13/05/2024 - Edição 540

Ogroteca

Porque a fala de Lula sobre games é errada?

Presidente pode transformar este limão em uma limonada

Publicado em 22/04/2023 9:38 - Fernando Fenero

Divulgação

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Luís Inácio Lula da Silva é um homem brasileiro, nordestino, de setenta e sete anos, que está governando o quinto maior país do mundo, a décima terceira maior economia pela do planeta, terceira vez, e na média eu sou incapaz de dizer que fez um trabalho ruim no passado ou atualmente.

Mas, em 2023 ele está derrapando demais, primeiro porque o clima de instabilidade política fez um cara popular como ele enfrentar uma crise de aprovação logo no inicio do governo, ainda na Lua de Mel pós eleição. Para conter os desastres encomendados nos últimos anos, várias atitudes impopulares foram tomadas.

Primeiro foi esse lance de mexer na taxação de importações. Mesmo que estudos e pesquisas indiquem que quem mais compra na gringa seja as classes A e B, não tem como esquecer que as demais classes sociais aprenderam o caminho da Shopee e do Aliexpress, e quando Haddad e Janja mexem com isso, afetam diretamente a imagem do governo, o que na minha opinião é um erro evitável.

Mas, nessa semana o presidente resolveu comentar sobre os problemas de nossa juventude e os ataques que estão acontecendo nas escolas do país, sendo que só esse ano eles foram registrados em Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Amazonas. Acredito que esses registros estejam muito abaixo da realidade, considerando as subnotificações de secretarias de segurança pública e de educação que não quiseram registrar alunos armados e afins, assim como as ameaças que representam.

Mas, na visão do presidente, o problema são os jogos e isso está errado, independente do lado que for analisado, e nem o filho dele concorda com isso.

Primariamente é um equivoco associar violência infantil e afins com jogos. Antes do Atari não vivíamos em uma era de paz e tranquilidade como em um panfleto dos Testemunhas de Jeová, jovens moradores de rua cometiam crimes com frequência com que eram também vítimas de adultos.

O segundo ponto é que as crianças estão tendo acesso a telas, internet, celulares e tablets por diversos fatores, desde problemas na segurança pública impedindo o que era comum a vinte anos atrás, como brincar na rua, como também a ausência do Estado em fornecer alternativas de cultura e lazer para essas mesmas crianças, que são filhos de pais e mães em jornadas de trabalho pesadas, que ainda tem que cuidar dos afazeres domésticos negligenciando o tempo com os filhos.

O terceiro ponto é que atribuir como fato que jogos ensinam a matar e são essencialmente violentos é pura e simplesmente atitude ignorante. Primeiro que jogar Call of Duty não transforma ninguém no Rambo, assim como jogar FIFA não te transforma no Pelé e jogar Stardew Valley não te ensina a cuidar de uma fazenda. É entretenimento, depende mais de reflexo e estratégia que de desejo de matar sem Charles Bronson.

Assim como existe uma gama enorme de jogos muito populares sem qualquer nível de violência, com exemplos no mercado nacional como Horizon Chase Turbo da Aquiris Game Studio.

Pedir melhor controle de classificação indicativa em jogos de tiro? Concordo que seja bom.

Criar melhores mecanismos de análise de conteúdo nos jogos e vídeos do Youtube e Tiktok? É realmente uma necessidade.

Mas a demonização dos videogames, como o presidente da República fez, é errado, e insisto que atesta ignorância, e com sorte esse limão pode virar uma limonada. A apresentadora de e-sports Nyvi Stephan reagiu a essa fala no Twitter e se colocou a disposição para mostrar o outro lado, e a assessoria do presidente já buscou marcar essa reunião.

Vários apoiadores que trabalham com games nas mais diversas áreas também se manifestaram. Então, pode ser que aconteça uma segunda fala para evitar mais desgastes e, principalmente, impedir que “mais moleque” sem nada na cabeça migue para a extrema direita, sempre pronta para recebe-los de braços abertas com soluções simples para tudo.

Por fim, por mais que Lula esteja errado e continue derrapando, eu prefiro um presidente que fale bobagem de vez em quando do que um que só fale bobagem o tempo todo.

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Fernando Fenero


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