09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Bolsonaristas e seu show de horrores no Congresso

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 13/05/2023 10:47 - Victor Barone

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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A legislatura atual chegou nesta semana ao seu centésimo dia, e tem correspondido a todas as expectativas negativas de quem identificou que em 2022 os eleitores deram mandatos a um número maior de deputados extremistas do que o verificado nos quatro anos anteriores. O resultado é o show de horrores protagonizado pelos bolsonaristas a cada sessão. Seja no plenário ou nas salas de comissões, viraram rotina as gritarias, ofensas, mentiras e discussões que volta e meia chegam perto de descambar para os sopapos.

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), avisou aos deputados que não permitiria discussão de botequim. Depois de vários alertas, fez no fim de abril uma reunião com os líderes partidários para tratar do assunto e avisou que o Conselho de Ética passaria a funcionar. Os líderes saíram da reunião e repassaram o recado aos integrantes de cada legenda. Apesar do esforço, alguém tem que avisar ao presidente da Câmara que o alerta não funcionou.

Só nos últimos dias, dois deputados deram mostras de que não estão dispostos a uma convivência civilizada com seus pares e com o contraditório. O primeiro é o deputado Coronel Chrisostomo (PL-RO), que na terça-feira (9) foi à tribuna para ofender aos berros o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, chamando-o de “sobrepeso” e “irresponsável”. Falou inclusive em confronto físico. “Se vier na marra, vai levar porrada do povo brasileiro. Vem pra cima, vem”, bradou, de forma abjeta.

O segundo caso é o do deputado Luiz Lima (PL-RJ), que entrou em delírio na Câmara. “Ministro Alexandre de Moraes, o senhor está desviando dinheiro da empregada doméstica para enviar para a Venezuela para matar pessoas”, berrou na tribuna, sem apresentar qualquer base para a acusação contra um integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). Além de atacar Moraes e o governo, Lima desrespeitou o próprio presidente da Casa: “Esse Congresso Nacional não faz nada. Senhor Arthur Lira é um boneco do posto!”.

Por Chico Alves

FRIAS FANFARRÃO

Durante uma audiência pública na Comissão de Comunicação da Câmara dos Deputados, o deputado Mario Frias (PL-SP), ex-secretário da Cultura no governo Bolsonaro, foi filmado se aproximando do jornalista Guga Noblat e em seguida arrancando o celular de sua mão. A ação se deu após o parlamentar tecer ofensas ao comunicador, que fazia cobertura da reunião.

DINOSHOW

Lula está muito feliz com Flávio Dino. Exalta duas características do ministro: a “proatividade” no Ministério da Justiça e a “combatividade” nas comissões do Congresso. O presidente se refere ao ministro como “modelo” a ser seguido na Esplanada.  O estilo e o linguajar rendem a Dino um subproduto muito valorizado no governo: engajamento nas redes sociais. Levantamentos internos mostram que ele é no momento o ministro mais bem posto nas plataformas digitais, habitat natural de Bolsonaro e seus devotos.

O desempenho de Dino na redes é potencializado pela superexporsição proporcionada pelos adversários. O ministro virou freguês de caderneta das comissões do Congresso. Foi convidado a prestar esclarecimentos quatro vezes em quatro meses. Tomou gosto. Na sua última performance, Dino foi presenteado pela oposição com a ribalta da Comissão de Segurança do Senado. O ministro parece ter detectado o ponto fraco de bolsonaristas e assemelhados. Percebeu que os rivais, imaginando-se portadores de refinada ironia, engrossam logo que são confrontados com uma ironia mais hábil. Sempre que os rivais o tiram para dançar, Dino sai rodopiando.

Na comissão do Senado, o ministro ridicularizou o bolsonarista Macos do Val —”Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. Conhece o Capitão América? O Homem-Aranha?”—, enquadrou o ex-colega Sergio Moro —”Fui juiz e nunca fiz conluio com o Ministério Público, nunca tive sentença anulada”—, iluminou os calcanhares de vidro do primogênito Flávio Bolsonaro -“O senador falou sobre narcomilícia e é um tema que ele conhece muito de perto”— e invocou o testemunho do astronauta Marcos Pontes para reiterar ao bolsonarismo que a Terra é mesmo redonda -“De todos os brasileiros, só ele viu.”

Por Josias de Souza

CORAÇÃO DE OURO…

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF) negou no último sábado (6) o habeas corpus a uma mãe condenada por furtar três pacotes fraldas. A decisão foi tomada no mesmo final de semana em que o ministro votou por não tornar réus 200 bolsonaristas presos pela depredação que se registrou em Brasília em 8 de janeiro e desdobrou na destruição das sedes dos três poderes da República. A mulher foi condenada pelo furto de 3 pacotes de fraldas, avaliados em R$ 120, que já foram devolvidos. De acordo com a Defensoria Pública de Minas Gerais, que a defende, a ré é mãe solteira e realizou o furto em uma unidade das Lojas Americanas por necessidade. Ela já tinha outra condenação semelhante. Mendonça afirmou que o valor dos pacotes de fraldas não seria insignificante pois representaria um décimo do salário mínimo vigente em 2017, época do furto. O ministro “terrivelmente evangélico” nomeado por Bolsonaro ao STF também entendeu que a devolução das fraldas não enseja a suspensão da pena.

GILMAR XIBATA

Gilmar Mendes bateu com força em Sergio Moro e Deltan Dallagnol na entrevista ao Roda Viva: “Curitiba gerou Bolsonaro. Curitiba tinha o germe do fascismo”. A dupla foi citada várias vezes como responsável por afrontas ao Supremo. E deixou claro, ao falar do 8 de janeiro, que Anderson Torres era importante na operação do golpe. Mendes informou, em tom de denúncia, que o então secretário de Segurança do Distrito Federal apostou no caos. Disse que os golpistas esperavam que acontecesse uma intervenção do Exército, com o uso da GLO, a tal garantia da lei e da ordem.

Mendes sabe do que fala. O ministro disse que conversou cerca de 10 vezes com Torres no 8 de janeiro. A esculhambação não era um imprevisto, era parte da estratégia para o golpe. É o ministro quem diz o que todo mundo já sabia. Só no último bloco foi abordada a maior controvérsia envolvendo Moro e Mendes, a insinuação do ex-juiz de que o ministro vende habeas corpus.

Mendes reafirmou o que vem dizendo: quem tem problemas com denúncia de venda de decisões é Sergio Moro. Disse que o ex-juiz e sua turma de Curitiba gostam de dinheiro e voltou a falar da estranha fundação de Deltan Dallagnol com R$ 2,5 bilhões da Petrobras. Quando a conversa estava esquentando, a jornalista Isadora Peron, do Valor Econômico, tirou Moro da pauta. Lamentável.

O ministro definiu numa frase o que foi a política de saúde pública de Bolsonaro na pandemia: “Vamos matar todo mundo”.

MICHEQUE BOCA TORTA

RACISMO

Diante da repercussão do vídeo em que aparece sendo retirado de um avião no aeroporto de Foz do Iguaçu (PR) para uma “inspeção aleatória” da Polícia Federal (PF), o deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) foi às redes sociais para detalhar o que houve antes da abordagem. O parlamentar acusa os policiais federais de racismo, já que ele foi o único passageiro do voo que passou por tal procedimento.  A abordagem aconteceu no dia 3 de maio. Freitas tinha ido cumprir uma agenda em Foz do Iguaçu a convite do Ministério dos Povos Indígenas e, depois de embarcar em um avião no aeroporto da cidade para retornar a Curitiba, pouco antes da decolagem, policiais entraram na aeronave e o retiraram da cabine para que ele fosse revistado, mesmo já tendo passado, antes, pela inspeção na máquina de Raio X. O petista foi submetido a uma revista completa corporal na parte de fora do avião, sendo que sua mochila também foi inspecionada. Todos os passageiros do voo o viram saindo da aeronave para levar o “geral” e, depois, retornando ao seu assento.

SEM GRADES

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu uma mudança de importância simbólica na quarta-feira (10): o mandatário mandou retirar as grades que cercavam a sede do governo desde 2013. Agora, o espaço está livre para a circulação da população. Lula desceu a rampa do Palácio para acompanhar a retirada da proteção e conversou com jornalistas sobre a mudança.

DELTANTAN

Acostumado a apontar o dedos para os outros, o deputado federal e ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol (PODEMOS-PR), foi alvo de uma bateria de questionamentos feitos pelo também parlamentar Glauber Braga (PSOL-RJ), durante sessão da Câmara, na quinta (11). Em apenas 3 minutos, Braga expôs uma série de dúvidas que pairam sobre a conduta do ex-procurador e hoje parlamentar, que pode perder o mandato, caso no próximo dia 16, o Tribunal Superior Eleitoral indefira sua candidatura por causa de irregularidades.  Em uma das perguntas, Glauber Braga interroga Deltan: “É verdade, senhor Dallagnol, que o senhor autorizou o pagamento de diárias e passagens pra sua equipe consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União e que o senhor foi condenado a devolver R$ 2,8 milhões aos cofres públicos?”, perguntou.

FRASES DA SEMANA

“Acabaram de descobrir uma casa de R$ 8 milhões. Certamente, uma casa [desse valor] não é para o ajudante de ordens, e sim para o paladino do negacionismo”. (Lula, referindo-se à mansão nos Estados Unidos da família do tenente-coronel Mauro Cid, o faz tudo de Bolsonaro, preso)

“A democracia voltou neste país. Eu era contra o muro de Berlim, sou contra o muro entre Israel e Palestina, contra o muro que o Trump construía no México. E sou contra o muro aqui na frente do palácio”. (Lula, sobre a retirada das grades que protegiam o Palácio do Planalto)

“Quando morrer, imagino as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’. Nas redes, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’.” (Rita Lee)

“Ajudante de ordens, coronel sob comando da Casa Civil, amigo de Bolsonaro, GSI do Bolsonaro, homens de dentro do Planalto, senador… Era muita gente pensando em golpe. E Bolsonaro? Alguém acredita que foi o inocente útil? Ah, fala sério!” (Gleisi Hoffmann, presidente do PT)

“Outro teria sido o resultado se o governo anterior, durante toda a pandemia, respeitasse as recomendações da ciência. Se fossem seguidas e cumpridas as obrigações de governante de proteger a população do país”. (Nísia Trindadeministra da Saúde, sobre a necessidade da vacinação)

“Vamos lançar até o fim do mês todos os projetos para investimentos em infraestrutura, educação, até o final do mandato. Porque a partir daí ficará proibido os ministros terem ideias. A partir daí os ministros terão que trabalhar para executar o que já decidimos.” (Lula)

“Houve fraude não só no cartão de vacinação do ex-presidente, mas também da filha menor de idade do presidente. Não me parece razoável que a gente suponha que esse dado não era de conhecimento da autoridade [Bolsonaro]”. (Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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