18/05/2024 - Edição 540

Ecologia

Temendo derrota de Jair bolsonarismo rural vai desmatar como nunca em 2022

Publicado em 15/02/2022 12:00 -

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O desmatamento da Amazônia não começou e não terminará com Jair Bolsonaro, mas o presidente o transformou em um símbolo de seu governo a ponto de ser visto como um pária climático global e um carrasco das gerações futuras. Em nome da floresta no chão, seu governo ataca a fiscalização, passa pano para criminosos e financia desmatadores.

Temendo a derrota daquele que os ajudou, madeireiros e garimpeiros ilegais, grileiros de terra e produtores rurais que agem ao arrepio da lei vão correr para colocar o máximo de floresta no chão este ano. Sabem que qualquer outro semovente que assumir a Presidência da República em 2023 não dará a mesma vida fácil. Precisam fazer tudo o que puderem agora que o governo é deles.

Dificilmente haverá ministro do Meio Ambiente acusado de ajudar em esquema ilegal de exportação de madeira da Amazônia, governo que exonera superintendente da Polícia Federal por investigar o tal ministro ou presidente que ataca fiscais do Ibama e do ICMBio e cientistas do INPE exatamente por fazerem o seu dever.

Contando com as anistias que o Congresso Nacional aprova a desmatadores e grileiros de tempos em tempos, esse o bolsonarismo rural vai apostar na política de terra arrasada e de fato consumado.

Investigação da Repórter Brasil, publicada no último dia 14, mostra como fazendeiros flagrados pelo Ibama derrubando a Amazônia conseguiram empréstimos com dinheiro público a juros subsidiados para comprar tratores e outras máquinas agrícolas, apesar de seu histórico de reiteradas infrações ambientais.

Os empréstimos foram concedidos pelo BNDES e operados pelo banco John Deere, braço da fabricante de máquinas que vendeu os tratores.

Já é grave uma multinacional compactuar com isso ao não aplicar mecanismos de controle de seus empréstimos, o que é esperado de quem trabalha em uma área sensível como a agropecuária e tem recursos para tanto. Mas pior é o fato de tudo ser financiado por um órgão público. Ou seja: é nosso dinheiro que premia, de forma subsidiada, quem ajuda a destruir o futuro.

Bolsonaro diz ao mundo que se preocupa com a floresta, enquanto fomenta o caos na Amazônia

Bolsonaro viaja hoje milhares de quilômetros para conseguir uma foto com Vladimir Putin a fim de convencer seus seguidores e fãs de que ele não é o rejeitado zé ruela entre as nações que aparenta ser. Precisa apagar, em ano eleitoral, a má impressão deixada por cenas como a ocorrida na reunião do G20, em Roma, em que um Jair muxoxo estava sozinho, num canto, desprezado por outros chefes de estado.

Mas enquanto ele vai em busca de material de campanha, o descontrole do desmatamento ganha páginas de jornais em todo o mundo. O período 2020/2021 teve a pior taxa de destruição da Amazônia Legal dos últimos 15 anos, um aumento de 22% quanto ao período anterior, totalizando 13.235 quilômetros quadrados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

E, neste mês de janeiro, alcançamos nova marca, com a maior quantidade de alertas de desmatamento para um mês de janeiro desde que começou a divulgação dos dados mensais em 2016. O preocupante é que janeiro é mês de chuvas, quando o desflorestamento normalmente diminui. Amazonas, Acre e Rondônia lideram a perda de floresta.

Essas informações estão sendo levadas em conta por quem analisa a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e para quem avalia o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Seja por preocupações com o meio ambiente por parte de seus cidadãos, seja por protecionismo puro e simples de suas empresas, países europeus usam isso contra o país. Nosso governo cria as pedras que estão no nosso caminho.

Ao mesmo tempo, qualquer investidor de fundo internacional que tiver o mínimo de bom senso não vai acreditar no teatro montado pelo governo Bolsonaro para convencer que o país está preocupado com o salto no desmatamento da Amazônia e que fará tudo ao seu alcance para diminui-lo.

A questão é que a alta no desmatamento no Brasil não é um acidente, mas um projeto. Se o país quisesse realmente fazer a diferença nessa área, saberia por onde ir porque já fez em outras administrações. Prova desse projeto foi a proposta do então ministro Ricardo Salles de aproveitar a pandemia, enquanto imprensa e sociedade estão preocupadas com mortos e doentes, para "passar a boiada" contra normas ambientais.

Não adianta governos estrangeiros injetarem bilhões para combater o desmatamento na Amazônia se o governo continua enfraquecendo fiscalizações e garantindo um ecossistema de financiamento público que premia quem destrói.

Nesse cenário, a única razão para Estados Unidos, Noruega, Alemanha ou qualquer outro país transferir fundos para o governo brasileiro em nome da proteção da Amazônia seria interesse geopolítico ou comercial. Ou seja, o bem-estar da maior floresta tropical do mundo e dos seus povos e trabalhadores não estaria contemplado nesse acordo.

Enquanto o governo continuar incentivando e financiando a ocupação e a exploração irregular e violenta da Amazônia Legal, todo o seu discurso pró-meio ambiente será conversa para boi dormir. Acredita quem é otário. E, nesse tema, não há otários, mas cúmplices.

BNDES financia desmatador e trava fundo de preservação da Amazônia

Pode-se acusar Bolsonaro de tudo, exceto de falta de coerência. Na área do Meio Ambiente o governo faz tudo dentro da lei —a Lei da Selva. Numa ponta, o governo usa o BNDES para financiar desmatadores com verbas públicas. Noutra ponta, trava no mesmo bancão oficial a execução de um fundo com doações estrangeiras destinadas ao financiamento de projetos de preservação da floresta.

Podendo preservar o meio ambiente, a gestão Bolsonaro se dedica a estragar o ambiente inteiro. O ex-ministro antiambiental Ricardo Salles destruiu a engrenagem de fiscalização do Ibama e do ICMBio. Depois, saiu do governo pela porta dos fundos para estrelar um inquérito em que é acusado de se associar a madeireiros pilhados na maior apreensão de madeira ilegal da história.

Descobre-se agora que a opção preferencial do governo pelo desmatamento inclui uma parceria financeira com a turma da motosserra. A revelação de que fazendeiros flagrados pelo Ibama desmatando a Amazônia obtiveram R$ 28,6 milhões em empréstimos do BNDES para a compra de maquinário agrícola introduz escárnio num enredo que já era escandaloso.

O mesmo BNDES que entrega verbas públicas aos desmatadores do "ogronegócio" está impedido de utilizar verbas do Fundo Amazônia, criado para financiar com doações internacionais projetos de preservação da floresta.

O Fundo Amazônia é o maior projeto de cooperação internacional já concebido para conservar a floresta amazônica. Em uma década, recebeu doações de R$ 3,4 bilhões.

O grosso da verba (93%) veio da Noruega. O resto, foi doado pela Alemanha. Dinheiro a fundo perdido, sem a necessidade de ressarcimento. A iniciativa subiu no telhado depois que Ricardo Salles passou a questionar, já no primeiro ano da gestão Bolsonaro, a gestão dos recursos, feita sob a supervisão técnica do BNDES.

A implicância com o modelo que funcionava bem levou alemães e noruegueses a interromperem as doações. Bolsonaro deu de ombros na ocasião: "Podem fazer bom uso dessa grana, o Brasil não precisa disso."

Na verdade, o Brasil precisa desesperadamente de recursos para combater o desvario ambiental. O dinheiro disponível no Fundo Amazônia está retido há quase três anos. Nesse período, o único negócio que prospera no Brasil de Bolsonaro no setor ambiental é a indústria do desmatamento. Com o aval do BNDES.


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