As crianças para Bolsonaro

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No deserto de argumentos quando questionadas por que vão votar para reeleger o presidente Bolsonaro, algumas mulheres respondem: voto pelos meus filhos. O voto em Bolsonaro para salvaguardar as crianças é uma nuvem rala com nenhuma base na realidade. São valores difusos, moralismo barato e ausência de dados que alicerçam a frágil ideia.

Nesta quarta-feira (26), a Fiocruz, órgão do Ministério da Saúde, divulgou que o número de internações diárias de recém-nascidos por falta de comida é o maior dos últimos 14 anos. Diariamente oito brasileirinhos são internados com desnutrição nos hospitais do país. Em 2021, foram quase 3 mil bebês nessa situação e 2022 caminha para ser ainda pior com um aumento de 7% para o período.

Muitas mães alegam que temem que suas filhas tenham de frequentar banheiros unissex em escolas, caso o ex-presidente Lula vença as eleições no próximo dia 30. Essa é mais uma fakenews, semelhante a mamadeira de p… que viralizou nas eleições em 2018. Essa estratégia chama-se pânico moral, que engana incautas, mas serve de argumentos para a ausência de defesa melhor de seu voto.

Esse tal banheiro unissex nunca existiu como proposta de Lula e apenas esconde o que há de verdade nas escolas brasileiras. No governo do presidente Bolsonaro passaram cinco ministros da Educação e todos deixaram um lastro de incompetência, fanatismo ideológico, maluquices e corrupção. Nenhum programa, nenhuma ação, nada foi proposto pelos titulares que se sucederam na Pasta. Desde 2017 não há reajuste para o repasse da merenda escolar das crianças nos municípios. Muitas escolas estão servindo suco em pó e bolacha para aplacar a fome dos pequenos.

No orçamento para o ano que vem não há previsão para a aquisição de 12 milhões de livros que faltam nas escolas públicas. Este é um governo em que faltam livros, mas não faltam histórias. Como a história da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves, que relatou uma escabrosa narrativa de exploração e tráfico de crianças contada no púlpito de uma igreja, em detalhes sórdidos e na presença de outras crianças. Até hoje Damares não conseguiu provar os relatos e parece mesmo ter se utilizado de uma baixíssima estratégia eleitoral.

Esse governo não tem compromisso com a segurança alimentar, com a educação, com a dignidade e com a saúde das crianças. O presidente Bolsonaro afirmou em entrevista que nenhuma criança morreu por COVID no Brasil. Segundo os dados do próprio Ministério da Saúde, duas crianças morreram a cada dia pela doença nos primeiros dois anos da pandemia. No total, quase 1500 famílias foram destroçadas com o que há de mais triste nesse mundo: um caixão pequeno, como ilustra o escritor moçambicano Mia Couto.

Nunca na história do país houve tamanha flexibilização para aquisição de armas de fogo. Hoje, há mais armas nas mãos de civis, que com as forças de segurança, entre policiais e Forças Armadas. O registro de armas cresceu 478% de 2018 para cá e a importação de armas é o maior dos últimos 25 anos. Essa flexibilização no porte, na posse no transporte e do número de armas que alguém pode ter em casa é a principal política de segurança do atual governo. Porém, ela não diminui a criminalidade e vitima também as crianças.

A cada uma hora, uma criança ou adolescente morre por arma de fogo no Brasil, muitas dessas crianças são vitimadas por brincarem e tiros acidentais. Crianças também se envolvem em mortes de adultos pela presença da arma de fogo em uma residência.

Esse governo foi perverso e em especial com as crianças. Tem como mandatário um presidente que, ao se deparar com possível caso de exploração sexual de meninas estrangeiras, ao invés de agir como um chefe de Estado, tira o capacete ao passear de moto, faz charme e “sente um clima”.

Perdoem, mães bolsonaristas. Vocês estão votando em Bolsonaro por qualquer outro motivo, menos pelos filhos de vocês.

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