Campo Grande
Publicado em 19/06/2020 12:00 -
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O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) mandou soltar o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-deputado estadual, Jerson Domingos, preso quinta-feira (18) na terceira fase da operação Omertá, suspeito de integrar grupo que estaria envolvido em várias execuções no estado.
A revogação da prisão preventiva, em caráter liminar, saiu na madrugada desta sexta-feira (19) e é do desembargador plantonista Vladimir Abreu da Silva. O mesmo magistrado também concedeu liberdade a Cinthya Name Belli, sobrinha e funcionária de Jamil Name.
Cinthya também foi presa quinta-feira sob a suspeita de participar da milícia que seria liderada pelo tio e pelo primo, Jamil Name Filho, ambos detentos do Presídio Federal de Mossoró.
Outro suspeito que teve a liminar concedida foi Benevides Pereira, funcionário de Jamil Name. Ele foi liberado com medida cautelar. Está proibido de sair de Campo Grande e terá que comparecer em juízo sempre que chamado.
Argumentos
No pedido de revogação da prisão preventiva, a defesa de Jerson Domingos argumentou que os contatos dele com Jamil Name se devem porque são parentes. O conselheiro é irmão da esposa de Jamil e as conversas entre eles estão relacionadas a assuntos de família. Os advogados citaram ainda que o ex-deputado tem "idade avançada" e trata de diabetes há 12 anos.
No caso de Cinthya, a defesa dela citou que ela tem 51 anos e obesidade, situação que a coloca no grupo de risco para covid-19. Além disso, tem residência fixa, trabalho lícito e não possui antecedentes criminais.
Os advogados de Benevides Pereira argumentaram que ele é apenas office boy. Que faz serviços de acordo com os mandos de Cinthya, que é a responsável financeira pelos negócios ligados a cavalos de Name. E que, como o escritório onde Cinthya trabalha fica no mesmo imóvel que outras atividades de Jamil Name, acaba fazendo serviços bancários de acordo com o que lhe é pedido.
Omertá 3
A ação foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e prendeu diversas pessoas. A Justiça havia expedido 18 mandados de prisão preventiva e dois de temporária. Ao menos duas pessoas estão foragidas: Fahd Jamil, já condenado criminalmente pela Justiça em anos anteriores, e o filho, Flávio Correia Jamil Georges.
Foi preso ainda na ação o delegado de Polícia Civil Márcio Shiro Obara. Ele foi lotado na Delegacia Especializada de Repressão a Homicídios e atualmente estava na 2ª Delegacia, na capital. A delegada Regina Márcia Rodrigues, presidente da Associação dos Delegados de Polícia, informou que o jurídico da associação esta prestando assistência a Obara.
Um policial federal, dois investigadores de Polícia Civil e um terceiro sargento da Polícia Militar, todos lotados em Campo Grande, estão na lista dos presos. Um dos investigadores já estava preso.
Operações
A primeira fase da operação Omertá foi deflagrada em setembro de 2019. A Polícia Civil de Mato Grosso do Sul e o Gaeco prenderam empresários, policiais e, na época, guardas municipais, investigados por execuções no estado.
Na segunda fase, em março de 2020, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apreendeu arma no apartamento do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ex-deputado estadual, Jerson Domingos, em Campo Grande.
Execuções
A suspeita é que o grupo tenham executado pelo menos três pessoas na capital sul-mato-grossense, desde junho de 2018. Outras mortes também estão sendo investigadas.
A última morte atribuída ao grupo é do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos. Ele foi atingido por tiros de fuzil no dia 9 de abril, quando manobrava o carro do pai, na frente de casa, para pegar o dele e buscar o irmão mais novo na escola.
Pouco mais de um mês depois, no dia 19 de maio de 2019, policiais do Garras e do Batalhão de Choque da Polícia Militar (BpChoque) apreenderam um arsenal com um guarda municipal, em uma casa no Jardim Monte Líbano. Foram apreendidos 18 fuzis de calibre 762 e 556, espingarda de calibre 12, carabina de calibre 22, além de 33 carregadores e quase 700 munições.
Segundo as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, esse arsenal pertencia ao grupo preso na operação Omertà.
Milícia
A chefia do grupo é atribuída pela polícia ao empresário Jamil Name, seguida do filho dele, Jamil Name Filho. Ambos e mais um policial suspeito de envolvimento na milícia estão presos desde a primeira fase da operação Omertá e estão no Presídio Federal de Mossoró.
Um suposto plano da milícia do jogo do bicho para matar um promotor de Justiça e um delegado que comandaram as investigações que desarticulou o grupo em Mato Grosso do Sul foi descoberto em um pedaço de papel higiênico em uma cela do presídio onde os três estão.
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