O longo caminho partindo dos quartéis e voltando para casa

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O eleitor bolsonarista que esteve por meses na frente dos quartéis pedindo um golpe de estado às Forças Armadas tem um longo caminho a percorrer. Ainda existe um pequeno grupo de bolsonaristas na essência, mas esses estão presos no presídio da Papuda em Brasília. Porém, como ficaram aqueles que simplesmente voltaram para suas casas sem golpe, sem mito, sem nada?

Quem já frequentou igrejas evangélicas, já presenciou a divulgação de informações imprecisas, fake news e inverdades para supostamente provar que o povo cristão é melhor que outro povo. Lembro-me de uma oportunidade em 2004, quando uma missionária em uma igreja Batista do Rio de Janeiro exibiu em slides fotos de supostos bebês assados que eram servidos para o jantar em um país não cristão. Foi ali o meu primeiro contato com a fake news a serviço da religião.

Anos mais tarde, a mesma estratégia da utilização de mentiras foi aperfeiçoada para fins políticos. Outra migração que ocorreu dos meios neopentecostais para a militância de extrema-direita foi a reação com o desmentido. Ao mesmo tempo em que um fiel recebe a promessa de um milagre dentro de uma igreja, tempos depois esse milagre não se concretiza no mundo real e ele continua frequentando a mesma igreja, o bolsonarista escutou as diversas e ridículas mentiras sobre a prisão do ministro Alexandre de Moraes ou sobre a morte de Lula, ficou sabendo da verdade, mas continuou no mesmo acampamento que espalhou a mentira.

A forma com que o bolsonarista lida com o desmentido de uma absurda fake news propalada entre os seus é a mesma que o fiel lida com falsos milagres de falsos profetas. Nada muda. Fé inabalável. Porém, ao longo dos dois primeiros meses do ano, os bolsonarista estão passando por provações nunca antes vistas pelo “povo de Deus”. Ao retornarem para suas casas, os fiéis da extrema-direita viram seus missionários destruírem as sedes dos Três Poderes da República e ficaram sem reação. Já tinham visto o Messias fugir com o rabinho entre as pernas para os Estados Unidos e agora começam a enxergar um Brasil real.

A via dolorosa dos bolsonaristas passa pela percepção que os seus reais problemas são a fome, a miséria, a enchente, o meio ambiente, o clima, o desemprego e não o banheiro unissex, a ideologia de gênero e o comunismo. Cada passo rumo às suas casas merece uma reflexão: por que há esse buraco na rua? Por que o ônibus não está passando? Por que o litoral norte de São Paulo sofreu sua maior chuva da história? Por que não há orçamento para a Defesa Civil? O certo é um presidente visitar o local de uma catástrofe ou continuar passeando de jetski nas férias?

A pessoa se tornará um cidadão político da vida real ou continuará acreditando na fake news do milagre que não aconteceu e não acontecerá? Longo caminho de volta para casa.

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