08/05/2024 - Edição 540

True Colors

Extrema-direita usa teologia violenta contra LGBTs para controle social, diz Henrique Vieira

Pastor comentou ascensão dos evangélicos e os desafios da esquerda com cristãos brasileiros

Publicado em 07/07/2023 9:54 - Yuri Ferreira (Fórum), RBA – Edição Semana On

Divulgação Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

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Em entrevista ao programa Fórum Café, o deputado federal e pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) comentou as falas recentes do pastor André Valadão e a ascensão do conservadorismo evangélico dentro do nosso país.

“É majoritariamente popular, majoritariamente de mulheres e majoritariamente negro. É uma fração da classe trabalhadora brasileira no nosso país. Agora, de fato tem um conservadorismo predominante, mas não unânime, e de fato existe um fundamentalismo evangélico muito vinculado à extrema-direita e ao bolsonarismo que tem penetrado fortemente nas instituições”, disse.

“Há uma violência desse setor evangélico”, disse. “A gente precisa saber identificar esse fundamentalismo e combatê-lo firmemente, pedagogicamente, porque esse fundamentalismo é autoritário e violento”, completou o deputado.

“Se entregar o evangélico para extrema-direita, nós temos um problema, porque é uma fração cada vez mais numérica da classe trabalhadora do nosso país”, disse.

Sexualidade, conservadorismo e controle

Nesta segunda-feira, um vídeo de André Valadão pedindo a morte das pessoas LGBTQIA+ em seu palanque da Igreja Batista da Lagoinha viralizou nas redes sociais. As imagens chocaram e causaram revolta de diversos setores da sociedade, inclusive dentro do governo Lula. Vieira, que é pastor evangélico e deputado federal do campo da esquerda, comentou o caso.

“Dentro de uma determinada teologia cristã hegemônica a sexualidade sempre foi um problema”. afirmou. “A sexualidade como fonte de prazer, de liberdade, como uma experiência constitutiva da humanidade, sempre foi um problema para uma teologia baseada culpa e no medo”, disse.

Henrique relembrou a violência contra as pessoas LGBTQIA+. “Corpos domesticados inclusive em sua sexualidade são corpos mais interessantes a um sistema de controle e de medo. A diversidade sexual desmonta esse castelo, ela afirma a força da individualidade e da singularidade, então ela é um problema para o sistema ultraconservador”, diz.

“Há uma teologia agressiva a partir de uma leitura não-filtrada pelo Cristo”, diz. “Tem a ver como uma forma de interdição de controle da sexualidade”, disse.

Valadão é alvo de ações do Ministério Público Federal

O Ministério Público Federal (MPF) apresentou ontem (6) um pedido à Justiça para que retirem, imediatamente, os discursos de ódio do pastor André Valadão nas plataformas YouTube e Instagram. Valadão fez declarações discriminatórias contra a população LGBTQIA+. Ele chegou a incitar a violência física, explicitamente. O MPF ainda pede uma multa de R$ 5 milhões pelo crime.

A ação requer a condenação do pastor, exigindo que ele arque com os custos de produção e divulgação de contrapontos aos discursos proferidos. Isso significa uma retratação financeira pelas ofensas.

Durante o mês de junho deste ano, o pastor André Valadão promoveu uma campanha intitulada “Orgulho não” ou “No Pride”. Em suma, ele destilou preconceito de uma forma sem precedentes em seus perfis nas redes sociais.

As postagens claramente possuíam referências discriminatórias em relação à população LGBTQIA+, uma vez que a palavra “orgulho” era apresentada com as cores da bandeira símbolo do movimento. Primeiramente, durante uma transmissão ao vivo de um culto religioso no YouTube, em 4 de junho, André Valadão associou repetidamente as vivências das pessoas homoafetivas a um comportamento desviante, pecaminoso, imoral e, portanto, algo a ser odiado e rejeitado.

Preconceito puro e criminoso

Durante sua pregação, o pastor insultou a honra e a dignidade dos indivíduos LGBTQIA+. Então, ele utilizou expressões como “amaldiçoados”, “nojentos”, “antinaturais” e “dignos de ódio”.

No dia 2 de julho, em outra transmissão ao vivo, Valadão elevou ainda mais o tom de ódio e violência. Ele incitou os fiéis a cometerem assassinatos contra pessoas LGBTQIA+.

Em trecho do culto, após mencionar que “se Deus pudesse, mataria todos para recomeçar do zero”, o pastor disse: “Está com você. Empurre uns quatro ao seu lado e diga: vamos para cima!”. A fala do líder religioso é claramente um estímulo à violência física contra pessoas dessa comunidade que já se encontram em uma situação de vulnerabilidade social.

Sem desculpas para o Valadão

Na ação, o MPF enfatiza que o discurso propagado nas várias redes sociais vai além da liberdade religiosa e de expressão. É ressaltado o tom agressivo permeado de ataques à população LGBTQIA+. Ali, claramente, existe a intenção de incentivar os fiéis a estigmatizar, isolar e agredir fisicamente essas pessoas. Além disso, outros pastores criticaram a disseminação de discurso de ódio por parte de Valadão. Isso porque ele usa trechos descontextualizados da Bíblia para justificar declarações preconceituosas.

A procuradora da República Ludmila Oliveira, responsável pela ação, afirmou que “a liberdade religiosa deve ser preservada e, certamente, os pastores podem continuar a citar a Bíblia em seus cultos. No entanto, não é admissível o discurso que vai além e promove a discriminação e incitação à violência física contra a população LGBTQIA+, o que não está protegido pelo manto da liberdade religiosa e de expressão”.

Ofício

O MPF, então, enviou um ofício às empresas Meta (responsável pelo Instagram) e Google Brasil (responsável pelo YouTube), solicitando que analisassem o vídeo e as postagens de André Valadão e os submetessem à moderação de conteúdo. O objetivo é verificar a violação das políticas de combate ao discurso de ódio dessas plataformas.

Apenas o Google respondeu ao pedido ministerial, afirmando que o vídeo foi revisado e não foi removido. De acordo com eles, não houve violação das Diretrizes da Comunidade. Eles sequer apresentaram outras justificativas.

No entanto, como destacado durante o procedimento que embasa a ação, não apenas o MPF aponta a ofensa às políticas de combate ao discurso de ódio das plataformas. Eles também evidenciam vários comentários de usuários das redes sociais, ressaltam o caráter discriminatório e homofóbico das postagens do pastor. Esse comportamento reiterado de André Valadão, ao divulgar vídeos com falas agressivas e um verniz bíblico, tem a intenção de atrair atenção. Para além disso, garantem exposição, visualizações e comentários em suas postagens, que geram, inclusive, remuneração por parte das plataformas.

Portanto, o MPF tomou a iniciativa judicial para solicitar a remoção do conteúdo discriminatório e ilícito identificado, considerando que as plataformas não tomaram nenhuma medida mesmo sendo expressamente solicitadas a moderar o conteúdo de acordo com suas próprias políticas. “Vale ressaltar que a inércia das plataformas cria um ambiente de anomia, que dá a sensação de que existe um direito absoluto à liberdade de expressão que permite que as pessoas humilhem, ofendam a dignidade, incitem ódio e exclusão de grupos vulneráveis, inclusive em uma escalada violenta, como visto no presente caso”, destaca trecho da ação.

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Equipe Semana On

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