12/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

O infiltrado

Negócio bom é comprar dólar depois da entrevista do Haddad e vender depois da palestra do Campos Neto

Publicado em 21/04/2023 1:25 - Rafael Paredes

Divulgação Reprodução

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O dólar opera abaixo dos R$ 5 desde o dia 11 de abril, depois do detalhamento da proposta do Governo Federal para um novo arcabouço fiscal para o país. A minuta do projeto foi bem recebida pela classe política e pelo mercado. O ministros da Fazenda, Fernando Haddad, apontou os mecanismos da proposta que garantam sustentabilidade fiscal e capacidade de investimentos.

À princípio, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 93/23, que chega ao Congresso Nacional, é responsável. O PLP prevê um aumento do custeio da máquina pública com um limite máximo de 70% do aumento da arrecadação do ano anterior. A proposta atende a necessidade de responsabilidade fiscal e a demanda por investimentos em diversas áreas que o país tanto precisa. A proposição também estabelece regras para momentos de crise ou grande crescimento econômico com base na inflação. A proposta é otimista, pois prevê superávit já no ano que vem.

Com uma proposta boa e responsável, o país poderia voltar a se unir e se respeitar politicamente por meio da economia. Poderia. Mas, há uma anomalia na nossa máquina pública que a imprensa, os empresários e a direita democrática já começaram a identificar: uma bobagem chamada “autonomia do Banco Central”.

No dia 19, o próprio presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defensor da autonomia do Banco, fez críticas fortes à condução da gestão do BC e da taxa de juros brasileira, a maior do planeta. “Nenhum país cresce economicamente com taxa de 13,75%. Peço ao presidente do Banco Central que reveja”, cobrou Pacheco em uma palestra em Londres.

Nada é autônomo ou independente. Pessoas e instituições sofrem pressões de diversas formas e atendem a interesses, sempre. A possibilidade da política econômica ser mais democrática e atender aos anseios da população seria por meio da implementação de um programa aprovado pelo crivo popular, através do voto. Isso ocorre nas áreas de saúde, educação, infraestrutura, etc. Mas, quando chega na política econômica…

O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro nos deixou como herança a autonomia do BC. Antes de aprová-la, o ex-presidente colocou ali um funcionário de banco ultra-liberal: Roberto Campos Neto. Campos Neto é bolsonarista, e é ligado ao programa de governo eleito em 2018, mas derrotado em 2022. Além disso, Campos Neto é um militante do bolsonarismo, de camisa da seleção brasileira e tudo. Atuou na campanha de Bolsonaro oferecendo dados e projeções malucas, que mostravam a vitória do ex-presidente.

Depois de dias com dólar operando abaixo dos R$ 5,00 e a bolsa se valorizando, o Real começa a perder valor novamente. O que aconteceu? Depois do anúncio do arcabouço fiscal realizado pelo ministro Fernando Haddad, do outro lado da rua do espectro político, Campo Neto deu uma palestra em Londres, afirmando que não leu a proposta do Governo, mas classificando-a como “razoável”. Disse também que, apesar da inflação em queda, ela deve crescer em junho.

É ou não é um infiltrado?

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Rafael Paredes


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