11/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Desencanto com a humanidade – Parte 2

Em breve será publicada a parte 1. Percebe que você não se diverte mais como antes?

Publicado em 22/02/2023 9:27 - Rafael Paredes

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Há um estresse no ar, uma verdadeira tensão. Você está no lugar onde mais gosta, com as pessoas que você ama, comendo seu prato predileto, ouvindo seu cantor preferido e… aquela expectativa de uma sensação mágica não se confirma. O sabor não atinge o que você esperava, o cantor não te emociona e tudo parece meio forçado e artificial.

A humanidade se dedicou com mais interesse em se auto aniquilar no início do século passado, mas não obteve êxito. E olha que somos muito bons em aniquilação. É só verificar o nosso sucesso em extinguir grandes mamíferos na nossa história antropológica de expansão de nossa espécie. A matéria prima para o desejo de nos extinguirmos nos últimos séculos foi o ódio. Cansados de nos encontramos por aí, resolvemos nos classificarmos como piores e melhores com bases supostamente científicas como fez o nazismo.

Outros regimes quase tão perversos mas igualmente totalitários também forjaram o ambiente para nossa extinção: as grandes guerras e episódios do período Pós-guerra. Porém, o ódio não era um fenômeno tão de massa, em todos os países, ramificado, capilarizado, que dividia famílias da elite de Miramar as periferias brasileiras. As primeiras tentativas de nossa extinção não deram certo, porém, 100 anos depois, encontramos formas de corrigir os erros anteriores.

As redes sociais se mostraram muito bem sucedidas em propagar o sentimento do ódio para atingir individualmente cada ser humano. Com os smartphones nas mãos de grande parte da população, com a expansão da tecnologia e o melhoramento da internet, o indivíduo se radicaliza e odeia o seu próximo com extraordinária facilidade.

O ódio se propaga também por ser lucrativo e de fácil assimilação. O ódio como conteúdo apresenta um suposto sistema que te odeia antes de você o odeie. As teorias da conspiração inundam as redes sociais e aplicativos de mensagem. Você passa acreditar na existência de um sistema – globalismo, comunismo, ditadura gay, etc – e passa a odiar esse sistema e aqueles que se identificam com pautas supostamente pertencentes a esse sistema inexistente. Você passa a se identificar e ter a sensação de grupo e pertencimento com aqueles que odeiam da mesma forma que você. Está pronta uma organização perigosa.

Conteúdos de ódio são atraentes, engajam, são monetizados, financiam e sustentam seus produtores. Um ciclo fechado e com alto impacto.

Se o fator limitante para o projeto de extinguirmos a humanidade era um canal para espalharmos o ódio, já conseguirmos construir uma alternativa. O discurso do ódio é perverso, mentiroso, anti-ciência, facistóide, preconceituoso, xenofóbico, racista, irônico e dúbio. Ao temer que na mesa ao lado exista alguém já contaminado tecnologicamente com o vírus do ódio, tudo perde o sabor, a alegria, a espontaneidade, o espírito e o amor. Já é perceptível na pele a presença próxima do ódio ao lado.

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Rafael Paredes


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