08/05/2024 - Edição 540

Eles em Nós

O racismo e a cumplicidade da La Liga

É falso que a Espanha não tenha um histórico imundo de racismo: ela é a co-fundadora do racismo moderno

Publicado em 25/05/2023 10:45 - Idelber Avelar

Divulgação Reprodução

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Há alguns elementos na onda de ataques racistas ao Vinícius Jr. e na cumplicidade de La Liga que são de embasbacar.

Em primeiro lugar, é falso que sejam casos “isolados”. Vini é atacado de forma racista das arquibancadas, com conivência dos árbitros, todas as semanas em que joga fora de casa.

Em segundo lugar, é falso que a Espanha não tenha um histórico imundo de racismo: meu Deus, a Espanha é a co-fundadora do racismo moderno!

Em terceiro lugar, também é falso que o futebol não tenha como punir esses casos. Tem, sim, e há um histórico de sucesso relativo nisso em outros países, como a Inglaterra.

Tudo se conjuga para deixar La Liga na posição mais grosseira e grotesca do mundo: o seu melhor jogador, nada menos que o seu único jogador que compete pelo prêmio de melhor do mundo, é atacado com gritos e insultos de “macaco”, vindos de “bem mais de meia dúzia” da arquibancada. O jogo para por 5 minutos, os insultos racistas não cessam, tudo se reinicia, ele leva uma gravata por trás durante longos segundos, se desprende, e leva um cartão vermelho.

Para piorar, um patético presidente de La Liga vem às redes dar lições de moral, culpar a vítima da agressão e cobrar-lhe visitas e reuniões. Na entrevista de Ancelotti — que finalmente se posicionou em defesa de Vini de forma clara –, um patético jornalista da Rádio Marca sugeria que Ancelotti, ao denunciar o racismo, estava ouvindo mal, estava ouvindo “mono” [macaco], em vez de “tonto” [bobo] — isso com vídeos e mais vídeos de provas circulando.

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Que fique claro: o futebol pode punir racismo, sim, e já o puniu efetivamente. Identificando agressores e banindo-os dos estádios; tirando mando de campo do clube agressor; tirando os pontos eventualmente conquistados no jogo; obrigando o clube agressor a jogar de portas fechadas. Todas essas medidas já foram usadas em outros países. La Liga não usou ainda porque não quis. Tecnologia para isso existe.

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Se essa liga de dois times perder o seu maior jogador por racismo (e eu imagino que os Liverpools da vida já estão de olho), será uma daquelas desmoralizações para marcar época de enterro. Vini sairia muito por cima. Em todo caso, o Santander, por exemplo, que é patrocinador de La Liga, já herdou um enorme pepino de relações públicas.

Só espero que Vini tenha tranquilidade pra resolver o que é melhor pra ele, porque é uma briga muito pesada.

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Não costumo replicar posts de jogadores, muito menos do Real Madrid, clube que detesto. Mas Vini tem sido objeto de abuso racista inaceitável, acaba de publicar este tuíte, e eu estou com ele. Replico em solidariedade.

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Idelber Avelar


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