08/05/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

A paridade impossível entre o Hamas e o governo de Israel

Raphael Tsavkko Garcia fala disso, e do massacre de jornalistas e da verdade

Publicado em 18/11/2023 9:51 - Raphael Tsavkko Garcia

Divulgação Parentes de jornalista da All Jazeera morto no conflito, durante seu funeral em Jenin. Foto: Nedal Eshtayah / Anadolu Agency via Getty Images

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Israel é um Estado.

Gaza não.

Israel tem um exército

O Hamas não tem um exército regular, mas combatentes.

Israel é signatária de tratados internacionais.

O Hamas não.

Não se pode ter expectativas iguais para um Estado/Exército regular e um grupo que controla um território.

Isso não quer dizer que o Hamas não tenha que ser eventualmente responsabilizado por seus crimes e suas lideranças julgadas, mas não há como comprar ou exigir de um grupo formado por combatentes que sigam as mesmas regras que um Estado – sim, a expectativa sobre o Estado é maior. Sim, o Estado tem obrigação de fazer diferente.

“Ah, mas o Hamas faz A ou B”.

Azar do Hamas. Israel tem OBRIGAÇÃO de respeitar o direito internacional e responde a regras que não se esperam que o Hamas cumpra.

Aliás, a partir do momento em que você considera o Hamas “terrorista” você está exatamente confirmando que o grupo não respeita o direito internacional e convenções sobre conflito.

O problema é que Israel, ao também mandar para o espaço as mesmas regras, se coloca como um Estado terrorista. E com efetiva capacidade de cometer genocídio, ao passo que o Hamas dificilmente passa da intenção.

A conclusão é que não existe expectativa do Hamas se comportar como um exército regular ou um Estado por não ser nenhuma das duas coisas. Os membros do grupo devem ser posteriormente punidos de acordo com o direito internacional, mas é infantil achar que jogam pelas mesmas regras.

E não nos esqueçamos, o Hamas tem sido financiado a anos por Israel. Quem diz isso é o Netanyahu e o Lapid, reclamem com eles.

A VERDADE COMO PRIMEIRA VÍTIMA

Não me lembro de um conflito em que um dos lados estivesse tão interessado em silenciar a imprensa a ponto de divulgar notícias falsas por meio de um meio de comunicação falso para desacreditar os jornalistas e colocar suas vidas em perigo.

Israel ultrapassou todas as linhas vermelhas possíveis repetidas vezes. Matou dezenas de jornalistas para poder realizar seus planos genocidas sem que o mundo veja, mas isso não é suficiente. Agora, Israel está atacando jornalistas selecionados para tentar vinculá-los ao Hamas. O pior de tudo é que os meios de comunicação estão até comprando a história e “suspenderam” os fotógrafos e estão ameaçando seu sustento, sem mencionar suas vidas como alvos preferenciais de ataques.

Os jornalistas que fazem seu trabalho e conseguem furos de reportagem estão sendo criminalizados por… fazerem seu trabalho. Israel quer silenciar a imprensa, matando-a e desacreditando-a. Enquanto a CNN concorda em ser censurada por Israel para acompanhar seus soldados invadindo Gaza, outros meios de comunicação “suspendem” jornalistas por obterem reportagens exclusivas. Se o problema é “estar integrado” com aqueles que cometem crimes contra a humanidade, bem, a CNN tem muito a responder, não os jornalistas de Gaza que estão cumprindo seu dever e arriscando suas vidas.

Israel tem planos de censurar e suspender o trabalho da Al Jazeera, está assassinando jornalistas e suas famílias em Gaza e agora deu mais um passo em seu plano para eliminar a imprensa (literalmente) e cometer genocídio.

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Raphael Tsavkko Garcia


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