12/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Você odeia alguém? Já pensou em matá-lo?

Se você fosse presidente da República teria inúmeras formas de fazê-lo

Publicado em 01/02/2023 11:24 - Rafael Paredes

Divulgação

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Imagine que, por um aborto da natureza, você, você mesmo, cheio de ódio, rancor e preconceitos virasse presidente da República. Imagine que você seja um cara muito transparente e sua vida toda você tenha deixado claro que não gosta de gays, indígenas, esquerdistas, ambientalistas, quilombolas e de democracia. Imagine que, mesmo assim, por uma maldita quadra da história você fosse eleito democraticamente o mandatário máximo da Nação, chefe do Poder Executivo e Comandante Supremo das Forças Armadas.

Feito esse exercício, imagine que você poderia implantar diversas políticas públicas em defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+, você levaria a cabo essas políticas ou deixaria o seu país como o que mais mata gays, lésbicas, travestis e transexuais. Perderia essa oportunidade de exterminar aqueles que mexem com seus instintos mais primitivos?

Que tal seria também passar os anos do seu mandato instigando o ódio nas pessoas contra aqueles que você também odeia, fazer um discurso do bem contra o mal e se auto proclamar como enviado de Deus? Será que seus fiéis seguidores entenderiam o recado e sairiam por aí matando apoiadores de seus adversários em festas de aniversário, em bares e no meio rural? Será que seus fãs dariam uma pauladinha se quer na cabeça da moça que falasse mal de você no restaurante?

Que tal soltar assim, na empolgação de uma campanha, que você metralharia seus adversários e, quando assumisse o poder, fizesse o maior libera geral de armas da história? Que tal também enfraquecer os órgãos de fiscalização ambiental? Será que dessa forma, criminosos não mateariam servidor público ambientalista brasileiro e repórter indigenista inglês?

Será que, se você passasse anos desacreditando as urnas eletrônicas, inventando sem provas acusações contra as cortes eleitorais, afirmando que não faria eleições se não tivesse formas arcaicas de votação, seus seguidores não tentariam matar a democracia?

E se você recebesse 21 ofícios denunciando a morte por desnutrição de criança indígenas yanomamis, você deixaria 570 indiozinhos morrerem ou faria alguma coisa? Caso tudo isso acontecesse, você se sentiria culpado?

Talvez a dúvida sobre se você seria culpado nesses casos não devesse ser respondida por você, mas por um tribunal mais ao norte do Globo, o de Haia.

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Rafael Paredes


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