20/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Melhor Jair se acostumando

O jornalista Victor Barone resume a semana política

Publicado em 30/09/2022 12:29 - Victor Barone

Divulgação

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A essa altura, importa que Bolsonaro reconheça os resultados das eleições? Importava quando se temeu o golpe que ele poderia dar com o apoio das Forças Armadas. A dinâmica do processo eleitoral mostrou que o golpe era de vidro e se quebrou. Os militares pularam fora do barco, e, tanto quanto Bolsonaro, estão cercados. Farão um teste particular de segurança em algumas dezenas de urnas eletrônicas. Mas o mesmo teste será feito também pelo Tribunal de Contas da União, o fiscal dos fiscais. “Vieram observar o quê?” – perguntou Bolsonaro sobre a chegada ao Brasil de uma equipe da Organização dos Estados Americanos que veio observar as eleições. Chegarão mais seis ou sete equipes de observadores internacionais com o mesmo propósito.

Sob o comando dos ministros Alexandre de Moraes e Rosa Weber, o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal se impuseram aos golpistas. São eles que ditam as regras e a Bolsonaro só resta obedecer para não ser punido. Adiantou ele ter dito que continuaria gravando suas lives semanais que passariam a ser diárias de dentro do Palácio da Alvorada? Esperneou afirmando que o palácio era sua casa. A mais recente live foi gravada em um espaço acanhado da casa de um assessor.

Diariamente, a campanha de Bolsonaro entra com recursos na justiça pedindo direito de resposta a acusações de adversários. A justiça recusou quase todos. A ministra Cármen Lúcia mandou retirar outdoors com propaganda de Bolsonaro em Brasília. Alexandre autorizou a quebra de sigilo do celular de um ajudante de ordem de Bolsonaro por suspeita de pagamentos irregulares de despesas da primeira família presidencial brasileira. O cafezinho servido a Bolsonaro ainda está quente, mas em breve estará frio.

Se derrotado domingo, Bolsonaro anunciar que não aceita o resultado, acontecerá o quê? Na mesma noite, ou no dia seguinte, os Estados Unidos puxarão o bloco dos mais importantes países do mundo que reconhecerão de imediato o novo presidente eleito.

Bolsonaro fará o quê? O que farão os bolsonaristas fanáticos? Sairão dando tiros por aí? Tentarão invadir os prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal? A Esplanada dos Ministérios em Brasília estará vazia.

Nas demais grandes cidades do país haverá gente nas ruas, mas festejando. Os canhões do Forte de Copacabana estarão silenciosos e os barcos da Marinha atracados. Dificilmente paraquedistas ousariam saltar com medo de bater em prédios.

Por Ricardo Noblat

SOBREVIVÊNCIA

Para sobreviver politicamente a uma eventual derrota e sonhar com a volta em 2026, Bolsonaro não poderá reconhecer o resultado que lhe seja adverso. Dirá que a eleição foi fraudada. É o que ensina a cartilha dos populistas de extrema direita mundo afora. Foi o que fez Donald Trump nos Estados Unidos. Mas, como lá, qualquer tentativa de golpe aqui será malsucedida.

Há dias, Bolsonaro repetiu que só respeitará o resultado das eleições se elas forem limpas. Quem dirá que foram? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os observadores internacionais. Bolsonaro irá se contentar com isso? É claro que não. Eleições limpas, para ele, um filhote da ditadura militar que suprimiu a democracia por 21 anos, são só aquelas que o elegem.

Com urnas eletrônicas e tudo mais, Bolsonaro se elegeu deputado seis vezes e nunca contestou os resultados, ele e os filhos. Em 2002, votou em Lula e quis emplacar o nome do novo ministro da Defesa. Falou em eleições roubadas porque não se elegeu em 2018 no primeiro turno. Como se elegeu no segundo, deixou de falar. Voltou a falar depois da pandemia porque anteviu a derrota. Lembra-se de que ele disse que era preciso salvar a economia senão o seu governo não se salvaria? Que sabotou todas as medidas de proteção da vida adotadas por governadores e prefeitos?

Por pressão dele, o Congresso foi forçado a votar um projeto que restabelecia o voto impresso. Votou e derrotou-o, mas Bolsonaro nunca se conformou. Continua inconformado.

Valdemar Costa Neto, ex-mensaleiro do PT, é presidente do PL. Alugou a legenda a Bolsonaro para aumentar a bancada de deputados federais do partido. Esteve estes dias no TSE. Saiu de lá dizendo que não “há mais sala secreta”; jamais houve, é mais uma mentira de Bolsonaro. Mal saiu, foi divulgado um documento do PL que duvida da segurança das urnas eletrônicas. O documento está em papel timbrado do PL, mas ninguém o assina. Sem apresentar provas, em linguagem eminentemente técnica, sugere que possa haver fraude na apuração dos votos. Não é um documento para ser levado a sério por quem é sério, e esse não é o caso de Valdemar. É só para alimentar a rede de fake news a serviço da campanha de Bolsonaro. É para isso que serve.

Por que Bolsonaro não recomenda aos seus eleitores que se abstenham de votar? E por que não dá o exemplo? Se o sistema eleitoral não merece confiança, o mais lógico é não votar.Votando, compactua com a farsa que teme. Acontece que a farsa só estará consumada se Bolsonaro perder, se vencer, não. Sabe de uma coisa? Bolsonaro, vá para o inferno e deixe o país em paz.

Por Ricardo Noblat

IMPORTANTE

O fato político mais importante da semana foi a nota do governo dos Estados Unidos, postada na conta oficial no Twitter da sua embaixada no Brasil, sobre as eleições do próximo domingo. Com todas as letras, está dito ali que o governo americano avalizará os resultados que vierem a ser anunciados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Parece óbvio? Mas não é. Os militares farão uma apuração paralela à do tribunal para confirmar se não houve irregularidades. Imagine só se concluírem que houve. Então, como ficaremos? Valerá o quê? O veredicto do tribunal ou o dos militares sob o comando de Bolsonaro? Para o governo americano, e por extensão o mundo, valerá o do tribunal. O golpe foi para o beleléu. Em breve, Bolsonaro também irá.

Por Ricardo Noblat

DERROTA FASCISTA

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso suspendeu a cassação do mandato de Renato Freitas na Câmara Municipal de Curitiba, o que tornou legal o registro de sua candidatura a deputado estadual.A liminar apresentada pela defesa de Freitas alegou que houve desrespeito à jurisprudência do Supremo, segundo a qual “a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.” Na Reclamação (RCL) 55948, o vereador ainda afirma que o processo de cassação durou mais que 90 dias, prazo máximo previsto na legislação. Ele relata que o TJ-PR manteve o ato de cassação porque o Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal prevê a prorrogação do prazo de duração do processo.

LAMBE CANO

O vídeo de um idoso lambendo o cano de uma escopeta em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) viralizou na manhã de quarta-feira (28) nas redes. No dia anterior, Bolsonaro voltou a fazer ameaças ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Sua postura histriônica foi comparada nas redes com o vídeo viral e recorrente em todas as eleições da paródia do bunker do Hitler do filme “A Queda, Os Últimos Dias de Hiltler”, de Oliver Hirschbiegel. Nas redes, na reta final da eleição, explodem imagens com Bolsonaro e seus apoiadores fazendo papel ridículo vindas de todas as partes do país.

GENTE DE BEM

Cenas gravadas no centro de Recife (Pernambuco), mostram o professor da escola pré-militar Unibe-Asprem, uma instituição privada, gritando mensagens violentas que são repetidas pelos alunos. As imagens foram enviadas ao site Jornalistas Livres por uma pessoa que não quis se identificar: “Quando vi as crianças atrás, pequenininhas ainda, me deu uma angústia e raiva por não poder intervir. E o pior é que havia várias mães dos pequenos soldados, admirando tudo, achando bonita a preparação dos filhos”. A pessoa avisou ainda que o mesmo professor gritou também palavras de apoio à eleição de Jair Bolsonaro, que eram repetidas pelos alunos. Essas cenas, entretanto, não foram gravadas em vídeo.

A escola Unibe-Asprem, que tem filiais por todo o Brasil e funciona sempre próxima a bases militares, avisa que seu curso é “preparatório Militar focado no desenvolvimento do aluno em todas as frentes importantes para aprovação”. Os estudantes recebem treinamento intensivo para fazer as provas militares, e assim entrar na carreira militar. Acampamentos “preparados para mostrar aos nossos alunos o desafio e a glória de ser um militar”, treinamento físico e “apoio psicológico” são oferecidos.

FRASES DA SEMANA

“Ele [Bolsonaro] semeou dúvidas sobre as urnas, minou as autoridades eleitorais e apelidou seu principal adversário de ‘ladrão’. Fã descarado da antiga ditadura militar, ele incitou sua base eleitoral a ‘ir à guerra’ se a eleição no domingo for ‘roubada’”. (The Washington Post)

“Não tem debate que vire o jogo. Não é possível. A polarização entre eu e Bolsonaro é a mesma que foi entre eu e Fernando Henrique. É a mesma que foi entre eu e José Serra (PSDB). A mesma que foi entre eu e Geraldo Alckmin. É a mesma que foi entre Dilma e Aécio Neves”. (Lula)

“Bolsonaro não é um homem sério, não serve para governar o país. Não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância. Nas grandes democracias, é visto como um ser humano abjeto, desprezível. É preciso votar já em Lula no primeiro turno.” (Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF)

“Minha candidatura está de pé para defender o Brasil em qualquer circunstância, e meu nome continua posto como firme e legítima opção para livrar nosso país de um presente covarde e futuro amedrontador”. (Ciro Gomes, PDT)

“Estou vendo aqui o neto do Brizola, o Leonel. Se o Brizola estivesse aqui, o Brizola estaria junto conosco pedindo ‘fora, Bolsonaro’. Eu tenho certeza disso, eu tenho certeza absoluta que o Brizola estaria do nosso lado”. (Lula. Brizola foi o vice dele na eleição de 1998)

“Quero dizer ao candidato Jair Bolsonaro: não cutuque onça com a sua vara curta”. (Soraya Thronicke, candidata do União Brasil a presidente da República)

“Só políticos de esquerda podem ser pardos? Isso é hipocrisia”. (ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, candidato do União Brasil ao governo da Bahia)

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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