11/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

As narrativas bolsonaristas colocam em risco a democracia, medidas sanitárias e o Estado de direitos

A discussão do PL das fakenews deu espaço às narrativas mais absurdas com base em mais fakenews

Publicado em 05/05/2023 2:42 - Rafael Paredes

Divulgação

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No dia 22 de fevereiro deste ano publiquei o artigo “Desencanto com a humanidade – parte 2” que alertava para o potencial catastrófico para a humanidade das redes sociais associadas ao discurso de ódio. No último dia 3, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL), retirou da pauta do Plenário o Projeto de Lei 2630/20 que busca regulamentar a utilização das redes sociais. Essa era a oportunidade do Brasil estar na vanguarda dessas discussões, mas a sociedade brasileira flerta com as trevas ao invés da vanguarda.

A retirada de pauta do chamado PL das Fakenews foi a primeira de uma séria de derrotas acachapantes do Governo Federal na Câmara dos Deputados ao longo da semana. Por mais que a semana também tenha sido negativa para a oposição bolsonarista, é o povo brasileiro e o atual presidente que precisam de governabilidade para as medidas necessárias para aplacar as mazelas brasileiras do mundo real.

Nesta semana, a Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar emissão de cartões de vacina falsos por assessores do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Foram realizadas buscar na casa de Bolsonaro e a prisão, dentre outras pessoas, do ex-ajudante de ordem, o militar da ativa coronel Cid. Mas, o que me interessa neste texto são as redes sociais.

O que chama a atenção neste debate do Projeto de Lei é como uma narrativa completamente falsa pode vencer na opinião pública e no Parlamento frente à verdade dos fatos. A extrema direita mundial e no Brasil também inegavelmente tem maior facilidade no manejo das redes sociais que os campos progressistas e democráticos. Enquanto os intelectuais de esquerda problematizam a proposição legislativa em simpósios acadêmicos, os bolsonarista sobem a hashtag #PLdaCensura e simplificam o debate com uma mensagem direta, objetiva e onde o povo está: nas redes sociais.

A questão é que o projeto de lei não tem nada a ver com censura ou liberdade de expressão. Mesmo porque, meu irmão, nas redes sociais você já não tem liberdade de expressão. É um sofisticado algoritmo que decide quem vai ou não ver a sua publicação. Os democratas estão preocupados com esse debate porque tudo leva a crer que este algoritmo privilegia discursos de ódio, preconceituosos, violentos, nazistas e criminosos, pois esses geram mais engajamento. Com instrumentos da psicologia, essas empresas identificaram que é lucrativo dialogar com o lado mais perverso da alma humana.

Obviamente que a extrema-direita brasileira não agiu sozinha. Além deles, que querem cometer seus crimes livremente nas redes sociais, as próprias empresas de redes sociais não querem nem a responsabilidade legal de fiscalizar e nem perder receita ou aumentar despesas tendo de remunerar artistas e empresas de comunicação por suas produções. A associação dessas, que são as maiores e mais lucrativas empresas da atualidade com a extrema-direita e grupos religiosos impuseram a primeira derrota legislativa do Governo e dos processos civilizatórios no ano. Até o presidente da Câmara compreendeu a importância do projeto e participou ativamente das articulações.

Os países da Europa, a Austrália e os Estados Unidos estão discutindo a regulamentação das redes sociais com o objetivo de colocar regras nessas empresas que lucram livremente sem respeitar as Constituições Nacionais. Este debate não é sobre censura ou liberdade de expressão. É sobre colocar regras em um negócio muito lucrativo que tem potencial extremamente nocivo à sociedade. E, desta vez, a narrativa Bolsonarista, aquela da Terra plana e dos antivacinas, venceu.

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Rafael Paredes


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