18/05/2024 - Edição 540

Poder

Demissão de Ana Moser é gol contra de Lula

Presidente deu a mão, mas o Centrão quer braços e muito mais verbas

Publicado em 06/09/2023 10:59 - Juca Kfouri e Josias de Souza (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Paula Pinto - Abr

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O Brasil tem 523 anos e ainda não foi capaz de definir o que quer ser quando crescer em matéria de esportes.

Até hoje não tem uma Política Esportiva com P maiúsculo e quando ameaçou começar a formulá-la de um golpe só a abortou.

Ana Moser pensa o esporte como fator de saúde pública e educação.

Embora tenha sido medalhista olímpica como excepcional atleta do vôlei, sabe que o esporte de alto rendimento é resultado de Política Esportiva, não seu objetivo principal num país com as carências brasileiras.

O acesso à prática esporte, a democratização para que todos possam ter alguma atividade, das crianças aos mais velhos, sem discriminação de ninguém, deve ser a meta.

Antigo estudo da Organização Mundial da Saúde já mostrava que para cada dólar investido no acesso ao esporte, são poupados três em saúde pública.

Ana Moser não tem partido político nem padrinhos, apenas o apoio dos esportistas progressistas do país, atletas e não atletas, e será substituída por um tal Fufuca, deputado que vira piada pronta, embora sem graça alguma. De quebra, o PP ficará com o ervanário das apostas.

A governabilidade paga preço cada vez mais alto quando barganha o bem pelo mal.

O esporte brasileiro está de luto e Lula teve de engolir sua frase quando recebeu o apoio da comunidade esportiva em evento em São Paulo, antes da eleição de outubro passado.

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Na ocasião disse que ‘o esporte não pode ser moeda de troca’.

Pois foi.

Gol contra de Lula.

Lula deu Moser e a mão, centrão quer braços e muito mais verbas

Os bastidores da minirreforma ministerial incluem lances constrangedores. Lula imaginou que havia saciado o PP e o futuro ministro André Fufuca ao entregar a cabeça de Ana Moser e estender a mão para a ideia de turbinar o Ministério dos Esportes com cerca de R$ 12 bilhões provenientes da futura tributação dos games. Irritou-se ao ser informado de que o partido de Arthur Lira exige também os braços e muito mais dinheiro.

Além de uma secretaria para recepcionar tributos que iriam para o Ministério da Fazenda, o PP deseja enfiar sob o organograma da pasta a ser transferida da profissional Ana Moser para o amador André Fufuca pelo menos mais duas repartições: uma secretaria para cuidar de ações sociais e outra para impulsionar o empreendedorismo esportivo. O objetivo é criar novos guichês através dos quais os parlamentares escoarão verbas do orçamento para seus redutos eleitorais.

A reação de Lula oscilou entre o resmungo e os palavrões. Mas até a noite passada ele não havia dito “sim” às novas exigências do PP. Tampouco disse “não”. Teve com Ana Moser um diálogo inconcluso. Mostrou a porta de saída à ministra, mas ainda não a empurrou para fora. O Republicanos contentou-se com a oferta do governo de abrigar Silvio Costa Filho no Ministério de Portos e Aeroportos. Nesse capítulo, quem dificulta as coisas é o PSB de Márcio França.

Aliado tradicional de Lula, o PSB não se conforma em perder espaço para um partido que até ontem estava no colo de Bolsonaro. Considerou ofensiva a cogitação de que Márcio França pudesse se sentar na cadeira de ministro da Indústria, hoje ocupada pelo amigo e vice-presidente Geraldo Alckmin. Achou humilhante entregar a pasta dos Portos para o partido do rival Tarcísio de Freitas e aceitar um ministério novo de pequenas empresas. Restou o Ministério da Ciência e Tecnologia, uma hipótese que complica os arranjos de Lula.

Lula espera obter com a mexida ministerial algo como 60 votos na Câmara. Paga à vista por uma mercadoria que não sabe se vai ter. Afora o déficit ético e estético, falta responder a perguntas singelas. Por exemplo: quais são os planos de Fufuca para desenvolver o esporte nacional?


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