Re-existir na diferença
Um passo na superação do colonialismo racista estrutural
Publicado em 30/09/2022 11:48 - Ricardo Moebus
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Neste domingo estaremos juntos em uma grande onda envolvendo todas as forças democráticas do Brasil nesta coalizão para vencer o fascismo já no primeiro turno.
Sim, estaremos juntos nesta virada histórica desta mais recente página obscura da história do Brasil.
Infelizmente, páginas obscuras e lamentáveis na história brasileira são mais a regra que a exceção, por isso mesmo, a vitória da democracia neste domingo é fundamental, é urgente e indispensável, mas apenas um instante de uma disputa que certamente já se arrasta desde a invasão europeia colonialista e se prolongará muito ainda depois desta vitória no combate ao fascismo brasileiro.
Nesta fase que ora vamos superar e que as forças e os modos fascistas de existir vieram à tona com tanta evidência e despudor, vale lembrar o pensador Aimé Césaire que tão bem elucidou a íntima relação entre o colonialismo, os modos colonialistas de operar e o fascismo, os modos fascistas de existir.
“Isso significa que o essencial aqui é ver com nitidez, pensar com nitidez, entender temerariamente, responder com nitidez à inocente pergunta inicial: o que, em seu princípio, é a colonização? É concordar que não é nem evangelização, nem empreendimento filantrópico, nem vontade de empurrar para trás as fronteiras da ignorância, da doença e da tirania, nem expansão de Deus, nem extensão do Direito; é admitir de uma vez por todas, sem recuar ante as consequências, que o gesto decisivo aqui é do aventureiro e do pirata, dos merceeiros em geral, do armador, do garimpeiro e do comerciante, do apetite e da força, com a sombra maléfica, por trás, de uma forma de civilização que, em um momento de sua história, se vê obrigada internamente a estender à escala mundial a concorrência de suas economias antagônicas,”
(…)
“Aonde quero chegar? A esta ideia: que ninguém coloniza inocentemente, que ninguém coloniza impunemente; que uma nação colonizadora, uma civilização que justifica a colonização – portanto a força – já é uma civilização doente, uma civilização moralmente atingida que, irresistivelmente, de consequência em consequência, de negação em negação, chama seu Hitler, quero dizer, seu castigo.
Colonização: uma cabeça de ponte, em uma civilização, da barbárie que, a qualquer momento, pode levar à pura e simples negação da civilização.”
Pois bem, neste domingo iremos vencer o fascismo nas urnas, sim, e isso é fundamental.
Mas, em seguida, também é fundamental seguirmos trabalhando na desconstrução do colonialismo racista que opera sobejamente em nossos modos societários de viver e conviver, uma urgência decolonialista se faz presente para evitar o retorno sempre terrível do próximo títere, fascista, falsário, farsante, pronto para derrubar as parcas conquistas civilizatórias que arduamente e a passos lentos e letárgicos conquistamos e construímos.
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