04/05/2024 - Edição 540

Especial

BARBÁRIE

Crimes de guerra praticados pelo Hamas e por Israel mostram que o ‘terror’ não tem lado

Publicado em 13/10/2023 7:42 - UOL, Jamil Chade e Leonardo Sakamoto (UOL), Ricardo Noblat (Metrópoles) – Edição Semana On

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Um aviso ao pensamento raso: repudiamos as execuções e sequestros de caráter terrorista promovidos pelo Hamas contra civis em Israel, tal como repudiamos o governo de Israel quando este aprofunda o terrorismo de Estado contra os palestinos, matando civis em grande escala com cercos, bombardeios e invasões – como agora.

No sétimo dia da guerra entre Israel e o Hamas chega, o governo israelense comunicou a ONU sobre a ordem dada para os palestinos migrarem do norte para o sul da Cidade de Gaza. Mais de 1 milhão de pessoas vivem no norte tornando “impossível tal movimento” segundo o porta-voz das Nações Unidas.

“As Nações Unidas consideram impossível que tal movimento ocorra sem consequências humanitárias devastadoras. A ONU apela veementemente para que qualquer ordem deste tipo, se confirmada, seja rescindida, evitando o que poderia transformar o que já é uma tragédia numa situação calamitosa”, afirmou Stéphane Dujarric, porta-voz da ONU.

Dujarric afirmou que a ordem israelense se aplica a todos os funcionários das Nações Unidas e às pessoas abrigadas em instalações da organização, incluindo escolas, centros de saúde e clínicas.

O porta-voz disse que o aviso foi entregue aos líderes das equipes do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU e do Departamento de Segurança e Proteção da ONU em Gaza por seus oficiais de ligação nas FDI.

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, revidou a resposta da ONU à ordem. “A resposta da ONU ao alerta precoce de Israel aos residentes de Gaza é uma vergonha! Durante muitos anos, a ONU fez vista grossa ao armamento do Hamas e à sua utilização de populações civis e infra-estruturas na Faixa de Gaza para assassinar e para armazenar as suas armas”, retrucou Erdan.

A HRW (Human Rights Watch), uma das mais importantes organizações de direitos humanos do mundo, acusou Israel de usar armas de fósforo branco nos ataques contra a Faixa de Gaza e o Líbano. A ONG disse ter verificado vídeos que mostram “múltiplas explosões aéreas de fósforo branco” feitas pelo exército israelense sobre o porto de Gaza e em duas localidades rurais na fronteira entre Israel e o Líbano, nos dias 10 e 11 de outubro.

Para a entidade, o uso desse tipo de arma “coloca os civis em risco de ferimentos graves e de longa duração”, além de “violar princípios da lei humanitária internacional”.

Esse tipo de armamento é proibido pela ONU e seu uso pode ser configurado crime de guerra. O fósforo branco inflama de maneira espontânea após ter contato com o oxigênio livre no ar. Em contato com a pele, ele provoca queimaduras severas, pode corroer os ossos e provocar a falência múltipla dos órgãos. A cicatrização de ferimentos causados por fósforo branco também é considerada difícil.

“Sempre que o fósforo branco é usada em áreas com alta concentração de civis, representa um elevado risco de queimaduras excruciantes e sofrimento para toda a vida daqueles que são atingidos”, explica Lama Fakih, diretora do Oriente Médio e Norte da África da HRW.

Anteriormente, a HRW denunciou “violações” cometidas pelo Hamas e por Israel na guerra. A entidade condenou a invasão do território israelense pelos extremistas, mas também repudiou a resposta violenta do país liderado por Benjamin Netanyahu.

O conflito entre Israel e Hamas já dura sete dias e, segundo as informações oficiais divulgadas por autoridades dos dois lados, já deixou pelo menos 2.600 mortos. O Ministério da Saúde da Palestina fala em 1.300 mortos em Gaza, enquanto Israel cita mais de 1.300 mortos.

Sentença de morte

As agências da ONU denunciam, nesta sexta-feira (13), o que a entidade indica ser uma “punição coletiva” imposta por Israel contra a população palestina, um dia depois de Israel anunciar que ordena que a população do sul da Faixa de Gaza seja transferida e num sinal de que uma invasão terrestre esteja sendo preparada.

As entidades já falam abertamente em possíveis crimes de guerra, cometidos tanto por Israel como pelo Hamas. “Fazer civis como reféns é proibido e pode ser considerado como crimes de guerra”, disse a entidade, numa referência aos atos do grupo com sede em Gaza. Mas a ONU é clara que o cerco de Israel, conduzindo a população à fome, “é também definido como crimes de guerra”.

De acordo com a entidade, 423 mil palestinos já foram obrigados a abandonar suas casas, enquanto a OMS insiste que qualquer operação de transferência significaria uma “sentença de morte” para pessoas que hoje estão internadas em hospitais da Faixa de Gaza.

“É impossível evacuar doentes de hospitais”, alertou Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS. “Pedir que sejam transferidos é uma sentença de morte. E pedir aos trabalhadores da saúde de fazer isso seria cruel”, insistiu.

Segundo ele, os hospitais estão lotados e em “ponto de ruptura”. Mesmo assim, 76 ataques ocorreram contra instalações e ambulâncias.

Aqueles funcionando contam com eletricidade para poucas horas e devem ficar em total colapso em “poucos dias”. Há ainda uma “escassez aguda de médicos” e remédios.

“Nunca vi algo parecido”, afirmou Jens Laerke, porta-voz do Escritório Humanitário da ONU, sobre a ordem israelense.

“Continuamos acompanhando, com horror cada vez maior, a situação desesperadora dos civis em Gaza e em Israel”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz da ONU para Direitos Humanos, que alerta para a “situação calamitosa” caso a evacuação tenha de ser realizada.

“Como já enfatizamos, os civis nunca devem ser usados como moeda de troca. No entanto, continuamos a receber mensagens desoladoras de impotência das pessoas em Gaza, que estão se mudando de casa em casa, aterrorizadas, em busca de uma segurança ilusória”, afirmou.

“E os civis continuam a ser mantidos como reféns por grupos armados palestinos, em clara violação do direito internacional humanitário. Pedimos, mais uma vez, que eles sejam tratados com humanidade e libertados imediata e incondicionalmente”, disse Ravina.

Segundo ela, mais de 2.700 pessoas, incluindo civis, já foram mortas tanto em Israel quanto em Gaza. “Pedimos aos grupos armados palestinos que interrompam o uso de projéteis inerentemente indiscriminados, que violam o direito internacional humanitário, bem como os ataques dirigidos contra civis”, disse.

Mas ela mandou um recado claro ao outro lado. “Pedimos que Israel garanta o total respeito às leis internacionais humanitárias e de direitos humanos em toda e qualquer operação militar”, disse.

“Ataques aéreos e ataques de artilharia já levaram à destruição de grandes partes de bairros densamente povoados em Gaza, e a retórica de oficiais de alto escalão levanta preocupações de que uma mensagem está sendo enviada aos membros das Forças de Defesa de Israel de que a lei humanitária internacional se tornou opcional em vez de obrigatória. É absolutamente crucial que os líderes israelenses deixem claro, sem ambiguidade, que as operações militares devem ser conduzidas em total conformidade com o direito internacional”, disse.

No novo levantamento da ONU, esse é o raio-x de Gaza

Os bombardeios israelenses por ar, mar e terra continuaram e se intensificaram na Faixa de Gaza pelo sexto dia consecutivo. Em apenas 24 horas, 317 palestinos foram mortos e 929 ficaram feridos. No total, 1.417 pessoas foram mortas e 6.268 ficaram feridas em Gaza desde 7 de outubro.

Segundo a ONU, mais de 338 mil palestinos foram obrigados a deixar suas casas, muitas delas arrasadas pelos mísseis israelenses. Mas os abrigos montados pela ONU já estão lotados e não há mais espaço. Em apenas um dia, o êxodo aumentou em 30%.

Mais de 218 mil pessoas deslocadas estão abrigadas em escolas da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos.

Em Gaza, mais de 2.500 unidades habitacionais foram destruídas ou severamente danificadas e tornadas inabitáveis, enquanto outras quase 23 mil sofreram danos moderados ou leves.

Pelo menos 88 instalações educacionais foram atingidas, incluindo 18 escolas da UNRWA, duas das quais foram usadas como abrigos de emergência para os desabrigados, bem como 70 escolas da Autoridade Palestina. Isso significa que, pelo sexto dia consecutivo, mais de 600 mil crianças não tiveram acesso à educação em um local seguro em Gaza.

A única usina elétrica de Gaza ficou sem combustível e parou de funcionar, deixando a Faixa de Gaza em um blecaute.

Desde o início das hostilidades, sete instalações importantes de água e esgoto, que atendem a mais de um milhão de pessoas, foram atingidas por ataques aéreos e severamente danificadas. Em algumas áreas, o esgoto e os resíduos sólidos estão se acumulando nas ruas, o que representa um risco à saúde.

Civis como vítimas, de ambos os lados

Organizações de direitos humanos expressaram preocupação com incidentes em que civis e objetos civis parecem ter sido alvos diretos de ataques aéreos israelenses

Os grupos armados palestinos em Gaza continuaram a disparar foguetes indiscriminadamente contra centros populacionais israelenses, embora com menor intensidade do que nos dias anteriores. Como resultado, desde o meio-dia de ontem, duas pessoas foram mortas no sul de Israel e várias outras ficaram gravemente feridas.

De acordo com fontes oficiais israelenses, pelo menos 1.300 israelenses e estrangeiros foram mortos em Israel desde 7 de outubro e pelo menos 3.391 ficaram feridos, a grande maioria durante o ataque inicial realizado por grupos armados palestinos

O deslocamento em massa continua. Na Faixa de Gaza, o número acumulado de deslocados internos aumentou em 25% nas últimas 24 horas, ultrapassando agora 423.000, dos quais mais de dois terços estão se abrigando em escolas da ONU.

Desde ontem, Gaza está sofrendo um apagão total de eletricidade, o que levou serviços essenciais de saúde, água e saneamento à beira do colapso e exacerbou a insegurança alimentar. Isso ocorreu depois que Israel interrompeu o fornecimento de eletricidade e combustível para Gaza, o que, por sua vez, provocou o desligamento da única usina de energia de Gaza ontem, depois que suas reservas de combustível se esgotaram.

Entre 100 e 150 israelenses, incluindo soldados e civis, alguns dos quais são mulheres e crianças, bem como alguns estrangeiros, foram capturados e levados à força para Gaza. O Secretário-Geral pediu ontem a “libertação imediata de todos os reféns israelenses”. A tomada de reféns é proibida pelo Direito Internacional Humanitário.

“Hospitais em Gaza correm risco de virar necrotérios”, diz Cruz Vermelha

Num comunicado emitido na quinta-feira (12), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha lançou um alerta sobre a situação da Faixa de Gaza. “Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se tornarem necrotérios”, afirma a entidade, reconhecida por sua neutralidade.

“Diante da terrível miséria humana causada por essa escalada do conflito, imploro hoje às partes que reduzam o sofrimento dos civis”, declarou Fabrizio Carboni, diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para o Oriente Próximo e Médio.

Para o CICV, é a situação dos hospitais que revelam também a dimensão do drama.

“Como Gaza está sem acesso à eletricidade, o mesmo acontece com seus hospitais, ameaçando a vida de bebês recém-nascidos em incubadoras e pacientes idosos que precisam de oxigênio”, disse Carboni.

“É impossível usar máquinas de diálise renal ou fazer radiografias. Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se tornarem necrotérios”, alertou.

Segundo ele, “as famílias em Gaza já estão lutando para encontrar água potável”. “Nenhum pai deveria ser forçado a dar água não segura a uma criança com sede”, disse.

Ainda que denuncie a situação dos palestinos, o CICV aponta que “muitas famílias israelenses estão terrivelmente preocupadas com seus entes queridos que foram feitos reféns”.

“A tomada de reféns é proibida pelo direito humanitário internacional, e qualquer pessoa detida deve ser libertada imediatamente”, disse.

“Atualmente, estamos dialogando com representantes do Hamas e de Israel com o objetivo de progredir nessa questão. Como um intermediário neutro, estamos prontos para realizar visitas humanitárias, ajudar os reféns e suas famílias a manter contato e facilitar qualquer libertação”, completou.

O necrotério do maior hospital de Gaza entrou em colapso pois os corpos estão chegando ali mais rápido do que os parentes à sua procura, relata a Associated Press, agência de notícias.

“Não é possível continuar este trabalho” declarou Mohammad Abu Selim, diretor-geral do Hospital Shifa. “Os feridos estão nas ruas. Não conseguimos encontrar uma única cama para eles.”

Quando questionado sobre os ataques a civis em Gaza, o presidente de Israel, Isaac Herzog, respondeu agitado: “Com todo o respeito, se você tem um míssil na sua maldita cozinha e quer atirar em mim, eu devo recebê-lo para só depois me defender? Essa é a situação!”

Um jornalista perguntou a Herzog por que acreditar que o emprego esmagador da força militar de Israel produziria desta vez resultados diferentes das anteriores. Resposta irritada: “O que você nos aconselharia a fazer?!”

“Comida e água estão acabando em Gaza”, alerta ONU

A ONU anunciou que alimentos e água na Faixa de Gaza estão rapidamente se esgotando. Nesta sexta-feira, as padarias palestinas não terão mais pão ou alimentos para fornecer aos moradores da região, sob ataque de Israel. “As vidas das pessoas estão em risco se um corredor humanitário não for estabelecido imediatamente”, indicou a organização.

“Estamos vendo uma falta de combustível, água e eletricidade”, disse Samer Abdeljaber, diretor regional do Programa Mundial de Alimentos, uma agência da ONU. “Muitas padarias não terão a capacidade de fornecer alimentos amanhãm (hoje, sexta-feira 13). Elas estão sem eletricidade e sem água”, lamentou.

Metade das padarias tem menos de uma semana de estoque de farinha de trigo, enquanto 70% das lojas relatam uma redução significativa nos estoques de alimentos.

De acordo com a ONU, as agências humanitárias continuam enfrentando grandes restrições no fornecimento de assistência humanitária. “A insegurança está impedindo o acesso seguro às áreas afetadas e aos armazéns. Apesar das condições desafiadoras, os trabalhadores humanitários forneceram alguma assistência, incluindo a distribuição de pão fresco para 137.000 pessoas deslocadas, a entrega de 70.000 litros de combustível para instalações de água e saneamento e a ativação de linhas de apoio psicossocial”, disse.

“Estamos fornecendo alimentos para milhares de pessoas. Mas isso também está terminando”, disse o Programa Mundial de Alimentos.

Entre as agências da ONU e governos da região, negociações estão ocorrendo para permitir que um corredor humanitário seja estabelecido. Mas Israel insiste que apenas vai realizar qualquer negociação quando os mais de cem reféns levados pelo Hamas forem soltos.

O tema será alvo de um debate convocado para o Conselho de Segurança da ONU. O encontro, costurado na noite de quarta-feira, recebeu o sinal verde das cinco potências permanentes do órgão – EUA, China, Rússia, França e Reino Unido.

O Brasil preside o Conselho neste mês de outubro e tem, como função, organizar a agenda do órgão, sempre em consultas com seus membros.

Um dos objetivos será o de costurar uma declaração conjunta na qual todos os membros do Conselho façam um apelo para que corredores humanitários sejam estabelecidos e que a população civil seja poupada, de ambos os lados.

Israel abre as portas do inferno para que engula os palestinos de Gaza

O ajuste de contas de Israel deveria ser feito com o Hamas. Como o Hamas se esconde em meio aos palestinos de Gaza, o acerto será feito com os palestinos. É uma punição coletiva.

O homem desumanizou-se desde sua criação. Só em 2022 foram registrados 55 conflitos em 38 países, sendo que 8 deles são considerados guerras, em que há mais de mil mortes por ano.

Por esse critério, o Estado de Israel já declarou guerra a um estado inexistente, o da Palestina. Dito de outra forma: declarou guerra a um povo sem estado, como foram os judeus até ganharem o seu.

A idade média dos habitantes de Gaza é 17 anos. Algo como 45% dos moradores de Gaza tem 14 anos ou menos. Metade das mortes em Gaza até agora são de crianças e mulheres palestinas.

O mundo chora os bebês assassinados pelo Hamas em Israel, mas não chora os bebês de Gaza que já morreram sob o efeito de bombas. Israel lançou 6 mil bombas sobre Gaza desde sábado passado.

O que precisa acontecer para que 22 brasileiros sejam resgatados de Gaza

O governo brasileiro colocou como prioridade resgatar os 22 brasileiros que estão em Gaza e que solicitaram uma evacuação da região. De acordo com diplomatas, a embaixada do Brasil no Cairo está pronta para a operação, assim como os demais setores da chancelaria.

Mas, para altos funcionários do Itamaraty, duas coisas precisam ocorrer para que a ação seja realizada:

1 – O governo do Egito precisa aprovar que esses 22 brasileiros entrem em seu território. O Itamaraty, porém, insiste que esse não será um problema e que as negociações já estão encaminhadas.

2 – Um segundo aspecto é mais complicado: a abertura da passagem fronteiriça de Rafah, entre Gaza e o Egito. Ninguém sabe se e quando isso ocorrerá.

O tema está sendo tratado em negociações bilaterais entre governos e também pela ONU. Mas deve ainda fazer parte das discussões no Conselho de Segurança, que se reúne a partir das 15h de Nova York.

Do lado do Itamaraty, não se exclui que diplomatas façam uma viagem até a passagem de Rafah, caso haja a mínima condição de segurança.

Há a hipótese também de que um ônibus seja alugado pela embaixada para o aeroporto de El-Arish, que fica a 53 quilômetros de Rafah.

Do cerco à Gaza a chacinas no Brasil, governos tratam vingança como justiça

A ação estatal de tratar um território inteiro como inimigo por conta de um punhado de pessoas e o comportamento de extremistas que pedem cerco e extermínio de uma comunidade também ocorrem aqui – com ressalvas às naturezas, às proporções e ao contexto.

Governos estaduais executam civis em comunidades pobres de São Paulo e do Rio, por exemplo, como vingança à morte de policiais, enquanto uma parte da população bate palmas e pede mais. Nas redes, alguns cidadão de bem se referiam às pessoas das comunidades pobres no Guarujá como “animais”.

Sabe-se que esse tipo de ação estatal não vai resolver o problema da segurança pública, que passa por políticas estruturais para garantir dignidade no território e de inteligência, para prevenir e evitar ataques. Mas a incompetência, a conivência e a agenda própria dos grupos no poder, aqui como lá, afastam isso. O que nos lembra que a vida tem valor diferente dependendo de onde ela floresça.

É inaceitável a morte de civis israelenses tal como é inaceitável a morte de civis palestinos. Mas há um discurso martelado insistentemente que ignora que o segundo grupo também é vítima de extremistas que operam em seu território e de um governo estrangeiro que os trata como “animais”. E, metonimicamente, acha que a Palestina é Hamas.

Ou que o Jacarezinho é o Comando Vermelho.

Toda morte merece ser igualmente pranteada e não é possível, nem recomendável fazer um “placar da dor”.

Mas, daqui a alguns meses, quando a temperatura esfriar, a contagem de corpos estará muitas vezes maior do lado palestino do que do israelense. Só após a invasão israelense produzir milhares de mortos o mundo vai “perceber” que lá tinha gente. Por aqui, há a mesma esperança quanto ao que ocorre nas favelas.

O terror de Netanyahu e sua gangue contra o terror do Hamas

Pouco antes das 5h da manhã de ontem (12), horário de Brasília, o ministro da Energia de Israel, o ultradireitista Israel Katz, postou em sua conta no X, ex-twitter:

“Ajuda humanitária a Gaza? Nenhum interruptor elétrico será ligado, nenhum hidrante será aberto e nenhum caminhão de combustível entrará até que os sequestrados israelenses retornem para casa. Humanitarismo pelo humanitarismo. E ninguém nos pregará moralidade.”

A Faixa de Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo que virou uma espécie de campo de concentração.

Ali não se morre asfixiado em câmeras de gás, como morreram mais de 6,5 milhões de judeus nos campos de concentração da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Morre-se, em Gaza, de fome, de sede, de falta de luz e de balas das armas mais modernas do mundo portadas por um dos Exércitos mais poderosos do mundo, o de Israel.

O martírio dos judeus promovido por Hitler sob a indiferença das forças aliadas que o combatiam deu lugar ao martírio dos palestinos – duplo martírio, promovido por Israel e o Hamas, seu parceiro.

Violência alimenta violência. O governo de extrema-direita do primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu ajudou a parir o Hamas que usa os palestinos de Gaza como buchas de canhão.

“Combatemos animais humanos, e agimos em consequência”, justifica Yoav Galant, ministro da Defesa de Israel. Nada justifica combater “animais” comportando-se como “animais”.

Os palestinos não são “animais humanos”, são apenas humanos, assim como os israelenses. Animais selvagens são os líderes do Hamas, Netanyahu e a sua gangue; eles se equiparam.

Com a criação de Israel em 1947, disseram aos palestinos que eles também teriam seu Estado. Foram enganados. O Hamas é um grupo terrorista, mas o governo de Netanyahu também é.


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