11/05/2024 - Edição 540

Conexão Brasília

Lula pega carona num avião, imprensa lavajatista, nova ascensão da extrema-direita, Lula salva a democracia com 97 anos

Foi por indícios frágeis como esses que membros da operação Lava Jato identificaram a oportunidade de ascender ao poder

Publicado em 17/11/2022 10:17 - Rafael Paredes

Divulgação

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O presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva vem governando o país mesmo antes de tomar posse. Lula teve que antecipar os trabalhos porque o ex-presidente em exercício, Jair Bolsonaro, transformou o país inteiro em seu divã particular. Tristinho, não sai de baixo da cama, não para de chorar e os enormes desafios do país já estão no colo de Lula (agendas internacionais e a pauta climática) e do vice-eleito, Geraldo Alckmin (garantir recursos para o funcionamento do Estado Brasileiro a partir do ano que vem).

Apesar de todo esse contexto, parte da imprensa continua atraída por miudezas que forjaram o caráter anti-petista de parte da sociedade brasileira. Lula, um homem civil, sem cargos públicos, aposentado, ao ser convidado para participar do mais importante evento sobre mudanças climáticas da ONU, pegou carona em um avião de um empresário para comparecer.

A carona para Lula não se configura crime, falta de ética, imoralidade, nada. Mas o antipetismo, que investiga o preço do relógio de Lula e da blusa de sua esposa, achou relevante notabilizar a forma como o presidente eleito chegou ao encontro no Egito. Fretar um avião exclusivo para o presidente eleito custaria mais de R$ 1 milhão. Empresas e organizações presentes ao evento ou compraram suas passagens há meses ou pagaram caro por passagens e já estão no evento há semanas por falta de linhas aéreas e conexões.

Antes de embarcar, Lula já tinha 10 encontros bilaterais com lideranças de outros países. No Brasil não há nenhuma legislação que impute deveres, mas também direitos de um presidente eleito. Essa é uma discussão que precisa ser feita: garantir segurança e transporte das proporções de um chefe de Estado para o eleito.

Depois que o presidente Lula deixou a Presidência da República em 2011, uma dor de cabeça para o então homem comum foi onde guardar os presentes que recebeu de todo o mundo. Lula era uma liderança mundial, ex-presidente da sexta economia do planeta, chamado de “o cara mais popular do Mundo” pelo então presidente americano Barack Obama e deixou a presidência com mais de 85% de aprovação popular.

O acervo de um presidente é de responsabilidade do Estado, mas de um ex-presidente é de responsabilidade do próprio. Em dois mandatos, Lula foi presenteado com duas vuvuzelas de plástico com miçangas coloridas na parte exterior por lideranças da África do Sul. Da Arábia Saudita, veio uma pasta executiva de couro sintético verde, de aparência meio anos 70, dada por um magnata local. De El Salvador, a chave da cidade de San Salvador, em metal dourado. Do Japão, uma chaleira em cerâmica. E, de Moçambique, dois tronos esculpidos em madeira maciça. Informações do jornal El País.

A responsabilidade de guardar toneladas de presentes ficou a cargo do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Okamotto procurou empresários para bancar um armazém para as quinquilharias. Pronto! Para o Ministério Público estava configurada mais uma faceta do maior esquema de corrupção do universo (alerta ironia). O corruptor seria o dono da construtora OAS, Léo Pinheiro, que pagou o armazém para os variados presentes recebidos por Lula.

Léo Pinheiro foi preso, teve seu depoimento tomado diversas vezes até entender que tinha que ligar Lula ao caso para ser solto e ter parte de seus bens recuperados. Depois disso todos conhecem o que se seguiu, prisão de Lula e etc. Tempos mais tarde, Léo Pinheiro afirmou em carta que não houve crime e nem envolvimento do ex-presidente.

E assim se seguiu a história, Lula ficou preso por 580 dias, saiu da prisão pelo fato de não ter seu caso julgado até a última instância e foi considerado elegível por não ter tido um juízo competente e imparcial. Neste período, o país experimentou um governo desastroso de extrema-direita, uma gestão criminosa da pandemia, a volta da fome no país, crises institucionais e ameaças anti-democráticas.

Com a liberdade e elegibilidade de Lula, o país conseguiu ter uma alternativa democrática competitiva e pode construir caminhos que enterrem a ameaça fascista. Porém, se a imprensa e parte do Ministério Público voltar a ter métodos lavajatistas de investigação, Lula terá 97 anos quando precisarmos dele para o vértice desse looping.

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Rafael Paredes


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