18/05/2024 - Edição 540

Especial

TERRORISMO ECONÔMICO

Com juros estratosféricos, Campos Neto agrada o mercado e destrói o Brasil

Publicado em 23/06/2023 11:15 - Correio Braziliense, Carlos Rydlewski (Metrópoles), Fiems, RBA, Rafael Vilela e Wellton Máximo (Abr), Jamil Chade (UOL) – Edição Semana On

Divulgação Midjourney - Victor Barone

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Não há mais nenhum motivo real para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não inicie os cortes na taxa básica de juros, a não ser a impossibilidade de se desviar das previsões do mercado financeiro, ainda que atender à expectativa vá frustrar empresários, governo e sociedade, que esperam ansiosamente pelo início da queda da Selic, hoje em 13,75% ao ano.

Não há explicação para o fato de o Brasil ter a maior taxa de juros real do mundo e conviver com inflação menor do que os países desenvolvidos. É certo que o núcleo da inflação monitorado pelo Banco Central mostra certa resiliência dos reajustes de preços, mas nada que se estenda a um horizonte mais longo. Esta semana, o próprio mercado financeiro apontou para redução das expectativas de inflação e da taxa de juros.

Ao cumprir estritamente o que espera o mercado, o Banco Central não demonstra nenhuma independência em relação aos agentes financeiros. Na reunião da última quarta-feira (21), o Copom manteve a Selic em 13,75% e divulgou um duro comunicado que surpreendeu economistas que atuam no mercado financeiro. “O BC reconheceu a melhora da conjuntura, mas afirmou que o processo desinflacionário ‘tende a ser mais lento’”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Consideramos o comunicado duro.”

Tudo seguindo o script do mercado financeiro. E a pergunta que é necessária fazer: Qual é a diferença entre promover um corte de 0,25 ponto agora e outro de 0,25 na reunião de agosto, ou fazer um único corte de 0,5 ponto? Mudança nas expectativas. E aqui não se trata de uma redução passada como foi feito, situação sempre citada para justificar a demora no corte das taxas quando as condições são favoráveis.

Mas, nesse caso, o Banco Central terá que ajustar, uma vez que até agora as projeções apontavam para a Selic a 12,5% no fim do ano, apontando para corte de 1,25 ponto percentual. Só que o mercado espera a Selic a 12,25%, ou 0,25 ponto a mais de redução. Para 2024, as previsões foram reduzidas de 10% para 9,5%, ou 4,25 ponto percentual a menos em relação ao patamar atual da Selic. O próprio mercado indica para o Banco Central que a taxa de juros pode cair mais, uma vez que as projeções para a inflação também estão em queda.

Esta semana, a previsão do IPCA para o ano foi reduzida de 5,42% para 5,12%. O percentual ainda está acima do teto da meta para 2023, que é de 4,75% (meta de 3,25% com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo). Mas, para os próximos anos, as projeções caminham para o centro da meta, que é de 3% para 2024 e 2025. As estimativas colhidas pelo Banco Central apontam para um recuo de 4,04% para 4% para o próximo ano e de 3,90% para 3,80% no seguinte. Ainda fora do centro da meta, mas dentro do teto fixado pelo Conselho Monetário Nacional.

O que se espera do Banco Central é que ele olhe também para as condições da economia. Juros altos estrangulam o orçamento das famílias e limitam a capacidade de investir das empresas e mesmo de gerir seu fluxo de caixa. Não é uma questão de governo contra a autoridade monetária, porque nessa batalha a sociedade é sempre excluída e sofre as consequências do arrocho monetário, que já dura praticamente um ano. É preciso mais do que apenas uma sinalização de que a Selic vai cair na próxima reunião.

“O comunicado do Copom trouxe elementos mais duros do que a nossa expectativa”, afirma Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital. “Mas o tom geral foi no sentido de abrir espaço para uma flexibilização da taxa nas próximas reuniões.”

Ela acrescenta que, para que cortes aconteçam em agosto, a meta de inflação em 3% ao ano terá de ser confirmada na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na próxima semana, e as projeções de inflação devem continuar caindo nas pesquisas semanais realizadas pelo BC, divulgadas no Relatório Focus.

Na análise de Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, por conta da “dureza” do comunicado, o BC pode estar olhando para uma redução da Selic não em agosto, mas, sim, a partir de setembro.

Entidades do setor produtivo e centrais sindicais criticam juros altos

A manutenção da Taxa Selic em 13,75% ao ano voltou a atrair críticas de setores da economia. Entidades do setor produtivo e centrais sindicais alertaram para o risco de o nível alto dos juros prejudicarem a recuperação da economia.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou de “equivocada” a decisão do Copom. Segundo a entidade, a Selic, que está no maior nível desde janeiro de 2017, está fazendo a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerar fortemente, mas está acima do necessário e impõe riscos à produção e ao consumo.

“Esperamos que, com a continuidade do movimento de desaceleração da inflação, o Copom inicie já na próxima reunião o tão necessário processo de redução da Selic”, afirmou, no comunicado, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Segundo a CNI, entre a reunião do Copom de 2 e 3 de maio e a reunião desta quarta-feira (21 de junho) a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação esperada – subiu de 8,1% ao ano para 9,2% ao ano. Com isso, a taxa de juros real está 5,2 pontos percentuais acima da taxa de juros real neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica. A entidade também lembrou que a produção industrial caiu em três dos quatro primeiros meses deste ano.

O presidente da A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fiems), Sérgio Longen, foi enfático ao criticar a decisão do Banco Central. Para ele, a permanência da taxa de juros resultará em custos adicionais desnecessários ao país, dificultando ainda mais a manutenção e recuperação da atividade econômica nos próximos semestres, inibindo investimentos e reduzindo o potencial de crescimento.

“O que preocupa não é a decisão pura e simples do Copom, mas a situação das empresas, que não estão mais conseguindo pagar os juros nesses patamares, que se encontram muito acima do nível que é compreendido como neutro. Vemos um grande esforço nacional para conter a inflação, redução dos preços de combustíveis e de diversas matérias-primas, mas a taxa de juros permanece elevada”, afirmou Longen.

Ainda de acordo com o presidente da Fiems, a manutenção da Selic faz com que as empresas acabem ficando inadimplentes. “É o mesmo que manter a pessoa que está se afogando embaixo da água, que é como está a maioria das empresas hoje, praticamente reféns da decisão técnica de meia dúzia de pessoas”, enfatizou.

Ele também ressaltou que a Selic se encontra muito acima daquele nível que é compreendido como neutro, ou seja, do patamar em que promove o controle da inflação, mas sem desestimular o crescimento da economia.

“Tanto é verdade, que a taxa de juros real, ou seja, descontando a inflação, segue muito próxima de inaceitáveis 10% ao ano. No momento, isso faz com que o Brasil tenha a maior taxa de juros reais do mundo. Por essa razão, entendemos que permanência da Selic no atual patamar é desnecessária para o controle da inflação, trazendo problemas adicionais à economia, com a elevação dos custos para o financiamento das atividades produtivas, restringindo a produção e o consumo”, finalizou.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) também considerou inadequada a decisão do Copom. A federação avalia que o recente alívio nos preços correntes e a contínua redução das expectativas inflacionárias para 2023 e 2024 são fatores que indicam que haveria espaço para um recuo na Selic. “Adicionalmente, o cenário doméstico tem contribuído para a redução da percepção do risco país. Isso se reflete de forma positiva no câmbio, que continua a se fortalecer frente ao dólar, favorecendo o contexto desinflacionário”.

A Firjan reforça que “os desafios internos se multiplicam. Os indicadores de atividade de curto prazo já apontam queda da atividade econômica no início deste segundo trimestre. Nesse cenário, a recuperação da confiança do setor produtivo exige uma política monetária mais moderada, a aprovação do novo arcabouço fiscal e o subsequente compromisso com as novas regras, visando garantir a sustentabilidade da dívida pública”. Além disso, são necessárias mudanças estruturais, como a reforma tributária, que assegurem uma retomada sólida do crescimento econômico, promovendo a geração de emprego e renda para a população.

As centrais sindicais também criticaram a manutenção da Selic. Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lembrou que os juros altos encarecem o crédito para as pessoas físicas e as empresas, que estão nos maiores níveis dos últimos anos. Na terça-feira (20), diversas entidades de trabalhadores protestaram na frente do Banco Central contra os juros altos.

“Todos nós estamos perdendo. O país está perdendo com o Banco Central mantendo o país com uma Selic em um patamar tão elevado, que influencia todo o sistema financeiro, inclusive os bancos, e faz com que sejam praticadas taxas de juros abusivas, as mais altas do mundo”, destacou no comunicado a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.

A Força Sindical também considerou um erro o atraso no início da queda na Taxa Selic, num momento em que a inflação está claramente caindo. “Como dito, a inflação tem mostrado tendência de queda, com redução pelo terceiro mês consecutivo do índice de preços, e a expectativa é que deflações comecem a ser registradas”, destacou a entidade. “Diante de todo esse contexto, reforça-se que a decisão do Copom é equivocada e prejudicial para o atual momento econômico”, ressaltou.

‘É irracional taxa de juros de 13,75% com inflação de 5%’, diz Lula na Itália

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou de “irracional” a decisão do Copom. Em entrevista coletiva em Roma, na quinta-feira (22), não poupou críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “É irracional o que está acontecendo no Brasil, você ter uma taxa de 13,75% com uma inflação de 5%”, afirmou.

“Não se trata do governo ficar brigando com o Banco Central. Quem está brigando com o Banco Central hoje é a sociedade brasileira”, disse Lula, referindo-se à Confederação Nacional das Indústrias (CNI), varejistas, pequenos e médios produtores, centrais sindicais e movimentos populares.

O presidente foi enfático nas críticas e mandou novo recado ao Senado. “Tenho cobrado dos senadores. Foram os senadores que colocaram esse cidadão lá. Então os senadores têm que analisar se ele está cumprindo aquilo que foi aprovado para ele cumprir. Na lei que está aprovada, ele tem que cuidar da inflação, do crescimento econômico e da geração de empregos. Então ele tem que ser cobrado. É só isso.”

Ele disse ainda que o presidente do BC, Campos Neto, não está a serviço da economia e da população brasileira. “Não existe explicação aceitável do porquê a taxa de juros está 13,75%. Nós não temos inflação de demanda”, avaliou. “Acho sinceramente que esse cidadão está jogando contra os interesses da economia brasileira”, concluiu.

O presidente viajou nesta quinta-feira para a França, onde participa de eventos em Paris, inclusive jantar oferecido pelo presidente da França, Emmanuel Macron.

Presidenta nacional do PT e principal articuladora de uma queda de Campos Neto, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) classificou como sabotagem a manutenção dos juros em 13,75%.

“Está na hora do Senado agir, com os poderes que a lei confere, para cobrar Campos Neto e a diretoria bolsonarista do Banco Central. Sabotam a economia e atuam propositalmente contra o país. Não há mais como tolerar esta situação. O certo é a saída desse pessoal”, tuitou.

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou denúncia ao Conselho Monetário Nacional (CMN) contra Campos Neto, dizendo que ele vem descumprindo os objetivos do BC. Farias pediu para que o CMN avalie pedir ao Senado a exoneração do presidente do banco.

“A decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% é inaceitável. Fica parecendo, cada vez mais, que Roberto Campos Neto e o Banco Central não estão agindo de forma técnica ao manter, pela sétima vez consecutiva, os juros em patamar tão elevado, mas, sim, agindo politicamente para travar a economia brasileira e sabotar o governo do presidente Lula”, afirmou Lindbergh.

“A decisão do Banco Central veio acompanhada de um comunicado que é um acinte com a sociedade brasileira, ao falar que a conjuntura demanda ‘paciência e serenidade na condução da política monetária’.”

“O Banco Central exige paciência, mas o Brasil não pode esperar. As empresas que estão quebrando não podem esperar, as famílias endividadas não podem esperar, diversos setores da economia em retração não podem esperar”, finalizou o parlamentar.

Alckmin: impacto fiscal da taxa de juros é de R$ 190 bilhões

O vice-presidente, e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, também criticou a decisão do Banco Central. Para ele, além de causar danos à atividade econômica, inibindo investimentos e prejudicando o comércio e a indústria, esse patamar de juros tem impacto forte na situação fiscal do país, já que grande parte da dívida está indexada à taxa Selic.

“Quase metade da dívida pública brasileira é selicada [indexada à Selic]. Então, cada 1% da taxa Selic custa R$ 38 bilhões [de pagamento do serviço da dívida pública]. Não há nada pior para a questão fiscal do que uma Selic desnecessariamente elevada. Então, R$ 38 bilhões a cada 1%, se você tem uma taxa 5% acima do que deveria estar, isso custa praticamente 190 bilhões”, criticou.

“Você fica fazendo economia de um bilhão, meio bilhão, e acaba gastando aí quase R$ 200 bilhões em razão de ter uma taxa Selic nessa altura”, acrescentou. Alckmin está no exercício da Presidência da República esta semana, durante viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Europa.

Alckmin avaliou ser “difícil entender” a decisão do Copom do Banco Central diante do cenário de inflação em queda e juros internacionais negativos.

“O mundo hoje tem juros negativos, a inflação está em queda, há uma deflação no IGP [Índice Geral de Preços], em 12 meses, de mais de 6%. Os juros futuros em queda e essa taxa Selic acaba tendo um impacto fiscal. Se a preocupação é dívida, não há nada pior do que isso”, acrescentou.

Depois de subir no início do ano, as expectativas de inflação têm caído. Segundo o último boletim Focus, a estimativa de inflação para 2023 passou de 5,42% para 5,12%.

Em maio, puxado pela queda nos preços dos combustíveis e de artigos de residência, o IPCA caiu para 0,23%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o indicador acumulou alta de 2,95% no ano e de 3,94% nos últimos 12 meses, percentual mais baixo do que os 4,18% acumulados até o mês anterior.

Alckmin também observou que, mesmo sob a gestão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central, a taxa Selic chegou a ser reduzida para 2% ao ano, nível mais baixo da série histórica, e com uma inflação maior do que a atual. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Copom contrata problemas ao não indicar queda dos juros, avalia Haddad

A decisão do Banco Central traz problemas para o futuro, como aumento de inflação e de carga tributária, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Nós estamos contratando um problema com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Está contratando inflação futura e aumento da carga tributária futura. É isso que está sendo contratado”, disse o ministro em Paris.

Para Haddad, o Copom poderia informar ou ao menos indicar quando começará a reduzir os juros. Segundo o ministro, existe um descompasso entre a avaliação do Banco Central e os dados econômicos que apontam forte desaceleração da inflação, o que preocupa o Ministério da Fazenda.

“O comunicado, como de hábito, é o quarto comunicado muito ruim. Todos foram ruins. E às vezes ele corrige na ata [divulgada seis dias após a reunião do Copom], mas não alivia a situação. Há um descompasso entre o que está acontecendo com o dólar, com a curva de juros, com a atividade econômica. É um claro sinal de que podíamos sinalizar um corte na Taxa Selic”, continuou.

O ministro também pediu que o Banco Central leve menos em consideração o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo órgão, na hora de tomar decisões. “A pesquisa não pode substituir a autoridade monetária. Tem uma pesquisa que está errando há seis meses, pode até continuar levando em conta, mas tem que sopesar os argumentos” — disse o ministro.

Na última edição da pesquisa, os analistas de mercado acreditavam que a Selic começaria a cair em agosto.

Contas públicas

No início da semana, Haddad tinha afirmado que o Banco Central deveria ter cortado os juros a partir de março. A persistência do BC em não reduzir a Selic, destacou o ministro, também impactará as contas públicas porque União, estados e municípios perdem arrecadação com a atividade econômica enfraquecida.

“Os estados estão perdendo arrecadação. Os municípios estão perdendo arrecadação. A União não está performando”, declarou Haddad. O ministro, no entanto, ressaltou que algumas defasagens no caixa do governo estão sendo resolvidas. Citou a previsão de votar o projeto de lei que reformula o sistema de votação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), tribunal administrativo da Receita Federal, que poderá reforçar a arrecadação em R$ 30 bilhões por ano com o retorno do voto de desempate a favor do governo.

Dados positivos

Na última segunda-feira (19), Haddad e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, almoçaram fora da agenda oficial num restaurante de Brasília. O ministro disse estar fazendo “um esforço genuíno” para entender o que se passa no Banco Central de um ponto de vista técnico.

“Estou falando como brasileiro, não estou falando aqui de outra maneira. Eu não consigo entender. Com tudo o que aconteceu esse mês [queda da inflação]? Eu não vou levantar hipótese sobre a subjetividade das pessoas. O que eu digo é o seguinte: na técnica, eu não consigo entender esse comunicado [do Copom]”, criticou Haddad. O ministro reiterou que voltará a se encontrar com Campos Neto na próxima semana, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que definirá a meta de inflação para 2026 e, em tese, pode revisar as metas para 2023, 2024 e 2025.

Além da forte desaceleração da inflação, o ministro citou, como dados positivos para a economia em junho, a melhora da perspectiva da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) e os avanços nas negociações para a votação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.

Se dependesse do governo, presidente do BC teria sido demitido, diz Marinho

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, lançou duras críticas contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e disse que, se fosse de competência do governo, ele já teria sido trocado.

Marinho ainda aplaudiu a fala da presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, que cobrou no início da semana uma sinalização de redução da taxa de juros e insistiu que os estoques de lojas estão cheios. Trajano vez coro às críticas de diversas alas da economia que questionam a taxa da Selic em 13,75% ao ano.

Em uma conversa com jornalistas em Genebra, no último dia 14, o ministro do Trabalho destacou a autoridade da empresária ao falar sobre a questão de oferta e demanda. “Talvez ela seja uma das maiores autoridades para fazer a abordagem que ela fez”, disse Marinho, que participa nesta semana da Conferência Internacional do Trabalho.

O ministro lembrou que, no início do ano, a questão dos juros parecia ser para alguns “um ranço do presidente Lula”. “Concretamente, a taxa de juros no Brasil é a mais alta do mundo”, disse. “Isso não se justifica”, insistiu.

O ministro também questionou o argumento de que a taxa esteja elevada por conta da força da demanda na economia. “O que Luiza Trajano está dizendo é que não há demanda coisíssima nenhuma. O que tem é produto estocado na prateleira, por falta de renda e de crédito”, disse.

Para Marinho, o Senado precisa examinar se a manutenção de Campos Neto é adequada.

“Na verdade, se o Senado observar, o presidente do BC já teria sido demitido de sua função. Entre as suas funções está a inflação, mas também emprego. Não me lembro de nenhuma ata ver o tema emprego sendo abordado”, disse.

“Ou seja, ele não está cumprindo suas obrigações”, afirmou Marinho. “Já teria motivo para ser demitido. Troca”, sentenciou.

Na visão do ministro, se fosse qualquer empresa privada, ele “já estaria na rua”. “Teriam colocado outro, com mais competência para olhar a abrangência de sua competência. Ele não está cuidando da sua competência. Essa é a minha visão”, disse.

Marinho ainda espera que Campo Neto não considere a fala de Luiza Trajano como uma afronta.

Mas ele fez um alerta de que a pressão precisa aumentar. “Em mantendo (a taxa de juros elevada), a sociedade tem de cobrar do Senado brasileiro, que tem a função de controle desse processo. Não é do governo Federal esse processo, infelizmente. Se fosse, já teríamos trocado para botar alguém com competência para cuidar disso”, afirmou.

Para ele, a taxa elevada parece ser “mais capricho que o zelo técnico”. Em sua visão, os fatores econômicos já estão dados para permitir a redução dos juros.

“Tudo está colocado, além da falta de crédito no mercado, a economia parando”, alertou. Marinho destaca que o governo está “fazendo milagres na economia para não parar totalmente a economia”. “O governo vem fazendo malabarismo de sacrifício para não parar a economia”, disse.

Para ele, o alerta de Trajano “talvez seja o último apelo para que o presidente do BC de fato conduza da maneira que a sociedade espera e que a economia espera”, disse.

“Até os bancos chegaram à conclusão de que está asfixiando a economia”, completou.


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