11/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

O deputado, o Uber e o monstro

Angústia, tristeza e defesa da democracia

Publicado em 20/01/2023 11:00 - Rafael Paredes

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Acompanhei um amigo deputado federal quando ele retornou à Brasília 10 dias depois do horrível dia 8 de janeiro. No Uber, ele começa a conversar com o motorista de aplicativo sobre os ataques terroristas as sedes dos poderes da República. No meio do relato revoltado do parlamentar com os acontecimentos, o motorista se manifesta: “descobriram tudo já, foram infiltrados do MST.

“Rapaz, você é maluco? Você fala uma bobagem dessa. Sou deputado federal. Foram extremistas Bolsonaristas que fizeram aquilo. E vou lutar com unhas e dentes para que sejam exemplarmente punidos”, respondeu o deputado de centro direita e democrata.

Já no interior da Câmara dos Deputados, no Plenário, o deputado começa a conversar com um policial legislativo que estava de plantão naquele dia na tentativa de golpe frustrado. “Aqui no Plenário eles não entraram. Foi duro. Já evitamos invasão de um número de manifestantes 10 vezes maior, mas tínhamos ajuda da PM. Dessa vez não teve”, relata o agente.

Moro em Brasília há mais de 13 anos, já vi manifestações de mais de 100 mil pessoas. Os manifestantes não chegavam perto da Praça dos Três Poderes. No dia 8, calcula-se menos de 8 mil golpistas na Esplanada dos Ministérios. Esse contingente seria rapidamente dissipado se houvesse algum tipo de vontade de fazê-lo. Não houve antes da intervenção federal na Secretaria de Segurança do Distrito Federal.

O grande problema da repercussão do ataque terrorista em Brasília é acreditar que os bolsonaristas radicais tem força para aquelas ações. Não tem. O que eles têm nessa estranha quadra da história é parceiros de golpismo. Naquela manhã, estive pessoalmente na Esplanada dos Ministérios enquanto havia poucos golpistas nas ruas. Fui fazer minha corrida diária. A relação entre eles e os policiais militares no local era de total confraternização, amizade e selfies. Fui almoçar. Durante o almoço tudo começou.

As forças democráticas, republicanas e institucionais no país ainda são mais fortes. Mas o monstro da extrema-direita encontrou lastro nas forças de segurança e nas Forças Armadas. Mais que prender debiloides arruaceiros, mais que descobrir os financiadores da tentativa de golpe, refundar as polícias e o Exército Brasileiro é ainda mais urgente.

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Rafael Paredes


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