17/05/2024 - Edição 540

Re-existir na diferença

E agora José?

A Emergência foi, a Pandemia ficou

Publicado em 11/05/2023 11:13 - Túlio Batista Franco

Divulgação Pixabay

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No início de 2020 a Organização Mundial de Saúde decretou emergência de saúde pública mundial, em relação à Pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. Mais de três anos, e a morte de mais de 7 milhões de pessoas, a emergência global caiu, mas ficou a Pandemia como um fantasma que assombra a humanidade. A geração atual vai viver até o seu fim com os efeitos no corpo, desta experiência trágica.

Igualmente dramático é perceber que todo o conhecimento moderno, não foi capaz de proteger a população global contra o ataque intensivo de um vírus. Preocupante ainda é ver a maioria do establishment mundial observar a tragédia que se abateu sobre a humanidade, e continuar como se estivesse pegando o fio da meada de 2019, e segue governando a partir deste ponto.

Não se trata de ficar vivendo na emergência sanitária indefinidamente, mas, a pandemia passa algum recado para o mundo que precisa ser lido e providência deveriam ser tomadas. Com destaque para dois problemas de grande magnitude, a emergência climática que denuncia o desequilíbrio ambiental; e a fragilidade dos Sistemas de Saúde no mundo inteiro no enfrentamento da crise sanitária global.

Sobre a questão climática, um planeta está febril, com aumento de temperatura em 1,5 grau nos últimos 200 anos. Neste período verificou-se uma significativa alteração físico-química da Terra, causada por interferência humana. O próprio aparecimento do novo coronavírus como se viu, é efeito do extrativismo predatório, e convívio hostil com a natureza. Até onde se sabe a origem do novo vírus teve como causa o efeito “transbordamento”, quando o vírus passa da espécie silvestre para humana, consequência do desequilíbrio ambiental.

Segundo ambientalistas, a Terra já não consegue repor a energia que se consome a cada ano, exaurindo sua capacidade e sua energia vital. Sem dar consequência ao grito de Gaia, novos episódios com a Pandemia poderão ser vistos mais à frente, em um tempo menor do que se imagina. A banalização do sofrimento alheio, e à vida, é proporcional ao crescimento da financeirização global.

Os sistemas de saúde em todo o mundo foram pressionados ao limite. No Brasil a generosidade do SUS durante a pandemia de COVID-19 mostrou o muito que pode ser alcançado quando se tem mobilização em torno de um objetivo comum. Mesmo com a asfixia imposta por falta de recursos, o SUS se mostrou um gigante na proteção da população.

A pandemia de COVID-19 deu visibilidade às grandes lacunas dos sistemas de saúde, como por exemplo, os serviços de referência territorial, não conseguiram deter a intensidade de infecções causadas pelo coronavírus. A pessoa quando internada significada uma derrota para o sistema de prevenção, que era exclusivamente por medidas protetivas, cuja eficácia se associa à ação nos territórios. Ficou evidente que, por mais que se fale em investir na Rede Básica de Saúde, de fato ela não tem sido prioridade nas políticas, frente à cadeia produtiva hospitalar e de procedimentos de alta complexidade e custo. Soma-se a isso a baixa ousadia na construção de novas possibilidades de organização do cuidado, que façam uma radical aposta em serviços de referência territorial, especialmente nas ações micropolíticas tomando as relações locais, sistemas de vizinhança, solidariedade, e coletividade como foco. Nunca é demais insistir que é necessária uma aposta radical na capacidade produtiva de cuidado dos territórios, dentro das suas dinâmicas comunitárias. Isto tem potência para mudar e qualificar as redes de saúde.

A pandemia expôs a fragilidade dos sistemas de saúde em todo o mundo. Manter a memória viva sobre o que aconteceu é uma forma de resistir a tudo o que corrobora na manutenção da atual situação. Só a ação indignada e massiva poderá deter a sanha global, imperial, na sua dinâmica financista, que tortura Gaia, e assassina os povos que nela habita.

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Emerson Merhy, Túlio Franco, Ricardo Moebus e Cléo Lima


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