18/05/2024 - Edição 540

Poder

A apreensão de Bolsonaro com as novas reuniões delatadas por Mauro Cid

Mais turbulências com o avanço das investigações sobre os golpes

Publicado em 02/10/2023 9:31 - Yurick Luz (DCM), Ricardo Noblat (Metrópoles) – Edição Semana On

Divulgação

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A reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-comandantes das Forças Armadas, na qual discutiram uma minuta com teor golpista, não foi o único encontro mencionado pelo tenente-coronel Mauro Cid em sua delação à Polícia Federal (PF).

Antigos membros do governo Bolsonaro e o ex-mandatário foram alertados sobre a existência de outras reuniões clandestinas, que envolviam temas antiéticos, como alegações de fraudes nas urnas e estratégias para explorar esse assunto. O ex-presidente e seu entorno ficaram apreensivos com o novo alerta. A informação foi divulgada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo.

A PF iniciou investigações para verificar a veracidade das informações fornecidas por Mauro Cid. Uma das medidas tomadas foi a solicitação de registros de entrada no Palácio do Alvorada, em Brasília, durante os últimos quatro meses do governo Bolsonaro.

Vale destacar que o ex-capitão, que estava enfrentando um período de depressão e uma lesão na perna, raramente deixou o Alvorada após sua derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi nesse período que ocorreu a reunião de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas para discutir um possível golpe.

Outro método utilizado pelos investigadores para validar a delação de Mauro Cid é a análise das mensagens de celulares. A PF está conduzindo uma investigação minuciosa não apenas no dispositivo do militar, mas também nos telefones de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, e nos quatro celulares do advogado Frederick Wassef.

Caso as conversas registradas nos aparelhos contradigam as declarações de Cid, ele corre o risco de perder os benefícios estipulados em seu acordo de delação.

A cobra vai fumar

A cobra vai fumar nos próximos dias com a identificação e prisões de novos executores, financiadores e incitadores de atos golpistas – sejam os planejados para barrar a posse de Lula no final do ano passado, sejam os de 8 de janeiro para derrubá-lo.

Identificados, eles já estão. Em discussão, a necessidade de prendê-los ou de apenas intimá-los a depor à Polícia Federal. Há militares nesse cacho, e pressões de chefes militares e de seus aliados para que não sejam presos – ouvidos, tudo bem.

Dia sim, outro também, José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, repete que ninguém mais do que os chefes militares torcem para que acabe logo o suplício em que vivem, o que só desgasta sua imagem, subtraindo a confiança popular nas Forças Armadas.

Ora, escolheram a encrenca em que se meteram. Tinham nada que apoiar abertamente um candidato a presidente da República, governar com ele, avalizar todos os seus erros, e, não bastasse, tentar reelegê-lo? Fizeram dos propósitos de Bolsonaro os seus.

A história do ex-capitão afastado do Exército por indisciplina e conduta antiética não é a história de quem mais tarde se converteu aos sacrossantos valores cultivados pela farda, é o contrário. Foi a farda que se rendeu aos ideais truculentos de sua cria perdida.

Os militares que antes viam Bolsonaro como um péssimo exemplo para a tropa, a ponto de o impedirem de frequentar quartéis e cerimônias, passaram, aos poucos, a vê-lo como o Messias que os levaria a voltar ao poder, e desta vez pelo voto. Beleza!

Tão logo isso aconteceu, imaginaram que seria possível cavalgá-lo; acabaram cavalgados por ele. Encantaram-se com o que receberam em troca: empregos bem remunerados, uma Previdência Social para chamar de sua, prestígio e reverências.

Cerraram fileiras com Bolsonaro ao pressentir que seu principal inimigo, a esquerda, poderia vencer a eleição de 2022, de vez que o Supremo Tribunal Federal devolvera Lula à liberdade. Por fim, mal Bolsonaro soprou o apito de cachorro, piscaram para o golpe.

Suportem, portanto, as consequências do seu mau comportamento, purguem seus pecados e tentem se redimir.

Bolsonaro vira réu por apologia ao estupro

Bolsonaro virou réu no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) por incitação ao crime de estupro. A decisão é do juiz Omar Dantas de Lima, da 3ª Vara Criminal de Brasília. Ele acatou a denúncia contra Bolsonaro em 1º de setembro.

O caso se refere a declarações feitas em 2014 contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Na ocasião, quando ainda era deputado, Bolsonaro afirmou que Rosário só “não merecia” ser estuprada porque era “muito ruim”, “muito feia” e “não faz o meu gênero”.

Inicialmente, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu a denúncia contra Bolsonaro ainda em 2014. Na época, a vice-procuradora Ela Wiecko afirmou que a declaração do então deputado indicava que um homem poderia estuprar uma mulher que ele “entenda ser merecedora do estupro”, configurando a apologia ao crime.

Dois anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou o pedido da PGR, tornando Bolsonaro réu. Mas o andamento do processo foi suspenso em 2019, quando ele virou presidente. Isso porque a Constituição impede que o presidente da República, no exercício do mandato, responda por atos anteriores ao cargo.

Assim, em junho, com o fim do mandato de Bolsonaro, o ministro Dias Toffoli remeteu o caso para a primeira instância. A PGR havia se manifestado em abril ao ministro favoravelmente ao declínio de competência do STF e envio ao TJ-DFT.

Tornado réu, Bolsonaro atacou a Justiça e se vitimizou. “A perseguição não pára!”, publicou o ex-presidente nas redes sociais. A deputada ainda não se pronunciou. Acusado formalmente, Bolsonaro será interrogado. Posteriormente, caberá à sua defesa apresentar as alegações finais, antes do TJDFT decidir pela condenação ou absolvição.

Em 2017, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou outra decisão do TJDFT condenando Bolsonaro a indenizar Maria do Rosário por danos morais no mesmo caso. Ele recorreu ao STF, que também confirmou a condenação. Assim, quando já era presidente, ele teve que desembolsar R$ 20 mil em indenização à petista. Além disso, teve que se retratar publicamente, pedindo desculpas à parlamentar. Maria do Rosário doou o valor a sete entidades que defendem os direitos das mulheres. Outra ação sobre o mesmo caso, desta vez por injúria, prescreveu e foi arquivada em julho deste ano.


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