20/05/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Quem controla quem nas redes?

Precisamos controlar fake news? Claro. Discurso de ódio? Com certeza. O problema é QUEM controla, com base em que regras e, afinal, quem é que decide que discurso é de ódio ou não (e como definir o que é ou não ironia)?

Publicado em 12/10/2022 11:20 - Raphael Tsavkko Garcia

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Cada vez mais as redes sociais se tornam a própria internet – e não faltam os que acham que o Facebook, por exemplo, é a internet. Tudo que fazemos começa ou termina em redes como Facebook, Instagram, Linkedin, Twitter… É quase inescapável.

E com isso nós damos um poder tremendo, monstruoso, para empresas decidirem o que vamos ver, não vamos ver e até mesmo o que vai ser censurado – o que é aceitável ou não na vida em sociedade.

E isso é um tremendo problema.

Deixamos o controle sobre nossas vidas nas mãos de um punhado (ínfimo) de empresas que decidem o que é ou não é saudável para nós – e tudo isso sem regras claras, sem transparência, sem direito a recorrer decentemente.

Às vezes parece uma relação com base em uma espécie de síndrome de Estocolmo.

Dedicamos horas e horas dos nossos dias à essas redes, a gerar conteúdo, engajamento, e colocamos nossas vidas nas mãos de pessoas invisíveis que decidem por nós o que é ou não tolerável.

Vejam o absurdo: ontem (11), o Twitter decidou pegar dois tuítes meus de 2015 e um de 2011, IRÔNICOS, os classificaram como “conduta de propagação de ódio” e me deram block.

Fui forçado a deletar os tuítes porque se decidisse recorrer seria culpado até que eles avaliassem o conteúdo – seguiria bloqueado até uma decisão final.

Não havia prazo para a resposta, apenas uma ameaça silenciosa para aceitar calado a decisão, sem recorrer. Afinal, eu preciso do Twitter para meu trabalho e não posso me dar ao luxo de ficar bloqueado por tempo indeterminado até que alguém – ou uma máquina? – decida se minhas ironias são ou não discurso de ódio.

É um poder tremendo e excessivo nas mãos de empresas, de robôs, de censores – e que raramente fazem seu trabalho direito, já que parecem mais concentrados em deletar tuítes irônicos (que na verdade criticam discursos de ódio) do que efetivamente combater fake news, desinformação e etc., que seguem se espalhando como nunca.

As redes não tem a capacidade de efetivamente filtrar milhões, quiçá bilhões de mensagens, interpretar o conteúdo e decidir de forma justa e com rapidez suficiente para não prejudicar o usuário.

Eu honestamente não sei qual é a solução, ou se mesmo existe uma solução, mas o fato é que o atual modelo é péssimo, pune quem não fez nada e deixa, em geral, impune aquele que efetivamente está infringindo não só regras de uso, mas regras de convivência social ou mesmo cometendo crimes.

Precisamos controlar fake news? Claro. Discurso de ódio? Com certeza. O problema é QUEM controla, com base em que regras e, afinal, quem é que decide que discurso é de ódio ou não (e como definir o que é ou não ironia)?

PS: Espero que o Facebook não venha também interpretar meus tuítes (imagens) como discurso de ódio, seria o cúmulo da ironia.

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Raphael Tsavkko Garcia


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