20/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Os mitômanos querem mentir mais

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 21/10/2022 4:19 - Victor Barone

Divulgação

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Não é sobre liberdade de opinião. A Constituição brasileira assegura o direito de as pessoas pensarem e se manifestarem como quiserem. Se incorrerem em crimes, poderão ser processadas.

Não é sobre liberdade de imprensa. A Constituição dispõe que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, não sofrerão qualquer restrição”.

É sobre a publicação, por qualquer meio, de informações comprovadamente falsas, com o objetivo de causar danos a quem quer que seja ou influenciar decisões da coletividade.

Diz o artigo IV do capítulo sobre direitos e garantias fundamentais: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. É sob o anonimato que se cometem graves crimes.

Haverá decisão coletiva mais importante do que a escolha pelos cidadãos dos seus representantes no Congresso e dos que governarão o país a cada intervalo de tempo?

Deve-se permitir o anonimato e a disseminação de fake news para favorecer ou desfavorecer esse ou aquele candidato? E ainda mais a poucos dias das eleições?

O Tribunal Superior Eleitoral, só entre os dias 2 e 13 deste mês de outubro, recebeu 5.860 alertas de fake news relacionadas à eleição; uma média diária de mais de 500. Ao todo, o tribunal repassou para análise das redes na campanha deste ano 12.573 casos com suspeita de desinformação, um crescimento de 1.671% em comparação com as eleições de 2020.

As plataformas acabaram adotando providências, como retirada ou suspensão, em 57% dos casos graves. Há uma semana, o volume de notícias falsas aumentou exponencialmente.

Nesta semana, o tribunal aprovou resolução que busca dar mais agilidade ao processo de retirada do ar de conteúdos falsos, dispensando a necessidade de múltiplos processos judiciais. Errou? “A partir do segundo turno houve um aumento não só de notícias fraudulentas, mas da agressividade das notícias, o que leva a uma corrosão da democracia”, disse o ministro Alexandre de Moraes.

Os bolsonaristas reagiram com ferocidade à resolução. Bolsonaro criticou-a, dizendo-se perseguido. Curioso é que só eles se sintam assim, e só eles reclamem. Os lulistas, não. Uma emissora de rádio, bolsonarista até o talo, diz-se censurada porque foi obrigada pelo tribunal a conceder direitos de resposta a Lula, alvo preferencial ou quase exclusivo dos seus comentaristas.

O direito de resposta está previsto em lei. Não foi o tribunal que proibiu os comentaristas da rádio de se referirem a Lula como ex-presidiário, corrupto, chefe de organização criminosa. Foi o departamento jurídico da emissora, com receio de que novos direitos de resposta fossem concedidos, que orientou os comentaristas a não mais se valerem de tais expressões.

Se algo ameaça a livre informação e a própria democracia aqui e em outros lugares do mundo, é a proliferação de notícias falsas sob o patrocínio ou a tolerância de governantes autoritários.

O tribunal acertou ao proibir que se diga que Bolsonaro é pedófilo só porque ele disse que “pintou um clima” entre ele e meninas venezuelanas, visitadas por ele nas cercanias de Brasília. O tribunal errou ao proibir a simples divulgação dos vídeos, onde Bolsonaro disse que “pintou um clima”, e mais: que as meninas “bonitinhas e arrumadinhas” eram “garotas de programa”.

Por Ricardo Noblat

BOLSONARO NÃO QUER QUE O POBRE VOTE

Mal achou que se livrara de ter que explicar por que disse que “pintou um clima” entre ele e adolescentes venezuelanas, garotas de programa em sua opinião, Bolsonaro sofreu um novo abalo. O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, liberou prefeitos e concessionárias para oferecer transporte gratuito aos eleitores que forem votar no próximo dia 30.

Pode ser um golpe mortal no plano de Bolsonaro de se reeleger. Transporte público de graça diminui a abstenção. E uma abstenção menor, em certas regiões, favorece mais Lula do que a ele. Lula é mais votado pelos pobres, Bolsonaro, pela classe média e os mais ricos. Pobres têm menos dinheiro para sair de casa duas vezes em menos de 30 dias, a classe média e os ricos têm carros.

Políticos como Bolsonaro dizem amar a liberdade, e que dias de votação são dias de se festejar a democracia. Conversa mole. Por eles, só os que os apoiam votariam, os outros ficariam em casa. É a abstenção que talvez decida esta eleição mais do que a economia, a defesa da democracia, a pauta de costumes esgrimida por Bolsonaro, ou o clima que pintou entre ele e as adolescentes.

Lula teria vencido no primeiro turno se em áreas de Minas e do Nordeste que lhe deram uma vitória acachapante sobre Bolsonaro não tivessem registrado índices de abstenção tão gigantescos.

Pelo menos 12 governos estaduais já decidiram transferir o feriado de 28 de outubro, dia do Servidor Público, para outra data. Ele cairia numa sexta-feira, a dois dias das eleições em segundo turno. Nove estados e o Distrito Federal ainda mantêm o feriado na sexta. Os governadores de Minas, segundo maior colégio eleitoral do país, e do Maranhão transferiram o feriado para o dia 31.

No 1º turno, mais de 30 milhões de pessoas não compareceram às urnas e, historicamente, a abstenção é maior no 2º turno. Bolsonaro vai contestar na justiça a decisão do ministro Barroso. Para isso, acionou a Advocacia-Geral da União. A decisão de Barroso será examinada no plenário virtual do tribunal ao longo de hoje, em julgamento previsto para terminar às 23h59. Sabe o que o tribunal decidirá? Dará razão a Barroso. O direito ao voto deve ser assegurado a todos, pobres e ricos. Transporte público gratuito, pelo menos em dias assim. Prefeitos e concessionárias, portanto, que paguem a conta. Quanto dinheiro público não está sendo gasto por Bolsonaro fora das quatro linhas da Constituição só para se reeleger?

Esta é a eleição mais comprada por um presidente desde que a reeleição começou a existir em 1998. O país foi posto em estado de calamidade para que ele gastasse além do permitido. Isso pode?

Por Ricardo Noblat

SÃO NIKOLAS

O vereador e deputado eleitor por Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL-MG) voltou a polemizar com questões referentes à religião. A primeira delas ocorreu durante debate com o também deputado federal eleitor Guilherme Boulos (PSOL-SP), quando Nikolas Ferreira declarou que “Jesus não veio para o mundo para combater a desigualdade. Não veio acabar com a pobreza, ele veio pagar um preço que ninguém poderia pagar”, disse Ferreira.

INGRATIDÃO

De quanta ingratidão o ser humano não é capaz. O general paraquedista Luiz Eduardo Ramos foi o maior cabo eleitoral de Bolsonaro dentro do Estado Maior do Exército entre 2017 e 2018. Ramos gastou muita saliva em favor do seu candidato à sucessão de Michel Temer (MDB), e foi bem-sucedido. Como ministro de Bolsonaro fez tudo o que ele mandou até aqui. Mas logo agora… Agora que Bolsonaro enfrenta o desafio de se reeleger, Ramos sente-se, e com razão, abandonado por ele. Outros ministros, hoje, cercam Bolsonaro. Ramos ocupa-se com tarefas burocráticas. Bolsonaro só tem olhos e ouvidos para os outros, para Ramos, não. E se Bolsonaro se reeleger? E se no próximo governo conceder preferência aos que o ajudaram nos momentos mais difíceis? Haverá ou não lugar para Ramos em um futuro governo Bolsonaro? Ó, dúvida angustiante!

Por Ricardo Noblat

OBEDIENTES

Sabe a última dos militares que voltaram ao poder pelas mãos de Bolsonaro, gostaram tanto que não sairiam de lá tão cedo? Obedientes por formação, a pedido de Bolsonaro, armaram o maior salseiro para desacreditar o processo eleitoral. Bolsonaro disse que em 2018 só não se elegeu presidente no primeiro turno porque houve fraude. Os militares concordaram. Bolsonaro disse que pessoas votaram no número dele e que na urna apareceu o número de Fernando Haddad, candidato do PT.

Por Ricardo Noblat

NO FLOW

A entrevista do ex-presidente Lula (PT) ao Flow Podcast, realizada na terça-feira (18), bateu um recorde que já é visto como histórico neste ano eleitoral: 1 milhão de espectadores simultâneos. Com 1h e 15 minutos de podcast, precisamente às 20h16, um milhão de pessoas estavam escutando ou vendo ao mesmo tempo a entrevista do candidato petista que quer voltar ao Palácio do Planalto. Na entrevista de Bolsonaro, o maior pico de audiência foi de 573 mil espectadores simultâneos no canal do YouTube do Flow Podcast. O programa com Lula ultrapassou a marca de 600 mil pessoas assistindo ao mesmo tempo após cerca de 10 minutos do início da entrevista.

FRASES DA SEMANA

“Vamos fazer um reajuste do Bolsa Família e vamos garantir para cada pessoa R$ 600, e mais R$ 150 por cada filho”. (Lula)

“Olha, as Forças Armadas não fazem auditoria. Lançaram equivocadamente… A Comissão de Transparência Eleitoral não tem essa atribuição. Então, furada, fake news”. (Bolsonaro, que usou os militares para pressionar a justiça com uma auditoria, e que agora esconde os resultados)

O Neymar tem o direito de escolher quem ele quiser para presidente. Eu acho que ele está com medo de, se eu ganhar, descobrir que Bolsonaro perdoou a dívida do imposto de renda dele. Mas, isso não é um problema do presidente, é da Receita Federal”. (Lula)

“Dá pra ver que falta a essas senhoras o mínimo de pudor e de decência. Deveriam ter consciência do alto grau de vulnerabilidade social dessas pessoas”. (Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, sobre o encontro de Michelle e Damares com as meninas do ‘pintou um clima’ com Jair)

“Quem defende a democracia e a liberdade sou eu. Muito mais do que ele, que é um pequeno ditadorzinho”. (Lula, em debate com Bolsonaro)

“Olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, arrumadinhas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na tua casa?’ Entrei, tinha umas 15, 20 meninas. Todas venezuelanas”. (Bolsonaro)

“O Auxílio Brasil: era, em média, R$ 190 o Bolsa Família. Passamos para, no mínimo, R$ 600. Não se transformou em votos. Eu perdi no Nordeste de lavada. Então, ninguém venha falar que é projeto eleitoreiro.” (Bolsonaro, autor do projeto eleitoreiro que não impediu sua derrota)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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Uma resposta para “Os mitômanos querem mentir mais”

  1. Thiago Bezerra Lima disse:

    Por ser um jornalista de renome e conceituado , infelizmente nesse trabalho encheu linguiça
    Esqueceu de falar que o ex presidiário não foi absolvido e que se fosse seguida a lei correspondente e com coerência ele nem estava solto , que no governo do partido do PT ouve bilhões em propinas e outro montante enviado a países que não pagaram suas dívidas assim ficando com os brasileiros a assumir uma dívida que nós não fizemos e não queríamos entre outras coisas que esse mesmo partido desse cidadão fez em 16 anos de governo.
    Esse governo atual teve apenas 2 anos pra mostrar algo pouco tempo , então vamos ser coerente e dar oportunidade de outros fazerem algo por esse país tão belo e maravilhoso
    Forte abraço e obrigado pela oportunidade em expressar minha opinião

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