20/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

O ovo da serpente

Tanto as pesquisas quanto o “Datapovo” erraram feio: havia um voto envergonhado que migrou para a extrema direita, e ninguém viu isso

Publicado em 03/10/2022 10:42 - Victor Barone

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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O “Datapovo” errou feio. Previa, segundo o próprio presidente Jair Bolsonaro, uma vitória com mais de 60% dos votos. Não chegaram nem perto disso. As pesquisas eleitorais davam conta de uma diferença de 12 a 14 pontos entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno. Também erraram. No fim das contas, o ex-presidente venceu o atual com uma margem bem mais enxuta, pouco mais de 5 pontos.

O que isso diz sobre o eleitor brasileiro?

Muito se especulará sobre o tema nas próximas semanas. Em um primeiro momento, o que salta aos olhos, é que a extrema direita, o bolsonarismo raiz, está muito mais arraigado na sociedade brasileira do que se imaginava. Um voto envergonhado, escondido na gaveta, aflorou domingo e fez com que a carta do presidente fosse reinserida no baralho.

Os votos obtidos por Lula, pouco mais de 48%, ficaram dentro da margem de erro apontada pelas pesquisas. A novidade foram os votos que inflaram os números de Bolsonaro. O presidente já vinha em uma tendência de crescimento moderado nas últimas pesquisas, mas ninguém imaginava que fosse crescer tanto no primeiro turno.

De onde saíram estes votos?

Ao contrário do que se imaginava, o eleitor de Ciro Gomes, que no dia 28 tinha 7%, terminou a eleição com 3%. Estes votos não migraram para Lula, mas para o Bolsonaro. O voto útil do “cirismo” na reta final da campanha foi todo para o bolsonarismo. A postura de Ciro na reta final da campanha foi determinante para isso.

Outro dado relevante é o que ocorreu em São Paulo. As pesquisas já captavam a queda de Fernando Haddad e o crescimento de Tarcísio de Freitas. O eleitor de Rodrigo Garcia, percebendo isso, fez o voto útil contra o petismo. Rodrigo perdeu 6 pontos e Tarcício ganhou exatamente este percentual.

Havia um voto envergonhado de tendência bolsonarista que as pesquisas não identificaram.

Ou seja. No fim das contas, a guinada à direita, mesmo à extrema, prevaleceu entre os eleitores brasileiros em detrimento de um discurso menos conservador. Como bem resumiu o jornalista Jamil Chade, a isso se soma “a herança que temos de uma sociedade intolerante, racista, incapaz de ver o estado e essencialmente individualista”.

A sociedade brasileira é mais conservadora do que se imaginava.

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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