19/05/2024 - Edição 540

Ponte Aérea

Batendo com amor

Publicado em 03/06/2022 12:00 - Raphael Tsavkko Garcia

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E o que é interessante (e lamentável) é que os mesmos crimes cometidos pela turma do lado certo da história são simplesmente apagados, jogados pra debaixo do tapete. Dilma mandou exército ocupar favelas? Mas era com amor. Belo Monte? Besteira, já passou.

Lei antidrogas do Lula encarcerou mais jovens negros do que Bolsonaro jamais sonharia? Mas Lula é uma mulher negra de grelo duro, então tá perdoado em nome de Edir Macedo!

Quando a gente tem movimentos que basicamente existem pra passar pano pra "esquerda" mesmo quando ela faz igual ou pior do que a pior direita, a gente entende o buraco em que estamos.

Aí resta xingar na internet, denegrir a imagem do amiguinho e reclamar que o próprio termo denegrir é racista porque algum dia a pessoa acordou e pensou "nossa, como eu vou aparecer hoje e me sentir relevante pra causa mesmo sem fazer absolutamente nada?"

E olha que no fim das contas toda a guerra civil nos EUA acabou virando um pastiche identitário com cancelamento em universidades, com gente tentando demitir outras por falarem algo errado (dentro da concepção radical-militante), com gente gritando que piadas são violência e achando que derrubar estátua vai ser o motor da grande revolução cultural do século XXI.

Roe vs Wade não caiu à toa. Militância política como um todo virou um jogo de cenas, mera estética revolucionária que não altera em nada o caminhar da história (em muitos casos em direção ao abismo).

Você pode derrubar estátua, tacar fogo em meia cidade, mas os mass shootings seguirão, a demolição de direitos sociais seguirá, porque a revolta (em certos casos compreensível, mas em geral vazia) não constrói nada.

Não se trata de uma crítica à revolta, mas sim da forma, da manifestação dessa revolta e da completa ausência de propostas reais, concretas e possíveis por trás de tudo.

NA JUGULAR

A Mariliz Pereira Jorge foi na jugular!

Tem vagabundo que vira presidente, mas não vamos generalizar

MARILIZ PEREIRA JORGE

Jair Bolsonaro ficou fulo da vida quando questionado sobre a ação da PRF no episódio de tortura e assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe. Deu chilique básico de gente autoritária, disse que será feita justiça "sem exageros". Não faço ideia do que seja "justiça sem exageros", mas pelo visto é mandar os diretores dispensados da corporação para uma temporada nos EUA.

Genivaldo foi asfixiado em uma viatura. Tudo filmado por uma enorme plateia, mas as perguntas que incomodam Bolsonaro são culpa da mídia que "sempre tem um lado, o da bandidagem". "Não podemos generalizar", disse. Sobre a ação criminosa da polícia, só silêncio. A passada de pano habitual de quem defende que a ditadura deveria ter matado 30 mil.

Senhor Jair, não posso falar por todos, mas há fartos indícios de que a "mídia" queira ver marginal na cadeia. Prova disso, o senhor não sai do noticiário. Então é o senhor que não pode generalizar. Eu, por exemplo, tenho horror a bandidagem, mas não acredito que bandido bom seja bandido morto. Muito menos quem é inocente

Bandido bom é bandido processado, julgado e condenado. Espero que seja esse o seu destino, de seus filhos e da penca de políticos canalhas que o cercam. Tudo "dentro das quatro linhas da Constituição". Sem exageros, sem tortura, sem sprayzinho de pimenta ou cano de escapamento na cara, mas em cana.

Bandido para o senhor é qualquer pobre, preto, considerado vagabundo pela polícia. O que não falta é bandido de terno, imunidade parlamentar e Deus da boca pra fora. O senhor ficaria horrorizado em saber que tem vagabundo que usa dinheiro público para comer gente, desvia pagamento de funcionário para o próprio bolso, interfere na PF, prevarica, difama o sistema eleitoral, vaza informações sigilosas para atacar o TSE. Veja só, tem vagabundo que se elege presidente e não trabalha.

É bandido da pior espécie, mas não vamos generalizar.

Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

FSP 31.05.2022

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Victor Barone

Jornalista, professor, mestre em Comunicação pela UFMS.


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