18/05/2024 - Edição 540

Poder

PF diz já ter provas para apontar Bolsonaro como chefe de organização criminosa

51,4% dos brasileiros responsabilizam Bolsonaro por venda ilegal de joias

Publicado em 31/08/2023 9:14 - Yurick Luz (DCM), Ricardo Noblat (Metrópoles), Edson Sardinha (Congresso em Foco) – Edição Semana On

Divulgação Foto: Presidência da República

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Provas obtidas pela Polícia Federal (PF) apontam que uma organização criminosa envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atuou em frentes que vão de ataques à democracia à obtenção de vantagens indevidas. A informação foi divulgada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo.

A corporação afirma já ter provas suficientes de que Bolsonaro chefiava esse grupo. Nesta quinta (31), acontece o depoimento simultâneo das pessoas envolvidas em um dos casos, o das joias sauditas. A PF irá focar em delinear o papel e os delitos de cada personagem nessa organização, segundo envolvidos nas apurações.

Além de Bolsonaro, estão sendo interrogados pela PF a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, o general Mauro César Lourena Cid, o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, o advogado Frederick Wassef e os assessores do ex-mandatário Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti.

Fontes da PF ainda relataram que há provas consistentes de que o mesmo grupo agia em conjunto e com papeis definidos em todos os casos investigados.

A meta da PF é apresentar, até dezembro deste ano, os relatórios finais dos inquéritos que miram o ex-capitão e seu entorno. Vale destacar que o caso que está mais adiantado e deve ser o primeiro a ter indiciados é o que apura a falsificação de certificados de vacina de Bolsonaro, Cid e seus familiares.

Quem veste farda não trai, apenas conta o que testemunhou

Havia uma pedra no meio do caminho que obrigava ao silêncio o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro: militar que honra a farda não delata companheiros.

Por pior que tenha sido o mal produzido pelos companheiros, não os trai. Espírito de corpo é o que move o Exército. Deduro vai para o inferno. Homem que é homem aguenta tudo, impávido colosso.

Uma vez que o Exército deixou de ser um espaço privativo dos homens em 1943, a mulher que impõe respeito também não entrega os colegas. Pau que bate em Chico bate em Francisco.

Um exemplo? O general Augusto Heleno viu muitas coisas reprováveis nos quatro anos em que serviu a Bolsonaro como ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e não gostou.

Quando chamado a depor na CPI do Golpe da Câmara Legislativa do Distrito Federal, por acaso ele contou o que viu? Não. Calou-se. Não pôs em risco a sua dignidade. Aguentou firme, valente.

O general G Dias, por tantos anos responsável pela segurança de Lula, contou algo que deixou mal colegas de farda sob seu comando no 8 de janeiro passado? Não contou nem vai contar.

G Dias perdeu o cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional, mas não entregou ninguém. Está comendo o pão que o diabo amassou, calado, viril, indiferente ao sofrimento.

É por aí que Mauro Cid está indo, segundo seu novo advogado e pessoas do seu círculo de amizade. Não toma a iniciativa de nada. Limita-se a responder o que a Polícia Federal lhe pergunta.

Você não vê diferença nisso? Um militar tem compromisso com a verdade. Ensinam os manuais do Exército que um militar pode desobedecer a uma ordem que considere injusta ou errada.

Sem entrar no mérito, não é o caso agora, isso caberá à Justiça esclarecer depois, Mauro Cid, dada à função que exerceu, sentiu-se obrigado a cumprir todas as ordens do presidente da República.

Pode ter se arrependido de não ter dito não a muitas, mas foi o presidente da República que as deu, o comandante supremo das Forças Armadas. Bolsonaro dizia que o Exército era seu.

Mauro Cid comandou tropas e não admitiu desrespeito às suas ordens. Hoje, comanda sua família que está aflita e em perigo. Até sua mulher já foi chamada a depor. É uma triste situação.

Eu sei que a defesa do tenente-coronel se fragiliza à medida que é exposta, mas fazer o quê? Empatia! Ponha-se no lugar dele: o que você faria a essa altura? É a saída que ele encontrou.

Só não pense que ele falará espontaneamente sobre o que não lhe perguntarem, isso jamais. Braço forte, ombro amigo, essas coisas, e por aí vai um homem vítima de um presidente golpista e ladrão.

Mauro Cid é vítima também da sua própria falta de caráter – mas a lei não obriga ninguém a ter caráter.

51,4% dos brasileiros responsabilizam Bolsonaro por venda ilegal de joias

Pesquisa feita pelo Instituto Opinião para o Congresso em Foco mostra que 51,4% dos brasileiros que tomaram conhecimento da existência do caso acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro era o responsável pelo esquema de venda de presentes recebidos por ele em viagens oficiais. A Polícia Federal investiga a suspeita de que Bolsonaro utilizou a estrutura do governo federal para desviar presentes de alto valor oferecidos a ele por autoridades estrangeiras. Para 27,5%, ele não tem qualquer envolvimento com o episódio. Outros 21,1% não souberam responder.

De acordo com o levantamento, 84% dos eleitores do presidente Lula acreditam que Bolsonaro liderava o esquema. Já os apoiadores do ex-presidente se mostram céticos em relação à participação dele no caso: só 6% acreditam na responsabilidade de Bolsonaro pela venda das joias, ao passo que 63% descartam essa hipótese. É maior, porém, o percentual de eleitores do ex-presidente que avaliam que ele tinha, sim, conhecimento das negociações (25%). Entre os eleitores de Lula, esse índice chega a 88%. No geral, 61,7% dos entrevistados avaliam que Bolsonaro sabia da venda das joias. Segundo a pesquisa, 59,1% dos brasileiros têm conhecimento das investigações sobre a negociação ilegal dos presentes recebidos pelo ex-presidente. Outros 21,9% declararam desconhecer o caso.

Diretor do Instituto Opinião, o sociólogo Arilton Freres entende que os números confirmam que o caso das joias causa um estrago grande sobre a imagem de Bolsonaro e dos próprios militares, devido ao envolvimento de oficiais na venda dos objetos. “Bolsonaro passou os quatro anos em que esteve na Presidência ressaltando que não havia casos de corrupção em seu governo. Que era diferente de outros políticos. Ele se cercou de militares em postos chaves, aproveitando a boa reputação das Forças Armadas junto à população. Esse escândalo mancha não só o governo Bolsonaro. Ele atinge em cheio os militares. Bolsonaro ainda mantém um percentual de eleitores alto, mas vemos que a cada denúncia o apoio ao ex-presidente desidrata”, afirma Arilton, que responde pela pesquisa junto com o estatístico Claudio Rui dos Santos.

Ainda em relação a Bolsonaro, o Instituto Opinião quis saber a opinião dos brasileiros sobre o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o condenou à inelegibilidade até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Para 51,4% dos entrevistados, a condenação do ex-presidente foi justa. Na avaliação de 32,1%, foi injusta. Outros 16,5% não souberam responder.

Contratada pelo Congresso em Foco, a pesquisa do Instituto Opinião ouviu 2 mil eleitores, entre os dias 16 e 19 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com 95% de confiabilidade para o resultado geral. As respostas foram coletadas por telefone por entrevistadores humanos. Foram feitos sorteios aleatórios na base de dados, sistemáticos, com critério de divisão geográfica, sexo, escolaridade e faixa etária.

O que têm a contar os celulares de Wassef, advogado de Bolsonaro

Se arrependimento matasse, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro, já estaria morto. A perda por descuido ou de propósito do seu celular talvez bastasse para salvar a sua e a honra da família Lourena Cid, aí incluídos o pai, um general de quatro estrelas, e a mulher, mãe dos seus filhos.

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, foi mais esperto – ou descuidado. Às vésperas do golpe de 8 de janeiro, viajou aos Estados Unidos onde estava Bolsonaro. E voltou de lá sem o celular. Perdeu-o, foi o que simplesmente disse.

Nos celulares de Mauro Cid foram encontradas mensagens que o comprometem, e à sua mulher, Gabriela Santiago, com a falsificação de certificados de vacina contra a Covid-19 e a tentativa fracassada de golpe para anular os resultados das eleições vencidas por Lula em 2022 e perdidas por Bolsonaro.

Gabriela já foi ouvida pela Polícia Federal que guarda em segredo o que ela contou. Mauro Cid já foi ouvido mais de uma vez – somente ontem, durante 10 horas. Ninguém passa tanto tempo calado só ouvindo perguntas. É verdade que pode passar tanto tempo mentindo, mas quanto mais mentir, pior para ele.

Será inevitável que o general Mauro Lourena Cid acabe sendo chamado a depor. Vai ter que explicar por que uma das joias roubadas por Bolsonaro foi parar em suas mãos. Há fotos dele com ela. E porque parte do dinheiro apurado com a venda de outras joias foi depositada por ele, general, na conta de Bolsonaro.

Pai e filho envergonharam a farda que ainda vestem, e seus colegas de caserna. O que os colegas dirão à tropa? Que pai e filho, supostos discípulos de Caxias, o patrono do Exército, não souberam ou não quiseram dizer não às vontades de um ex-capitão, órfão da ditadura, que só pensava em ficar rico, e ficou?

No momento, o que parece interessar à Polícia Federal é o conteúdo dos quatro celulares tomados de Frederick Wassef, conhecido como Wasséfalo, um dos advogados de Bolsonaro. São mais de mil gigabytes de informações. Wasséfalo diz ter recomprado com seu dinheiro o Rolex que Bolsonaro roubou.

Recomprou para quê? Para devolvê-lo ao Estado brasileiro, dono das joias roubadas, apagando assim o crime cometido – mas isso Wasséfalo não diz. Dirá uma mentira qualquer para salvar a própria face, e a do seu patrão. Por ora, a Polícia Federal não tem pressa em interrogá-lo. Ouvirá primeiro os quatro celulares.

É o que Bolsonaro mais teme. Wasséfalo sempre foi um boquirroto, exibicionista e franco atirador. Faz o que lhe dá na cabeça. Mas é improvável que tenha resgatado o Rolex por sua própria conta e risco, e gastando do seu bolso. Cumprida a missão, ele entregou o relógio a Mauro Cid, que agora chora pelo pai,

Wassef pode ser mais Wasséfalo do que Wassef, mas não é de rasgar dinheiro. Pelo menos o dele, não. Só acumula. E é grato ao seu cliente preferencial. Bolsonaro é que é ingrato com todo mundo que o ajuda. Uma hora vai pagar por isso.


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