoas possam consumir. Uma das formas de alcançar isso é fazer uma reforma tributária para que os mais ricos paguem mais imposto e as pessoas mais pobres, menos.

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou na sexta-feira (20) que não se arrepende de ter chamado os acampamentos golpistas diante de quartéis do Exército de “democráticos”. Ele concedeu entrevista depois de participar da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os comandantes das Forças Armadas. “Não me arrependo porque eu vim pra negociar. Eu não podia negociar com você e, a priori, criar um pré-julgamento pra você”, justificou.

Em 2 de janeiro, o ministro afirmou que tinha parentes e amigos seus participando do acampamento golpista em Recife (PE) e declarou que as ações de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) seriam “democráticas”, assim como o próprio ex-presidente. “Aquelas manifestações nos acampamentos, eu tenho parentes lá, é uma manifestação da democracia. A gente tem que entender que nem todos os adversários são inimigos”, disse à época, numa declaração que causou críticas severas no governo Lula e de parlamentares.

DIREITOS DOS MANOS…

A chegada dos xiitas do bolsonarismo ao cárcere deflagrou um movimento que tem potencial para revolucionar o sistema prisional brasileiro. Os membros da falange do capitão se queixam das condições carcerárias. Reivindicam coisas como acesso à internet, água gelada, quentinha gourmet, fluidos para limpar lentes de contato, o diabo. Querem celas confortáveis, sem superlotação.

Mais do que respeito aos direitos humanos, os talibãs de Bolsonaro exigem ser tratados com carinho. Levando a experiência às últimas consequências, o país poderia obter o que parecia impossível: a humanização dos presídios. Parece um objetivo utópico. Mas sempre é possível obter avanços intermediários.

Pode-se planejar, por exemplo, o lançamento de um programa de ressocialização de presos viciados em cinismo. A discussão sobre a conveniência de “humanizar” as prisões é coisa do século 18. A constatação de que é necessário “ressocializar” criminosos vem do final do século 19. Embora chegue ao debate com atraso de mais de um século, o bolsonarismo arcaico é bem-vindo à civilização.

Bolsonaro já classificou direitos humanos como “esterco da vagabundagem”. A precariedade de sua condição judicial talvez leve o capitão a lapidar certos conceitos. Até a semana passada, cadeia no Brasil era ambiente para a clientela dos três pês: pobres, pretos e putas. A prisão dos patriotas parvos, ainda que temporária, oferece uma oportunidade para a reflexão sobre a conveniência de retirar o sistema carcerário brasileiro da Era medieval.

Por Josias de Souza

ABSURDO!! O QUE ENSINA O LIVRO DE CABECEIRA DOS SÓCIOS DA AMERICANAS

BLOGUEIRINHA DO FIM DO MUNDO

PELAMORDEDEUS

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro usou suas redes sociais para enviar uma mensagem aos céus. O desabafo mostra uma clara preocupação com o futuro da família uma vez que seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não vive seus melhores dias desde que perdeu as eleições presidenciais para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 30 de outubro de 2022. E após sua fuga para os Estados Unidos, em 30 de dezembro, e a posse do novo presidente, aparentemente as coisas têm piorado. Bolsonaro é investigado por diversos crimes relacionados à sua gestão e foi apontado como culpado pela Polícia Federal no processo que investiga uma live em que comparou as vacinas de Covid-19 à contaminação por Aids.

Além disso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que ele seja investigado como mentor e incentivador dos ataques que seus apoiadores realizaram em Brasília no último final de semana. Ainda é especulado na imprensa que Moraes esteja preparando um pedido de prisão do ex-presidente e, para piorar, o governo dos EUA já acenou, em paralelo ao seu apoio a Lula (PT), que não teria problemas em extraditar o ex-presidente caso solicitado pela Justiça brasileira.

Para piorar, Bolsonaro ainda recebeu um escracho no condomínio de brasileiros em Miami, na Flórida, onde se encontra, horas do antes da publicação. Com tudo isso em mente, Michelle soltou seu desabafo em formato de ‘stories’ no Instagram. “Senhor, tenha misericórdia de nós. Nós te amamos, pai”, clamou a ex-primeira-dama. Na mesma publicação ela ainda postou uma frase do evangelista norte-americano Billy Graham. Uma possível interpretação pode apontar o descontentamento de Michelle em relação a fuga com o marido para os EUA. “Têm descansos que acontecem quando o corpo se deita, outros quando o joelho se dobra”, diz a frase.

Por Josias de Souza

VOVÓ DO CRACK

Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, simpatizante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de 67 anos, que participou da invasão ao Palácio do Planalto no domingo (8), em Brasília, foi condenada em 2014 por tráfico de drogas. A bolsonarista foi condenada a mais de 4 anos de prisão em regime semiaberto. Após recorrer, a pena foi diminuída para 3 anos e 10 meses, com restrições de direitos e prestação de serviços à comunidade. Na ocasião, ela disse que usuários de droga “invadiam” sua casa e deixavam entorpecentes no local.

A bolsonarista também responde pelos crimes de estelionato e falsificação de documento público em outro processo. Vale destacar que apesar de participar dos atos golpistas na capital federal, o nome da idosa não consta na lista divulgada das detidas.

Segundo informações do Fantástico, a apoiadora do ex-presidente também tentou enganar o INSS para conseguir um benefício. A bolsonarista ainda recebeu o Auxílio Emergencial.

A “Fátima de Tubarão”, como ficou conhecida, aparece em um vídeo invadindo o Planalto e dizendo: “Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora”, fazendo referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

FAMOSINS EM NY

Uma grande projeção na lateral de um arranha-céu de Nova York, nos EUA, expôs o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro, de seu filho Carlos, do ex-vice-presidente Hamilton Mourão, do ex-juiz Sergio Moro, do pastor Silas Malafaia e do bloqueiro foragido da Justiça Allan dos Santos, além do ex-mandatário norte-americano Donald Trump, intitulando essas figuras da extrema direita como “ratos da Flórida”, numa referência ao local para onde Bolsonaro fugiu e por onde passaram vários desses seus discípulos.

BURLE, O MARXISTA

A divulgação de que integrantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) confundiram o nome do paisagista Burle Marx com o do filósofo Karl Marx, autor de O Capital e do Manifesto Comunista, provocou reações nas redes sociais. Internautas ironizam o “nível intelectual” dos empresários da entidade. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, em outubro do ano passado, um projeção colorida do terraço do antigo Ministério da Saúde e Educação, no Rio de Janeiro, idealizada pelo artista, foi exibida no prédio da Fiesp, na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas, na ocasião, alguns empresários, além de confudir Burle Marx com Karl Marx, também viram na obra algo como se a bandeira do Brasil estivesse sendo coberta de vermelho. O que, na visão desses integrantes, seria um sinal de que a entidade patronal, “poderia estar sob influência do socialismo”. A ignorância levou internautas a comentar nas redes o caso exposto como um “exemplo” de que como “a nossa burguesia é xucra, burra e desinformada”.

JUSTIÇA DIVINA

O advogado e TikToker pró-armas Leandro Mathias Novaes foi baleado pela própria arma na tarde da última segunda-feira (16) ao entrar em uma sala de ressonância magnética, onde sua mãe passava por um exame. O acidente ocorreu no Laboratório Cura, na região dos Jardins, em São Paulo. A arma que estava na cintura de Novaes foi puxada pelo magnetismo quando a máquina foi ligada. O disparo atingiu a região do abdômen de Leandro. O defensor foi levado para o Hospital São Luiz em estado grave.

FRASES DA SEMANA

“Entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas. Agora, se algum elemento, individualmente, teve sua participação, ele vai responder como cidadão”. (José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, sobre a tentativa fracassada de golpe do 8 de janeiro)

“Como uma posse presidencial com 300 mil pessoas aconteceu em paz e um evento golpista, uma semana depois, com 10 ou 15 mil pessoas, deu no que se viu? Houve uma ação dolosa que está sendo investigada”. (Flávio Dino, ministro da Justiça e da Segurança Pública)

“Quem quiser fazer política, sai do cargo e se filia a um partido. Mas enquanto estiver nas Forças Armadas não vai fazer política”. (Lula)

“Justamente por ter sido uma minoria, os golpistas não podem ficar impunes. Sem anistia, nem para paisanos nem para milicos que se disfarçaram de paisanos. Nem para os que participaram diretamente dos ataques nem para os que os apoiaram na retaguarda.” (Ricardo Noblat)

“Meu CPF é um, o CPF do presidente Jair Bolsonaro é outro”. (Arthur Lira, PP-AL, que engavetou todos os pedidos de impeachment contra Bolsonaro e que agora quer o apoio de Lula para se reeleger presidente da Câmara dos Deputados)

“Venho a público esclarecer que não há, nem haverá, qualquer investigação sobre a participação da Beyoncé em atos antidemocráticos”. (Flávio Dino, ministro da Justiça, valendo-se do deboche para rebater notícias falsas de origem bolsonarista)

“A prisão de Anderson Torres foi um recado àqueles que passaram os últimos 4 anos desrespeitando a Lei e conspirando contra o País. Agora não cabe desculpas. O Brasil está dizendo ao mundo que não dará espaço para o golpismo”. (Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso)

“O presidente Bolsonaro repudia os atos de vandalismo e depredação do patrimônio público cometidos pelos infiltrados na manifestação. Ele jamais teve qualquer relação ou participação nestes movimentos sociais espontâneos realizados pela população”. (Nota da defesa de Bolsonaro)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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