18/05/2024 - Edição 540

Mundo

Mortos e feridos por ataques de Israel em Gaza são 62% mulheres e crianças

Lula diz que ação do Hamas não justifica que Israel mate inocentes: presidente afirmou que vai ajudar a repatriar cidadãos da América do Sul na região

Publicado em 24/10/2023 1:47 - Gabriel Valery (RBA), Jamil Chade (UOL), Paula Laboissière e Andreia Verdélio (Abr) – Edição Semana On

Divulgação Agência Wafa

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A escalada de violência na Faixa de Gaza já deixa por volta de 5 mil mortos. Este número, contudo, é seguramente maior. Porém, trabalhando com os dados oficiais, a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) divulgou um estudo sobre a violência na região. A reação brutal de Israel a um atentado do grupo armado Hamas no dia 7 de outubro tem civis como principais alvos. De acordo com os dados da UNWRA, 62% dos mortos e feridos na Palestina são mulheres e crianças.

Os números da investida israelense contra palestinos revelam a natureza do massacre. A entidade alerta para genocídio, limpeza étnica em andamento, patrocinada pelo estado sionista. Israel sequer esconde as intenções de terminar de anexar todo território Palestino — algo que vem fazendo, de diferentes formas, incluindo ataques sistemáticos ao longo dos anos — desde sua fundação, em 1947.

A comunidade internacional, majoritariamente, condena o excesso de violência de Israel em suas operações. O Brasil, que ocupa temporariamente a presidência do Conselho de Segurança da ONU trabalha pela paz na região. O documento brasileiro pelo fim da escalada na região conta com apoio da comunidade internacional praticamente em sua totalidade; à exceção de Israel e Estados Unidos.

Ataques de Israel

Dos mortos, quase 2 mil são crianças, cerca de 1.900, sem contar com aquelas soterradas por uma das cerca de 7 mil bombas que Israel já lançou. Além disso, Israel já destruiu 24 ambulâncias, quase 20 hospitais e seis centros de Saúde da ONU. Ao todo, são 62 ataques documentados contra aparelhos de saúde.

Já em relação às moradias em Gaza, estima-se que 164.756 foram destruídas ou danificadas, ou 42% de todas as casas palestinas. O número de pessoas em deslocamento é de 1.4 milhão, incluindo “566 mil em abrigos da ONU que enfrentam péssimas condições”, informa a entidade.

As condições são difíceis porque, desde o início dos ataques, Israel não deixa entrar ajuda humanitária ou sequer deixa cidadãos de outras nações, como do Brasil, saírem da região. Falta tudo: água, comida, energia e combustível. A situação é especialmente delicada entre as 50 mil mulheres grávidas que moram na região. Estima-se que 160 partos aconteça por dia em Gaza.

“A insegurança alimentar afeta mulheres e crianças, especialmente as grávidas e lactantes, com risco de desnutrição ou malformação, além de anemia, hemorragia, entre outros. Há grande risco de morte para mães e bebês. A população local adotou uma estratégia de uma refeição por dia e um banho por semana”, afirma a UNRWA.

A entidade traz alguns relatos fortes sobre a situação. “Não sinto o feto se movendo desde que cheguei aqui. Tenho medo de sair e não sei onde conseguir ajuda. Estou com medo de perder meu filho”, afirma à entidade uma refugiada que está no acampamento logístico da ONU em Rafah, sul de Gaza. “Nenhum lugar é seguro. Estar aqui nos dá certo sentimento de segurança, mas não significa necessariamente. Os ataques são frequentes e vêm de todos os lados”, afirma outra palestina.

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EUA alertam Irã, e ONU diz que conflito corre risco de se espalhar

A reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU revelou a dimensão de uma crise internacional sem precedentes gerada pela guerra entre Israel e o Hamas.

No encontro, os EUA lançaram um alerta ao governo do Irã, Israel se recusou a falar em um cessar-fogo e pediu a demissão da cúpula da ONU, enquanto que o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a guerra corre o risco de se espalhar pela região. Para ele, é urgente que um cessar-fogo humanitário seja estabelecido.

“A situação no Oriente Médio está se tornando mais terrível a cada hora. A guerra em Gaza está em andamento e corre o risco de se espalhar por toda a região. As divisões estão fragmentando as sociedades. As tensões ameaçam transbordar”, afirmou António Guterres.

Tor Wennesland, representante da ONU para a situação no Oriente Médio, também soou seu alerta: “Há muito em jogo. Qualquer erro de cálculo seria devastador”, diz Tor Wennesland.

A reunião havia sido convocada pelo Brasil, na esperança de debater a crise no Oriente Médio. Mas as potências não conseguem chegar a um acordo sobre como lidar com a situação. Segundo Guterres, a situação é cada vez mais difícil e existe um risco de que a tensão saia do controle.

Mas, para o governo de Israel, não há como falar em cessar-fogo. O discurso de Guterres causou a ira dos israelenses, que cancelaram reuniões com o chefe da ONU e pedem sua demissão.

Em um discurso ao conselho, o chanceler israelense, Eli Cohen, se recusou a falar em um cessar-fogo, criticou a ONU e deixou claro que seu país vai vencer a guerra.

“O que seria a resposta proporcional de matar crianças? Como concordar com cessar-fogo com alguém que quer te destruir? A resposta proporcional é total destruição do Hamas. Não é só nosso direito. Mas nosso dever”, ressalta Eli Cohen.

“O Ocidente é o próximo. Hoje foi em Israel. Amanhã estarão na porta de todos. O sonho deles (Hamas) é o mundo, igual aos nazistas”, afirmou, apelando para que todos os países considerem o Hamas como terroristas. Para ele, há uma provocação ocorrendo para que outras forças também entrem na guerra.

EUA alertam Irã a não atacar

Antony Blinken, chefe da diplomacia dos EUA, também admitiu para o risco de que o conflito se espalhe e sinalizou que irá debater uma saída com a China, que mandará seu chanceler para Washington nos próximos dias.

O recado do americano, porém, foi direcionado aos iranianos. Segundo ele, se houver qualquer ataque, o governo de Joe Biden irá responder. “Não joguem combustível no fogo”, disse.

“Um conflito maior seria devastador”, disse. Para ele, governos devem mandar recados a todos os atores na região para que não abram novas frentes contra Israel. Ele também denunciou a atuação de Teerã.

“Não queremos que a guerra se amplie. Mas se o Irã atacar nossos cidadãos, não tenham dúvidas: vamos nos defender (…) Estamos numa encruzilhada”, diz Antony Blinken.

Tensão e acusações mútuas

O encontro foi marcado por tensão. Guterres fez questão de condenar o Hamas e a tomada de reféns israelenses. “Pedimos que eles sejam soltos imediatamente”, disse. Mas alertou que a crise “não ocorre num vácuo”. “Os palestinos vivem por 56 anos sufocados por uma ocupação”, afirmou.

Para ele, porém, nem a causa palestina nem o argumento de segurança de Israel justificam a violência. Denunciando o Hamas, Guterres deixou claro que a população palestina não pode ser usada como escudos humanos. Mas também criticou Israel e alertou que ordenar a evacuação de 1 milhão de pessoas não era aceitável.

“Nenhuma parte está acima da lei”, disse.

“As queixas do povo palestino não podem justificar os terríveis ataques do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestino”, afirma António Guterres.

O chefe da ONU ainda pediu que um cessar-fogo humanitário seja imediatamente estabelecido. Segundo ele, o que conseguiu entrar em Gaza é “um pingo de ajuda num oceano de necessidades”.

Segundo ele, os estoques de materiais da ONU na região vão acabar nos próximos dias. “Será um desastre”, afirmou.

Lynn Hastings, representante da Operação Humanitária da ONU, chamou o sofrimento dos palestinos de “épico” e apontou que, se combustível não entrar em Gaza, todos serviços aos palestinos serão paralisados.

Palestinos criticam indignação seletiva

“Pare o derramamento de sangue. Não há ajuda humanitária que será suficiente enquanto as mortes não pararem”, declarou Riyad al Maliki, chanceler palestino, ao Conselho de Segurança. Para ele, deve haver uma declaração imediata de um “fim das agressões” e o estabelecimento de corredores humanitários”.

Segundo ele, foram mais de 5.700 mortos em Gaza até agora, sendo 2.000 crianças. “Ao final dessa reunião, 150 palestinos terão morrido”, alertou.

Maliki ainda criticou a indignação dos demais governos em relação aos israelenses, sem que o mesmo sentimento seja demonstrado em relação aos palestinos.

“Onde está a indignação diante da morte de famílias palestinas?”, questiona Riyad al Maliki.

Segundo ele, se não houver uma mobilização pelos palestinos, a mensagem será de que Israel poderá continuar com os ataques. Para Maliki, “o mínimo que se pode dizer é que Israel comete algo desumano”. “São crimes”, denunciou.

O chanceler Riyad al Maliki ainda cobrou da comunidade internacional uma resposta: “Sua consciência humana não se ofende pela ocupação de Israel e pelo que ocorre hoje?”.

Israel critica a ONU e diz que “Hamas é o novo nazismo”

Uma posição radicalmente diferente foi tomada pelo governo de Israel. Nomeando as crianças que foram vítimas do Hamas e a dor das famílias, o chanceler israelense Eli Cohen criticou Guterres. “Em que mundo o senhor vive? Não é o nosso mundo”, disse.

Em seu discurso, o chefe da diplomacia israelense descreveu com detalhes o massacre cometido pelo grupo palestino. “Você não esteve lá”, disse Cohen.

“O Hamas é o novo nazismo (…) Da mesma forma que o mundo se uniu contra o nazismo e contra o Estado Islâmico, a comunidade internacional precisa se unir contra o Hamas”, perorou Eli Cohen.

O chanceler fez um apelo para que os reféns israelenses sejam soltos imediatamente. A reunião do Conselho de Segurança ainda contou com as famílias das vítimas, que pediam ação dos governos para condenar o Hamas.

“Essa reunião deve terminar uma mensagem clara: tragam eles de volta para casa”, disse o ministro, que ainda apresentou áudios com vozes de membros do Hamas.

Cohen deixou claro seus ataques contra Guterres. Segundo ele, se não houver uma resposta, “essa será a hora mais negra da ONU, sob sua gestão. “Esse local (Conselho) não terá motivo para existir”, alertou.

Lula: ação do Hamas não justifica que Israel mate inocentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (24) a reação de Israel após o ataque do grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. “Não é porque o Hamas cometeu um ato terrorista contra Israel que esse país tem que matar milhões de inocentes”, disse, no programa semanal Conversa com o Presidente, transmitido pelo Canal Gov.

Lula disse que já conversou com líderes de diversos países – incluindo Israel, Autoridade Palestina, Egito, Irã, Turquia, França, Rússia e Emirados Árabes – com o objetivo de mediar uma solução para o conflito. Segundo ele, ainda estão previstas conversar com líderes da China, da África do Sul e do Catar.

“Estou falando com todo mundo pra que a gente consiga três coisas. Primeiro, garantir o corredor humanitário para que as pessoas possam receber água, comida, remédio. Garantir que não falte energia elétrica nos hospitais para que as pessoas possam ser tratadas. E garantir que não se mate mais crianças. Não tem exemplo na humanidade de guerra em que quem morre mais é criança, que não está na guerra. E crianças dos dois lados, quando não queremos que morra ninguém.”

“Se você não falar em paz todo dia, todo dia, todo dia, as pessoas esquecem que é possível construir a paz. Quando vejo autoridades falarem em guerra, fulano tem que matar cicrano, tem que derrotar, não é assim que a gente resolve o problema. Numa mesa de negociação, não morre ninguém. Custa mais barato e a gente pode encontrar solução. É preciso que a gente consiga que lá, no Oriente Médio, Israel fique com o território que é seu e que está demarcado pela ONU [Organização das Nações Unidas] e que os palestinos tenham o direito de ter a sua terra. É simples assim e não precisa ninguém ficar invadindo a terra de ninguém.”

Brasileiros 

Lula afirmou que há brasileiros na Faixa de Gaza – incluindo mulheres e crianças – que aguardam numa região próxima à fronteira com o Egito para a repatriação. “Já falei com o presidente do Egito, o meu ministro já falou com o ministro das Relações Exteriores, o avião presidencial menor já está no Cairo à espera dessa gente. Assim que abrir a fronteira, vamos buscar os brasileiros e trazer pra cá. Porque é aqui o lugar deles, um país seguro, que não tem guerra. E a gente pretende dar a eles a cidadania que não conseguiram conquistar morando na Faixa de Gaza, com a truculência e com os bombardeios.”

Críticas à ONU 

“Todo dia, a gente vê Israel invadir a terra dos palestinos e a ONU não faz nada porque está enfraquecida. Esse é o meu papel, de tentar criar as condições para que a gente possa voltar a sentar à mesa de negociação. Ainda ontem falei com o [presidente da Rússia, Vladimir] Putin sobre a guerra da Ucrânia e sobre a guerra do Oriente Médio. É preciso que as pessoas parem”, disse o presidente.

Para Lula, se a ONU “tivesse força”, poderia exercer o que chamou de maior interferência no conflito.

O conflito vem se espalhando pela região. Dois palestinos foram mortos nesta segunda (23) no campo de refugiados na Cisjordânia. Foto: Agência Wafa

Lula diz que vai ajudar repatriar cidadãos da América do Sul de Gaza

O presidente Lula afirmou também que o Brasil vai ajudar a repatriar cidadãos da América do Sul que estejam nas áreas do Oriente Médio impactadas pelo conflitos entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas. A Força Aérea Brasileira (FAB) já trouxe ao Brasil 1.413 pessoas e 53 animais de estimação, em oito voos de repatriação.

Lula disse que tem mantido conversas com o Comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, sobre as operações. “Falei pro Damasceno: se ao terminar de recrutar os brasileiros, tiver homens e mulheres da América Latina, da América do Sul, que não tenham condições de voltar ao nosso continente, a gente vai prestar solidariedade e a gente vai também trazer essa gente. Esse é o papel do Brasil no mundo”, disse durante o programa semanal Conversa com o Presidente.

Para ele, a imagem do Brasil no mundo é de um povo solidário e fraterno. Lula destacou que, independentemente de posições, é papel do governo brasileiro cuidar dos seus nacionais no exterior.

“O povo brasileiro sempre foi conhecido por ser um povo bondoso, generoso. Nós somos um povo alegre, que gosta de samba, de carnaval, de música, que gosta de trabalhar, mas a gente gosta de tratar as pessoas com carinho, a gente gosta de solidariedade. A gente viveu um período de 6 anos de anormalidade, com o ódio tentando ocupar um espaço que nunca teve no Brasil”, disse.

“O que nós fizemos de buscar nossa gente lá é para dizer que ninguém larga a mão de ninguém nesse país. Qualquer brasileiro que estiver dentro da área de guerra, que precisar voltar para o Brasil, nós não mediremos esforços, iremos buscar. Eu não quero saber de que partido essas pessoas são, de que religião, a que time as pessoas torcem, não quero saber pra quem as pessoas votaram, eu quero saber que são brasileiros e brasileiras que estão querendo voltar para o Brasil”, acrescentou o presidente.

Ainda aguardam resgate cerca de 30 brasileiros que estão na Faixa de Gaza e que devem deixar a região pela fronteira com o Egito. Entretanto, ainda há impasse entre as autoridades para que isso aconteça.

No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs um cerco total ao território , com o corte de abastecimento de água, combustível e energia elétrica.

Os ataques já provocaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. Estima-se que cerca de 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas de suas casas em Gaza. O Brasil defende a libertação dos reféns pelo Hamas e a criação de um corredor humanitário para permitir o envio de ajuda aos civis palestinos na Faixa de Gaza.

Durante o programa, o presidente Lula lembrou que já conversou com diversos chefes de Estado que têm relações na região, e que vai insistir na criação de uma mesa de negociação para acabar com o conflito. “Não é porque o Hamas cometeu um atentado terrorista que Israel tem que matar inocentes”, disse Lula sobre as mais de 1,5 mil crianças palestinas que já morreram no ataques.


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