11/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

A burrice do golpe e a estratégia da democracia

Como Bolsonaro planejou tumultuar as eleições e os democratas sacaram logo de cara

Publicado em 01/11/2022 10:39 - Rafael Paredes

Divulgação PRF

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A movimentação de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para Estados do Nordeste na véspera das eleições começou a chamar à atenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, de pronto, já proibiu operações no dia do pleito. Mal começou o dia seguinte e as santas redes sociais começaram a pipocar os vídeos com descabidas blitz padrão para verificação de pneus carecas e faróis queimados em ônibus.

Os vídeos mostravam a estranheza do número dessas operações, no dia das eleições, concentradas no Nordeste, 50% do total. As outras regiões do país não registravam a mesma diligência dos agentes com a segurança das vias brasileiras. Sabidamente o Nordeste é a região que mais vota em candidatos democráticos. A PRF desrespeitava as ordens do TSE e realizava uma óbvia tentativa de dificultar o voto dos nordestinos. O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes convocou o diretor da PRF, Silvinei Vasques a dar explicações. Xandão iria prender o diretor e prorrogar as eleições na região, certo?

Errado. Para o assombro do campo democrático, o ministro aceitou as explicações do diretor e ficou tudo por isso mesmo. Alexandre de Moraes estava sendo aparentemente conivente com um óbvio atentado contra a democracia. Na verdade, Alexandre de Moraes sacou tudo antes de todos os outros.

No último dia 26, percebendo sua dificuldade em vencer à eleição, o presidente Jair Bolsonaro cancela suas agendas de campanha e anuncia que fará uma importante entrevista coletiva. A expectativa era que o presidente iniciasse uma escalada golpista com aquela desculpa esfarrapadíssima de falta de inserções de rádio de sua propaganda eleitoral. Bolsonaro convoca uma reunião interministerial para anteceder o pronunciamento, porém poucos ministros vão e os comandantes das Forças Armadas informam que não vão embarcar na aventura golpista do presidente. Interlocutores políticos pedem calma ao mandatário e, como informou a jornalista do Globo News, Natuza Nery, convencem Bolsonaro afirmando que ele vai ganhar as eleições em Estados importantes do país e não pode colocar tudo a perder.

Sem apoio político e das Forças Armadas para o golpe, o presidente é apresentado ao plano da PRF de operações no Nordeste e aprova a ideia, como informou o jornalista do O Globo, Lauro Jardim. O plano não era impedir eleitores de votarem em Lula no Nordeste, isso seria e foi apenas um lucro. A ideia era tumultuar as eleições. O modo de operar do bolsonarismo é o tumulto, a arruaça, a bagunça e o conflito. Mas, Alexandre de Moraes não caiu nessa, tocou as eleições e o que se mostrou a melhor estratégia realmente.

Enquanto Bolsonaro dá demonstrações de não ter se preparado para perder, Lula sabia exatamente o que tinha que fazer quando ganhasse as eleições e o fez. Antes mesmo da sua vitória ser confirmada, o ex-presidente já se dirigiu a um hotel em São Paulo para imediatamente fazer um pronunciamento para jornalistas do Brasil e para mais de 200 estrangeiros. Ao mesmo tempo, o TSE proclamava o vencedor do pleito e chovia no Twitter congratulações pela vitória do petista de líderes mundiais como os presidentes dos Estados Unidos Joe Biden, da Espanha Pedro Sanchez, da França Emmanuel Mácron, da Colômbia Gustavo Petro, do México Manuel Lopes Obrador, dos primeiros ministros canadense Justin Trudeau, português Antônio Costa e tantos outros do mundo democrático.

Para fechar com chave de ouro a estratégia democrática frente ao golpe, depois da formalização do resultado, das manifestações internacionais, do reconhecimento do resultado das urnas pelos presidentes do Poder Legislativo, Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado), só faltava povo. Daí veio a Avenida Paulista e a incontável aclamação de Lula como presidente eleito do Brasil. A democracia foi mais inteligente que o golpismo.

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Rafael Paredes


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