True Colors

Rupologizes?

Publicado em 04/04/2014 12:00 - Guilherme Cavalcante

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Rupaul’s Drag Race é o reality show da TV estadunidense que atualmente mais repercute entre a audiência gay, inclusive no Brasil. O sucesso é estrondoso, a exibição de cada episódio, nos EUA, pode ser comparada à final de copa do mundo nos bares segmentados daquele país. No Brasil, fóruns de discussões nas redes sociais levam a temática bem a sério. Tudo isso gira em torno de um fato: o programa, que busca selecionar dentre os participantes a próxima estrela drag queen dos Estados Unidos, já segue em sua sexta temporada e promete um prêmio de 100 mil dólares, além de contratos publicitários.

Funciona assim: a cada episódio, um mini-desafio e um desafio principal avaliam carisma, unicidade, ousadia e talento dos artistas integrantes (a maioria, gay, mas algumas já assumiram serem transexuais, ao longo das temporadas). Quem ganha o desafio da semana, recebe presentes como jóias, vestidos, perucas de grife e viagens. Já as duas drag queens que não atenderem às expectativas do desafio disputam uma prova de dublagem, bem no estilo “plumas e paetês”. Quem vence, fica (“shantay, you stay”, diz Rupaul). Quem perde, recebe um “sashay away” do apresentador e sai da competição.

O programa em si é maravilhoso. E, claro, promove uma cultura extremamente específica do mundo LGBT. Afinal, não se dá para negar a transgressão de homens que se utilizam de uma idealização do feminino para ganhar a vida. Mas na última semana, o programa escorregou no politicamente correto. Num mini-desafio, a prova era identificar se as imagens se referiam à mulheres cisgêneras ou transgêneras. Para isso, utilizaram os termos “female” (fêmea) e “she-male” (trava). É que “trava”, tanto aqui como nos Estados Unidos, é um termo bastante ofensivo para a comunidade T. Por isso, Rupaul está sendo veementemente acusado de transfobia.

A denúncia procede. Não tem como um programa, comandado por um dos maiores ícones da cultura pop LGBT, digamos assim, cometer um erro deste sem perceber o que está sendo promovido nas entrelinhas. Em sua carreira, Rupaul defendeu não só a cultura drag, mas foi um grande ativista no combate ao HIV e na manutenção da qualidade de vida de pessoas que convivem com este diagnóstico. Diversas provas de seu programa têm lucro revertido para entidades de cunho LGBT, como casas-abrigo. E, além disso, quatro de suas “drag sisters” assumiram-se publicamente como mulheres transgêneras. Duas delas, durante o programa.

Quem surgiu para tentar pacificar a questão foi justamente uma das ex-competidoras transexuais, Carmen Carrera, da terceira temporada, que atualmente trabalha como modelo. Carmen foi enfática ao dizer que obviamente o programa não teve intenção de ofender a comunidade T, mas considerou ofensiva a utilização do termo “she-male”.

“Acho que o programa abriu e educou as mentes de muitas pessoas que eram ignorantes a respeito do universo drag e fez da igualdade e do respeito uma possibilidade para os envolvidos, não apenas como semelhantes, mas como artistas fenomenais.  Nós vivemos num novo mundo onde compreensão e aceitação estão em ascensão. Drag Race deveria ser um pouco mais esperto a respeito dos termos que utiliza e compreender a luta por respeito que pessoas trans estão encarando a cada minuto hoje em dia. Eles deveriam usar sua plataforma para educar verdadeiramente sua audiência sobre todas as facetas da arte performática drag”, disse a modelo.

Monica Bervely Hillz, competidora trans da quinta temporada, também revelou incômodo e soltou o verbo. "Depois da minha experiência de estar no show, eu diria que, para mim, o uso das palavras ‘shemale’, ‘lady boy’ e ‘tranny’ não é bonito. Lutei e ainda estou lutando pelo respeito da sociedade para ser aceita como mulher e não como um ‘traveco’ ou ‘ela-macho’”. Monica, a propósito, foi acolhida por Rupaul em seu drama por assumir-se trans e no episódio final teve oportunidade de explicar ao público a diferença entre transexuais e drag queens. E Rupaul deixou bem claro que a única exigência para ser a próxima superstar drag queen dos EUA era, enfim, o desejo de sê-la…

Confesso que inclusive para mim os takes polêmicos do programa causaram incômodo, mas que me omiti da polêmica por não ter certeza, à época, do teor que “she-male” tinha. Esperava mais esperteza e menos omissão do próprio Rupaul, artista a quem admiro profundamente. Vou ficar de olho na atração e no aguardo de um mea culpa. É o mínimo que Rupaul, do alto de seu carisma, unicidade, ousadia e talento, poderia fazer pela comunidade trans que diz tanto respeitar.

Testagem rápida para HIV – fluido oral


A Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS) está promovendo testes rápidos de HIV pela coleta de fluido oral. Indolor, o método se assemelha a um teste de gravidez e dá seu resultado em até 30 minutos. O teste está disponível gratuitamente, na sede da ATMS.

O teste, na verdade, funciona como uma triagem. O resultado pode não ser definitivo. Em caso de positivo, a pessoa deverá ser encaminhada para um Centro de Testagem e Aconselhamento DST/AIDS (CTA), onde fará novamente o teste e, em caso de confirmação do resultado positivo, será encaminhada para mais exames a fim de definir que tipo de tratamento lhe será aconselhado.

É importante destacar que a testarem por fluido, feita na ATMS, garante o sigilo do paciente, assim como nos CTAs. Interessados podem procurar Cris Stefany no endereço Rua Nicolau Fragelli, 232 (Sobreloja), no bairro Amambaí, das 10h às 18h. Para outras informações, ligar para 3384-9585.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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