09/05/2024 - Edição 540

Ágora Digital

Jair se foi

O Brasil não precisa de “paizinhos”, de “líderes supremos”, de “guias”: precisamos de brasileiros capazes de pensar

Publicado em 30/12/2022 3:30 - Victor Barone

Divulgação Victor Barone - Midjourney

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Jair se foi.

E com ele um ranço, uma sensação de nada, um cansaço na alma.

Estamos todos mais leves, menos rígidos, menos travados.

Jair se foi, mas deixou entre nós mais violência, mais preconceito, mais homofobia, mais misoginia, mais xenofobia, mais fome, mais loucura, mais perplexidade, mais destruição, mais gente armada, mais raiva, mais ódio…

Jair se foi, mas os frutos do fascismo permanecerão entre os brasileiros por bastante tempo ainda, mesmo com Jair lá longe, na Disneylandia.

Estes quatro anos de bolsonarismo nos mostraram quem somos enquanto povo, pelo menos no que se refere a uma parcela muito significativa da população. Uma gente desconectada da realidade, carente de heróis e de mitos fundadores, sebastianista ao extremo, mal informada, ressentida, pobre de espírito, de direitos e de deveres.

O bolsonarismo descortinou um Brasil que sempre esteve por aí, mas que fingíamos não ver. Entre nossos parentes, amigos, colegas de trabalho, ele, este vírus que sempre esteve latente em parte da nação, aflorou, deixando todos nós impotentes, contaminados, doentes de corpo e espírito.

Os últimos quatro anos mostraram o que tínhamos de pior enquanto nação.

Passado este longo período de terror, proponho uma reflexão: o Brasil não precisa de “paizinhos”, de “líderes supremos”, de “guias”. O Brasil precisa de brasileiros capazes de pensar, de brasileiros solidários e capazes de sentir o outro.

Vale lembrar que nossa derrocada (ética, moral, humana) não foi fruto apenas destes quatro anos de caos. O Brasil construiu isso desde que os primeiros europeus aqui chegaram. Violência, usurpação, clientelismo, fundamentalismo religioso, patrimonialismo. Tudo isso nos forma enquanto nação.

À direita e à “esquerda” (entre aspas, pois a noção de esquerda que por aqui se formou está longe dos valores que, para mim, caracterizam o socialismo) , fomos domados pelo populismo dos mais baratos, agrilhoados pela violência do poder, imbecilizados por gente que deveria nos servir.

O novo ano está aí, e não pretendo com esta reflexão alimentar ainda mais a tristeza que tem nos acompanhado nestes últimos anos. É um momento de esperança, de olhar para o futuro. Que possamos, então, nos libertar de tudo isso que nos impede de sermos uma nação.

Que 2023 seja o início de um renascer para todos nós, brasileiros.

Nós precisamos merecer isso…

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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